Tony Goes

'Stranger Things' não tem nada de estranho, por isto faz tanto sucesso

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Disponibilizada pela Netflix no dia 15 de julho, a primeira temporada da série “Stranger Things” virou febre instantaneamente no Brasil.

Em poucos dias surgiram fanpages, grupos de discussão e até piadas no site de humor “O Sensacionalista”, tirando sarro de quem ainda não se rendeu ao programa.

O sucesso é tão grande que a jovem atriz Millie Bobby Brown gravou uma mensagem de agradecimento aos fãs brasileiros.

Também viralizou um vídeo que ladeia cenas de “Stranger Things” com longas dos anos 1980, a década em que se passa a trama do seriado. Ali fica claríssima a razão do estouro: já vimos esses filmes antes.

​​Inspiração, referência ou plágio? Não importa. O que interessa é que o resultado final lembra um bolo de chocolate. Não traz nenhuma novidade, mas é delicioso e remete à infância.

Até surpreende que “Stranger Things” não seja produzida por Steven Spielberg. Muitos elementos da série vêm do universo do diretor: a ambientação num subúrbio americano, a turma de garotos, os cientistas malvados, as lanternas no escuro com os fachos voltados para a câmera.


Sequências inteiras foram tiradas de “E.T., o Extra-Terrestrre”, “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, “Os Goonies”, “Gremilins”, “Poltergeist” e outros títulos do cânone spielbergiano.

Mas não só dele: também dá para perceber a influência de “Conta Comigo”, “A Hora do Pesadelo”, “Alien”, “Scanners” e dezenas de outros filmes.

Até mesmo o tipo de letra usado no logotipo lembra as antigas edições dos livros de Stephen King, outra fonte evidente.

O resultado vai além da mera familiaridade: o espectador sente uma espécie de conforto espiritual ao ver “Stranger Things”, como se estivesse de volta ao tempo em que podia ver “Sessão da Tarde” todos os dias.

Stranger Things” é perfeita tecnicamente. Magnificamente bem decupada e editada, com uma fotografia excepcional para a televisão e um primoroso trabalho de design de som.

Também tem um elenco fantástico: da veterana Winona Ryder, que finalmente renasce do escândalo que quase enterrou sua carreira (em 2001, a atriz foi pega surrupiando uma bolsa de uma loja de luxo) ao novato Gaten Matarazzo, irresistível com seus dentinhos escondidos.

Já o roteiro não passa do eficiente. Tem sustos, mistérios e emoções, mas nenhuma grande reviravolta ou revelação inesperada.

Nem precisava. “Stranger Things” serve até para o espectador descansar de séries mais ousadas, que exigem muita atenção e raciocínio. Porque nos leva de volta a um passado que parece muito mais simples do que os tensos dias de hoje, onde o único problema sério eram os monstros de outra dimensão.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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