Tony Goes

Com a série 'Sense8', os Wachowski repetem que você pode 'ser' outra pessoa

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Andy e Lana Wachowski nunca mais fizeram um filme bom depois do primeiro "Matrix". Seus trabalhos posteriores foram todos espetaculares visualmente, mas com roteiros para lá de confusos e pretensiosos.

"A Viagem", de dois anos atrás, falava de reencarnação e tinha um elenco estelar, mas era uma bagunça e fracassou nas bilheterias. O mais recente, "O Destino de Júpiter", recebeu críticas tão ruins que eu deixei passar batido.

Agora a dupla de diretores volta em grande estilo com o seriado "Sense8", cuja primeira temporada está disponível no Netflix. A trama foca em oito personagens totalmente distantes entre si, que no entanto compartilham da mesma sensibilidade telepática: um policial de Chicago, uma ativista transexual de São Francisco, uma DJ islandesa que vive em Londres, um ladrão de Berlim, uma farmacêutica de Mumbai, uma lutadora de Seul, um ator da Cidade do México e um motorista de Nairóbi.


Só que nada disso importa. A explicação por trás desse grupo de sensitivos pode ser qualquer coisa. A mensagem que os irmãos Wachowski querem passar está na superfície: qualquer um de nós pode ser outra pessoa. Qualquer um de nós "é" outra pessoa.

Esta mensagem está presente em toda a obra deles. O Neo (Keanu Reeves) de "Matrix" vivia ao mesmo tempo em duas realidades paralelas. Cada um dos personagens de "A Viagem" passava por muitas vidas ao longo dos séculos. Até mesmo a protagonista de "O Destino de Júpiter" (que eu não assisti), uma reles faxineira, descobria ser uma princesa vinda de outro planeta.

Este tema da, digamos, "transpessoalidade", é um reflexo da vida real de um dos irmãos Wachawski. Larry agora é Lana. E, assim como a transexual de "Sense8", Lana mudou de gênero, mas não de orientação sexual. Nascida homem, hoje ela é uma mulher lésbica.

Se o espectador tiver isto em mente, a busca por uma resolução para os mistérios de "Sense8" perde todo o sentido. O que realmente interessa está escancarado desde o primeiro capítulo: um é todos, todos somos um. Diferentes e iguais. Entendido isto, pode-se desfrutar plenamente de uma das melhores séries lançadas este ano.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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