Tony Goes

Luciano Huck, a Madonna brasileira

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Nunca deixo de me espantar com o sucesso do Luciano Huck. O cara não é um talento natural em frente às câmeras: está longe de ter o puxão gravitacional de uma Hebe Camargo, por exemplo, que atrai feito um buraco negro todas as atenções ao redor de si.

Nos primeiros tempos de vídeo, Huck não tinha o menor traquejo. Chamava as atrações para o palco aos gritos, como se estivesse na Festa do Peão Boiadeiro. Feioso, narigudo, sem carisma, parecia muito menos aparelhado para a TV do que rivais bonitinhos como Celso Portiolli ou Gugu Liberato.

No entanto, hoje está a anos-luz da concorrência, e só fatura menos do que Faustão e Silvio Santos. É presença incontornável nos intervalos comerciais, onde aparece anunciando de banco a lâmina de barbear. E o mais impressionante é que seu programa, "Caldeirão do Huck", não é exatamente um mega-campeão de audiência.

Crédito: Estevam Avellar/TV Globo O apresentador Luciano Huck durante o programa em comemoração ao seu aniversário
O apresentador Luciano Huck durante o programa em comemoração ao seu aniversário

Sim, é o líder do horário: o ingrato horário dos sábados à tarde, quando um número enorme de televisores está desligado. Raramente Huck supera os 20 pontos no Ibope - um número respeitabilíssimo para qualquer emissora, mas não um fenômeno estrondoso que justifique tanta capa de revista.

Mas então, como foi que ele conseguiu chegar lá? Com inteligência, esperteza e muita cara-de-pau. O garoto judeu de classe alta, que começou a carreira como sócio de bar de mauricinhos em SP e estreou na TV fazendo colunismo social, poderia ter se transformado numa versão mais jovem do Amaury Jr.. Mas, ao chegar na Globo, Huck soube optar pela emergente classe C, e se deu bem.

Seu programa mistura músicas das paradas de sucesso com assistencialismo escancarado, sem nunca cair na apelação tão comum entre os concorrentes. Quando entrevista alguém, Huck não está preocupado em demonstrar cultura. Conversa com qualquer um sem a menor pretensão, e o público se identifica com ele.

Também sabe manipular a mídia como ninguém. Ao lado de Adriane Galisteu, domina a arte de transformar em manchete qualquer ida a restaurante. Foi um dos primeiros que identificou o crescimento da imprensa de celebridades no Brasil, e surfou nessa onda com vontade.

O programa que comemorou seu 40o. aniversário, sábado passado, reuniu estrelas de vários quilates e foi um beija-mão apropriado para um cara que chegou ao epicentro do show business brasileiro, mesmo não sendo o mais fotogênico ou o mais cativante. Neste ponto, ele lembra Madonna: a cantora que mais vendeu discos na história nunca deixou que um detalhe como sua voz limitada atrapalhasse seus planos de dominação global.

O que vem a seguir? Comenta-se que Huck tentaria a carreira política. Contatos na área ele já tem: figurões como José Serra ou Sérgio Cabral costumam frequentar os eventos promovidos por seu instituto. No sábado, Preta Gil disse que um dia ele será presidente do Brasil. Não duvido.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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