Tony Goes

Como é que Gretchen ainda é assunto?

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É impressionante a longevidade de Gretchen. Não como cantora, é claro: seu último grande sucesso foi "Melô do Piripipi (Je Suis la Femme)", e lá se vão quase trinta anos. De vez em quando ela ainda grava alguma coisa -- mas alguém aí sabe cantarolar "Fio Dental", lançada no ano passado?

Gretchen assume com orgulho o título de "Rainha do Rebolado", mas o povo lhe atribui outro reinado: o do bumbum. Se bem que sua coroa pertence mesmo é ao reino das sub-celebridades. Ela não é exatamente famosa por ser famosa, mas já faz um certo tempo que teve alguma relevância.

Ainda assim, semana passada ela brilhou na internet, e só foi ofuscada quando o caldo do Rafinha Bastos engrossou. Aqui mesmo, no F5, as manchetes se sucediam diariamente: Gretchen foi flagrada trabalhando como garçonete nos EUA! Gretchen assume a nova carreira! Gretchen desmente tudo e diz que foi um golpe publicitário!

Crédito: Reprodução/Facebook Gretchen trabalhando como garçonete nos EUA
Gretchen trabalhando como garçonete nos EUA

Oi? Como assim? Não sei mais no que acreditar. Aliás, não me importo, e aposto que a maioria das pessoas também não. No entanto, nossa fascinação por Gretchen continua firme. Parece que estamos sempre esperando pela próxima derrapada, o próximo mini-escândalo, a próxima volta por cima. E assim por diante.

Na época em que ainda havia uma MPB "oficial", de "bom gosto", e uma espécie de "MP do B" paralela, com públicos bem separados, Gretchen imperou absoluta nesta última. Suas canções animadérrimas, produzidas pelo argentino Mr. Sam --este também um personagem e tanto-- tocavam sem parar nos radinhos de pilha e nos programas de auditório.

Não era a única a explorar o filão nádego-musical, mas o tempo tragou cantoras similares como Sarajane ("vamos abrir a roda, enlarguecer") e Sharon ("vem cá, meu bem, fazer uma massagem for man"). Sua única contemporânea que ainda resiste na mídia é Rita Cadillac.

Depois dessa fase de glória, na virada dos 70 para os 80, Gretchen meio que sumiu. Continuou fazendo shows e lançando discos, mas não atraía mais a atenção da imprensa. Em meados dos 90, tornou-se evangélica e chegou a regravar seus antigos hits com letras religiosas. Alguns anos depois, nova reviravolta: já com uma idade considerável, fez um filme pornô com seu então marido (teve tantos que até ela deve ter perdido a conta).

Nesse ponto, tanto ela quanto Rita lembram vedetes argentinas como Moria Casán, que permanecem como símbolo sexuais mesmo depois de entradas em anos. Gretchen tem carisma e é desenvolta em frente às câmeras, mesmo quando está apenas dando uma entrevista. Mas nem esse desembaraço todo foi suficiente para elegê-la prefeita de Itamaracá (PE), cargo a que concorreu em 2008.

Por outro lado, ajudou-a a manter-se em evidência. Duvido que Gretchen conte com assessores tão maquiavélicos quanto os de Adriane Galisteu, que conseguem transformar qualquer passeiozinho em capa de revista. Mas a nossa rainha do lumpen-estrelato tem o dom, consciente ou não, de virar notícia. Nem que para isto tenha que se expor, em todos os sentidos - e, quase sempre, expõe mais do que queríamos ver.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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