Tony Goes

Gisele e a campanha de lingerie: certo ou errado?

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Imagine um comercial de sunga voltado para o público gay, estrelado por um modelo lindo e musculoso. Primeiro ele está de terno e gravata. Abre um sorrisinho para a câmera e diz: "amor, bati o seu carro". Surge um letreiro na tela: errado! Em seguida, o bofe aparece só de sunga. "Amor, bati o seu carro - de novo." Certo!, lê-se no letreiro.

Anúncio reforça a mulher como objeto sexual?
Gisele dona de casa é pior que Gisele de lingerie, diz leitora

Será que algum órgão governamental iria reclamar? Talvez uma ONG que lute pelos direitos igualitários? Ou quem sabe uma "barbie" mais sensível, ofendida por mais uma vez ter sido retratada como um mero objeto sexual?

Claro que não. Porque os gays masculinos também são homens, e sabem que desejo de homem é assim mesmo. Homem sente tesão instantâneo, não importa se for hétero ou homo. E quando bate o tesão, ah, nada mais interessa. Nem mesmo se o foco desse desejo acabou de bater o carro. De novo.

Crédito: Bob Wolfenson/Divulgação A propaganda em que Gisele Bündchen aparece de lingerie pode ser suspensa
A propaganda em que Gisele Bündchen aparece de lingerie pode ser suspensa

É por isto que é absolutamente ridícula essa tentativa da Secretaria de Política para Mulheres de proibir a nova campanha da Hope. Nenhuma marca de lingerie da face da Terra deixa de usar o apelo erótico na hora de vender seu produto. Conforto, praticidade, tudo o mais vem em segundo plano. O objetivo número 1 da lingerie é provocar tesão.

E os três comerciais protagonizados por Gisele Bündchen conseguem ser sensuais sem ser apelativos. São leves, divertidos, bem escritos. Além do mais, o insight em que eles se baseiam é totalmente verdadeiro: quando um homem tem sua libido provocada, ele se esquece de todo o resto.

Evidente que a mulher ainda é discriminada de inúmeras maneiras. Dentro de casa, no mercado de trabalho, na participação política. Mas aquelas feministas antiquadas que lutam contra o desejo do homem --e contra a vontade da mulher de ser desejada-- estão remando não só contra a história, como também contra a biologia.

Agora o Conar, o órgão de auto-regulamentação dos publicitários, vai julgar se as queixas contra a campanha são procedentes. Tudo pode acontecer: ano passado este mesmo conselho tirou do ar o comercial da cerveja Devassa com Paris Hilton, onde ela aparecia vestida o tempo todo.

Se os filmes da Hope forem de fato proibidos, isto não será vitória nenhuma para a causa feminista, e sim mais um sintoma da onda de conservadorismo babaca que assola o país. O erotismo é usado muitas vezes de maneira errada na propaganda, mas não neste caso. Aguardemos a decisão do Conar. Ainda resta uma esperança.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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