HUMOR: Somos todos bananas
Breve resumo pra você que esteve fora do planeta: no fim de semana, no jogo Barcelona x Villareal, Daniel Alves, lateral do Barça e da seleção, respondeu à agressão racista da torcida adversária, que atirou bananas em campo, descascando e comendo uma delas antes de cobrar um escanteio. Pois não é que esse gesto genial, seja premeditado ou seja espontâneo —sobretudo pelo desdém aos idiotas racistas, pela convicção com que os colocou no seu lugar—, rendeu acaloradas discussões no país da "Piada em Debate"? (Saudosa "TV Pirata".)
De progressistas indignados com os "brancos da Globo" pela hashtag #somostodosmacacos (iniciada por Neymar, que na Europa parece ter se dado conta de que é negro, como Daniel Alves) até criacionistas que odeiam Darwin e acham essa história de macaco um absurdo (sei lá se eles entraram na POLÊMICA, mas devem ter entrado), os chatos-do-debate se atiraram à discussão como famintos a um prato de comida. Como se alguém tivesse dito que TODA vítima de racismo deveria agir como Dani Alves —seria absurdo, mas não li isso em lugar algum. E como se a parceria com uma agência necessariamente desqualificasse a ação de Neymar, em vez de ser vista como o jogador fazendo uso de seu poder.
Meu amigo David Butter já escreveu sobre o incômodo dessas pessoas bem-intencionadas com o fato de jogadores de futebol falarem por si mesmos, dispensando-as como porta-vozes. Que o gesto antropofágico de Daniel Alves (lá do além, Oswald de Andrade faz joinha), em vez de inspirar manifestações diferentes e igualmente criativas, seja bombardeado dessa maneira só mostra que a hashtag mais adequada a muitos desses brasileiros que fazem barulho nas redes sociais é #somostodosbananas. (Menos eu, que sou goiaba.)
- Vigilância Sanitária Literária. Este bar está interditado.
- Ei, peraí! Não vai me deixar nem terminar a cerveja quente e o pastel frio?
- Sinto muito, amigo. A literatura que vocês produzem aqui é imprópria para o consumo. Olha aqui, a validade deste livro venceu na década de 80!
- Assim não é possível. Outro dia interditaram por causa do barulho. É essa vizinhança coxa-reaça que não gosta de gente boêmia, artista, MUITOLOKA como nós e insiste nessa coisa classe média de querer dormir.
- Amigo, se vocês tivessem escrito meia página do "Ulysses" —não tô pedindo nem uma; meia— podiam fazer o barulho de dez torcidas do Corinthians às 5h da manhã. Infelizmente, não é o caso. Fica interditado até vocês pararem de "escrever com os colhões" —ou aprenderem a não pôr a caneta na boca depois. Boa noite.
Na foto acima, vemos o Estimado Líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, cercado de mulheres que se descabelam por ele, apesar desse corte de cabelo e da eterna cara de gordinho paga-lanche. Qual o segredo dessa sedução, desse magnetismo animal? Óbvio: o cara é dishquerrrda. Basta chegar no ouvidinho das meninas falando da "via norte-coreana para o socialismo" por cinco horas, que elas ficam loucas. CHORA, PONDÉ.
RUY GOIABA de vez em quando vai ao bar que a Vigilância Sanitária Literária interditou, mas jura que escreve com a caneta nas mãos mesmo. E acha que uma pitada de ditador Kimzinho dá um sabor especial à coluna.
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