Tony Goes

Zachary Quinto e os riscos de sair do armário

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Um ator pode assumir sua homossexualidade e continuar fazendo sucesso? Esta pergunta continua sem resposta, pois existem poucos exemplos concretos na vida real. Alguns se deram bem, outros sumiram nas curvas da estrada. Vamos ver o que acontece agora com Zachary Quinto.

O intérprete do jovem dr. Spock na última versão para o cinema de "Jornada nas Estrelas" saiu do armário durante uma entrevista à revista "New York". A notícia repercutiu no mundo inteiro. É um fato inédito: nunca antes em Hollywood um ator em ascensão havia tomado tal atitude.

Será que Quinto cometeu suicídio profissional? No mínimo, ele abriu mão de uma carreira como "leading man" no cinema, ou protagonista: dificilmente será escalado para filmes de ação ou comédias românticas. Mas parece estar mais interessado em papéis substanciosos no teatro e na TV. E já está confirmado na continuação de "Jornada nas Estrelas", que estreia em 2012.

O mundo é cruel com os atores que se assumem. Rupert Everett estava fantástico como o confidente gay de Julia Roberts em "O Casamento do Meu Melhor Amigo", mas não foi indicado ao Oscar - os comentários eram de que ele não estaria "interpretando", pois seria parecido demais com o papel. No ano passado, um crítico da revista "Newsweek" escreveu que Sean Hayes, que fez o faiscante Jack na série "Will & Grace", não convencia como hétero pegador na remontagem do musical "Promises, Promises", na Broadway. Detalhe: o tal do crítico também é gay.

Para os cantores parece ser mais fácil. Elton John, George Michael e Ricky Martin já passaram pelo apogeu de suas carreiras, mas seguem firmes e fortes. Continuam vendendo discos e lotando shows. E o mais impressionante é que não perderam fãs depois de terem se declarado homossexuais.

E no Brasil? Simplesmente não há casos parecidos. Tirando alguns grandes nomes do teatro que já estão acima do bem e do mal (Raul Cortez nunca escondeu sua bissexualidade), não me lembro de um único ator razoavelmente conhecido que tenha se assumido gay.

Claro que eles existem, e aos montes. Mas parece que por aqui impera uma versão da política do "não pergunte, não fale" que vigorou até pouco tempo atrás no exército americano.

Pelo menos ninguém mais precisa posar com namoradas imaginárias, e alguns até circulam em público acompanhados de seus respectivos. As revistas de celebridades respeitam a privacidade desses artistas: não fazem perguntas indiscretas nem ficam de tocaia em frente a suas casas.

No que eu acho que fazem muito bem. Sair do armário é um ato corajoso e um exemplo a ser seguido, mas ninguém merece ser arrancado de lá à força. É uma decisão de caráter estritamente pessoal, e quem prefere ficar lá dentro precisa ser respeitado.

Mas as coisas estão mudando. O público parece se importar cada vez menos com o que os famosos fazem entre quatro paredes. Logo chegará o dia em que um ator do nível de Zachary Quinto assumirá sua homossexualidade em público, e ninguém mais dará a mínima.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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