Factoides

HUMOR: No covil do Exército de Libertação da Cura Gay

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Previously on "Lost": A fumaça preta das manifestações enche o país de fuligem. Ermenegildo Pinto, Raulzito e Bom Selvagem, os "cangaceiros mortos-vivos", vão para a Bahia investigar a conexão entre Brasil, Egito e Axé-Music. Mas Gal aparece berrando e diz que Daniela Mercury e Malu Verçosa foram sequestradas pelo Exército de Libertação da Cura Gay. Nossos heróis, claro, decidem salvar as gostosas. Para ler o capítulo dois, clique aqui.


Daniela Mercury e Malu Verçosa estavam amarradas a duas poltronas. Em frente a elas tinha uma tela gigante onde fotos de homens sarados e sem-camisa se sucediam velozmente. Os membros do Exército de Libertação da Cura Gay cercavam as duas, armados de porretes. Escondido nas sombras, o líder do grupo gritava ordens:

"Issooo! Agora põe a foto de um cara bem musculoso, com barriga de tanquinho e gotículas de suor brilhando sobre o peito nu! Ui! Quero só ver se elas resistem..."

As moças berravam desesperadas:

"Acuda, ôxe!"

"Socorro, gente!"

"Decolaaaar pontocom!"

Escondidos num canto, eu e os outros cangaceiros mortos-vivos planejávamos como salvar as gostosas. Quer dizer, eu planejava. Raulzito e Bom Selvagem só sabiam reclamar.

"Aí, mano, parou! Não vou lá na frente rebolar e falar que sou viado não, ô, vacilão!", dizia o sósia do roqueiro morto.

"É pra salvar as gostosas, porra!", eu explicava, com paciência dialética, a práxis da estratégia. "Os caras do Exército de Libertação da Cura Gay correm atrás de você e o Bom Selvagem vai lá e dá um cacete no líder do bando!", acrescentei.

Aí foi a vez do índio guacamole-keynesiano se invocar. Ô saco!

"Índio não dar cacete ninguém. Gigante acordar, exploração acabar. Índio só ir se homem branco de língua bifurcada pagar cem reais."

"Aí, mano, é cenzinho na minha mão também!", completou Raulzito.

O problema do Brasil é a esculhambação. Não tem clima pra Baader-Meinhof. Sai, no máximo, Chitãozinho-Xororó.

Crédito: Edson Aran

Enquanto isso, Malu e Daniela Mercury urravam em desespero ("Pare, ôxe! Desliga, ôxe! Não aguento mais, ôxe!"). Algo precisava ser feito. Negociei cinquentinha pra cada um dos malacos e eles toparam. Raulzito foi lá pra frente e mandou ver.

"Aí, mano, eu assino a 'Men's Health'! Eu adoro a Lady Gaga! Não perco uma luta do Anderson Silva e amo o Jean Willys, tá ligado?"

Os caras antigay ficaram putos e saíram correndo atrás dele de porrete. Enquanto isso, Bom Selvagem foi lá e desceu o cacete no líder do bando. Eu, claro, fui desamarrar Dani e Malu. Aproveitei para perguntar se elas não queriam ir lá em casa escutar João Gilberto e ver se não rolava alguma coisa bacana. As duas me enfiaram a mão na cara e foram embora, se beijando na boca. Ingratas!

Enquanto isso, o guaraná-KatePerry trazia, arrastado, o líder do Exército de Libertação da Cura Gay. O sujeito usava máscara do Anonymous, mas eu sabia quem estava por trás da cara de plástico do Guy Fawkes. Só podia ser o nefando deputado Marco Feliciano (PSC-SP), é claro!

"Aí, ô, coisa ruim", eu falei, "Seus dias de vilania acabaram!"

Por trás da máscara, o sujeito choramingava.

"Mas eu tenho boas intenções, gente. O coitado do gay vê um cara de torso nu, sarado, todo suadinho, de barriga marcadinha e tatuado... ai!... e sai correndo atrás, coitado. Eu só quero ajudar o infeliz a se conter!"

Pensei em explicar a ele que numa sociedade laica, cada um faz o que quer entre quatro paredes. Vale tudo, inclusive muita língua e dedo, sem falar em vibradores tailandeses e roupas de Slave Leia. Mas achei melhor mudar de assunto. Discutir com fundamentalista é igual falar com crítico de música. Eles vivem num mundo à parte.

Então puxei a máscara de Guy Fawkes para revelar o rosto do meliante anti-boiolagem.

E meu mundo caiu!

Não apenas caiu, como despencou e se espatifou no chão.

Alguma coisa estava fora da ordem mundial. Fora da nova ordeeeem mundiaaaal.

Pois debaixo da máscara de Guy Fawkes não estava o Marco Feliciano!

Quem estava debaixo da máscara de Guy Fawkes era o... Mark Zuckerberg!

Bom Selvagem enfiou a mão no bolso, tirou a nota de cem e me devolveu.

"Ermenegildo língua bifurcada poder ficar com dinheiro de índio. Se for pra dar porrada Zuckerberg, índio fazer até de graça..."

(SEMANA QUE VEM: O PLANO MAQUIAVÉLICO DE MARK ZUCKERBERG FINALMENTE REVELADO!).


EDSON ARAN é autor de cinco livros. O mais recente, "Delacroix Escapa das Chamas" (Editora Record), é uma sátira futurista passada na São Paulo de 2068. Sua série de cartuns "O Totalmente Dispensável Almanaque Inútil do Aran" é publicada mensalmente no "Folhateen". Ele foi diretor das revistas "Playboy", "Sexy" e redator-chefe da "Vip". É um tuiteiro compulsivo e sua conta é @EdsonAran.

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