Candidatura de Datena ao Senado é um grande desafio para a Band
Apresentador deixa seu novo programa dominical em momento delicado
José Luiz Datena estava cansado do jornalismo policial. Queria se dedicar ao entretenimento, depois de anos dedicados à cobertura das tragédias do cotidiano.
A Band relutou muito, mas acabou cedendo. Passando por um período de reestruturação interna e reformulando sua grade de programação, a emissora concordou em tirar o apresentador do vespertino “Brasil Urgente” e dar a ele uma extensa faixa horária nas concorridíssimas tardes de domingo.
Datena deixaria o gênero em que se tornou referência – e onde reinava soberano, depois da morte de Marcelo Rezende, em 2017 – para competir diretamente com Faustão, Eliana e Rodrigo Faro, em uma praia que nunca foi a dele.
“Agora é com Datena” estreou no final de abril, se arrastando por intermináveis seis horas. A audiência foi baixa – três pontos de média na Grande São Paulo – e as críticas, impiedosas. O apresentador estaria pouco à vontade, sem o traquejo de auditório necessário para atrações desse tipo.
Os ajustes não tardaram. A duração foi encurtada, e o jornalismo passou a ocupar cada vez mais espaço. No dia 27 de maio, “Agora é com Datena” alcançou um resultado expressivo no Ibope – 4,8 pontos de média, com pico de 7,4 – ao dedicar boa parte do tempo à greve dos caminhoneiros.
Parecia que o programa havia encontrado seu rumo. Com uma pegada mais jornalística, seria uma opção real na TV aberta aos concursos musicais e histórias de superação oferecidos pela concorrência.
A alegria durou pouco. Datena, que já havia cogitado se candidatar ao governo do estado de São Paulo em 2014, agora é pré-candidato a uma vaga no Senado pelo DEM, em coligação com o PSDB de Geraldo Alckmin e João Doria.
Politicamente, a estratégia faz sentido: com Datena na chapa, Alckmin e Doria reforçam a ideia de que investirão pesadamente em segurança, atraindo eleitores que estariam tentados a votar em Bolsonaro.
Mas, para a Band, é um pesadelo. O canal passa por um momento delicado, em que tem apenas um sucesso indiscutível de audiência e faturamento: o reality culinário “MasterChef”, que já apresenta sinais de desgaste depois de anos no ar.
Datena será substituído aos domingos por seu filho Joel, que já vinha ocupando o antigo lugar do pai no “Brasil Urgente”. Mas o rapaz ainda é um nome relativamente novo no showbiz, e entrará em briga de cachorro grande.
O acordo firmado com a Band prevê que o contrato com Datena não será rompido durante a campanha eleitoral: ele apenas não receberá salário durante o período.
Mas o que acontecerá se ele for vitorioso nas urnas? Manterá o programa, ou se dedicará exclusivamente ao cargo de senador? A legislação proíbe que os candidatos tenham programas, mas não os eleitos. Datena conseguirá conciliar as duas carreiras? Ou optará pela política?
O suspense nos corredores da Band deve ser grande.
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