Anúncio dos indicados ao Oscar teve provocação sutil a Donald Trump
Desde que eu me entendo por cinéfilo, o anúncio das indicações do Oscar seguia um mesmo padrão. Diante de uma centena de jornalistas caindo de sono, um representante da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e um ator famoso liam os nomes dos indicados das principais categorias. De vez em quando, a plateia reagia com aplausos ou gritos de espanto.
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Este ano resolveram inovar. Ao invés da cerimônia ao vivo, a Academia produziu um vídeo apresentado por indicados e vencedores do maior prêmio do cinema americano. Nem todos eram imediatamente reconhecíveis, como o diretor Jason Reitman (indicado por "Amor Sem Escalas", 2009) ou o roteirista Dustin Lance Black (ganhador por "Milk: A Voz da Igualdade", 2008).
O resultado conseguiu ser simpático e frio ao mesmo tempo. Foi divertido, por exemplo, ver Gabourey Sidibe se gabando de que conseguir uma indicação foi fácil para ela (como melhor atriz por "Preciosa: Uma História de Esperança", 2009). Por outro lado, a voz feminina que lia em off os nomes dos indicados era tão emocionante quanto a de um robô.
Mas foi perceptível o esforço da Academia em demonstrar diversidade. Entre os apresentadores havia homens, mulheres, brancos, negros, jovens, idosos, héteros, gays, gordos e magros.
E ainda houve um tapa com luva de pelica na cara de Donald Trump. A presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs (que é negra), convidou o mexicano Demián Bichir (indicado como melhor ator por "Uma Vida Melhor", 2011) para dividir com ela o anúncio dos indicados ao prêmio mais importante de todos, melhor filme.
As indicações em si também foram bem mais diversas que as dos últimos dois anos, que não incluíram nenhum negro nas quatro categorias de atuação. Em 2016, o escândalo foi tão grande que gerou até um hashtag de protesto nas redes sociais, #OscarsSoWhite (Oscars tão brancos).
Desta vez, nenhum desses quatro troféus tem apenas brancos no páreo. Entre as cinco indicadas a atriz coadjuvante, há nada menos que três atrizes negras, das quais uma é franca favorita: Viola Davis, por "Fences".
Também há negros entre os candidatos a melhor ator (Denzel Washington, por "Fences", que ele também dirigiu), melhor atriz (Ruth Negga, por "Loving", desbancando as cotadíssimas Amy Adams e Annette Bening) e melhor ator coadjuvante (Mahershala Ali, por "Moonlight - Sob a Luz do Luar"). Essa categoria ainda indicou um ator de origem indiana, Dev Patel (por "Lion: Uma Jornada para Casa").
Sem falar que, entre os nove indicados a melhor filme, há três títulos onde o elenco principal é todo negro: "Fences", "Estrelas Além do Tempo" e "Moonlight", cujo diretor, Barry Jenkins, também foi indicado em sua categoria.
Então os Oscars finalmente tomaram vergonha na cara? Também, embora seja inegável que em 2017 há mais filmes de temática negra com chances de prêmios do que nos anos anteriores.
Mas a Academia de Hollywood não ia perder a oportunidade de fazer um manifesto político, ainda que sutil. Vamos ver agora se Trump irá distorcer com fatos alternativos a ligeira bofetada que levou.
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