Tony Goes

A invasão dos mortos-vivos

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Por que será que os Estados Unidos estão obcecados pelos zumbis? Eles são os monstros do momento. Desbancaram os glamurosos vampiros, que têm um estilo de vida caro demais para a crise econômica que engole o país.

É impressionante o sucesso da série "The Walking Dead" ("Os Mortos que Andam", em tradução livre). A segunda temporada estreou por lá há alguns dias, no canal a cabo AMC, com números impressionantes: cerca de 11 milhões de espectadores, mais do que a maioria dos programas exibidos pela TV aberta.

No Brasil foi ontem, pela Fox. Já havia assistido a alguns episódios no ano passado, e fiquei curioso para entender o que atraiu tanta gente. Não consegui chegar ao segundo bloco.

Crédito: Divulgação Cena da nova temporada de "The Walking Dead", da Fox
Cena da nova temporada de "The Walking Dead", da Fox

"The Walking Dead" é muitíssimo bem feita, com personagens bem desenvolvidos e direção que não deve nada aos melhores filmes de ação. Mas, no fundo, as tramas repetem sempre a mesma sequência: corre, que os zumbis vão te pegar!

Zumbis são muito limitados dramaticamente. Não têm personalidades próprias, não têm "sex-appeal", não despertam compaixão. Os dinossauros de "Terra Nova", outra série recém-estreada na Fox, também não fazem muito mais do que perseguir suas vítimas. Mas são de espécies diferentes (algumas totalmente fictícias), o que confere um mínimo de variedade aos roteiros. Zumbis são todos iguais.

Mas o público americano adora seus mortos-vivos, e não é de hoje. Nos filmes clássicos de George Romero, eles eram uma metáfora da sociedade de consumo, vagando a esmo pelos corredores dos shoppings. Hoje talvez representem as massas empobrecidas, lutando pela sobrevivência quando todo o resto já lhes foi negado.

Ainda prefiro os vampiros. A quarta temporada de "True Blood" (HBO), encerrada há três semanas, foi meio desconjuntada, com uma "overdose" de criaturas sobrenaturais e uma certa falta de foco. Mas os chupadores de sangue pelo menos têm senso de humor. Os mortos-vivos só querem comer o seu cééérebro.

Baseada numa HQ, "The Walking Dead" já está transcendendo o status de "cult" e atingindo um público cada vez maior. Podemos projetar um milhão de significados sobre os zumbis e tentar ver neles um reflexo dos medos modernos. Só não me peçam para assistir a um episódio completo. Além de nojentos e aflitivos, esses monstrengos não têm muito assunto.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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