Tony Goes

Morde, assopra, exagera e entorta

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É melhor o Walcyr Carrasco se cuidar. Se o autor de "Morde e Assopra" levar um escorregão nos próximos dias e precisar de uma fisioterapia para aliviar as dores, é bem possível que o profissional que for cuidar dele acabe lhe estirando um músculo. De propósito.

Brincadeirinha, é claro. Fisioterapeutas são gente da maior integridade, e jamais seriam capazes de um golpe tão baixo contra o novo inimigo no. 1 da classe. Também são muito, muito suscetíveis.

Estou fascinado com a reação excessiva de alguns fisioterapeutas ao equívoco cometido por Carrasco num capítulo recente da novela. Um enfermeiro se apresentou como auxiliar de fisioterapia: pelo jeito, uma heresia gravíssima, já que são necessários ao menos cinco anos para se conseguir um diploma da área.

A frase, desimportante para o desenrolar da trama, já teria sido esquecida se não tivesse ferido alguns brios feito uma seta envenenada. Já contei três comunidades no Facebook conclamando um boicote a "Morde e Assopra" (deve haver mais). Os comentários dos que se sentiram insultados são veementes: Carrasco não teria o menor gabarito para assinar o que quer que seja; é burro, preconceituoso, venal; e a culpa não é só dele, é de toda a rede Globo e seus milhares de funcionários.

Menos, né, pessoal? O autor errou sem querer. Além do mais, pode nem ter sido ele quem escreveu a fala em questão - vai ver que foi um de seus assistentes. Escapou, ninguém viu, foi mal aê. Acidentes acontecem - aliás, como vocês bem sabem.

A princípio, Carrasco ironizou as críticas e prometeu pelo Twitter que iria criar um fisioterapeuta malvado, que "entortaria" as pessoas. Para quê? Seus detratores agora lhe fazem ameaças veladas. "Espera só você precisar de fisioterapia. É só uma questão de tempo".

Sou publicitário, e minha profissão é frequentemente mal retratada em filmes e programas de TV. Aparecemos fazendo coisas que jamais faríamos na vida real, e na maioria das vezes somos os vilões da trama. O personagem é egocêntrico, mau-caráter e não dá a menor atenção à família? Pode apostar que é publicitário. Mas nem por isto pego em tochas e ancinhos para atacar os responsáveis.

Enfim, Carrasco já afirmou que vai se retratar num próximo capítulo. Isto talvez não baste para aplacar a sede de sangue dos mais exaltados nas redes sociais. Essa turma precisava de menos espírito vingativo e mais senso de humor. Ou, talvez, de mais o que fazer.

Pronto: agora fui eu quem melindrou a categoria. Melhor andar com muito cuidado nos próximos dias. Um escorregãozinho, uma reles torção de pé, e ai de mim se eu precisar de uma fisio.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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