Tony Goes

Por que tantas subcelebridades não conseguiram se eleger?

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Já foi mais fácil para uma celebridade entrar para a política. Nos anos 60, o pugilista Éder Jofre elegeu-se várias vezes deputado. Mais tarde, a atriz Bete Mendes foi uma das primeiras parlamentares eleitas pelo PT.

Os tempos eram outros, claro. Não havia internet, os partidos eram poucos e a concorrência era bem menor. Uma carreira política ainda não era vista como saída para quem já tinha queimado todas as demais possibilidades.

Além do mais, os brasileiros eram ainda mais despolitizados do que são hoje. A ditadura militar inibia a participação política e muita gente não fazia a menor ideia de quem votar - apesar do voto ser obrigatório, como ainda o é.

A redemocratização trouxe muitas mudanças, e o avanço da tecnologia ainda mais. Hoje em dia, já não basta ser famoso para ser eleito.

E para quem está um degrau abaixo da verdadeira fama - gente que ficou conhecida mais pelas circunstâncias da hora do que por talentos próprios - a coisa realmente ficou feia.

Que o digam Diego "Alemão", Mulher-Pera, Kid Bengala, Ricardo "Cigano Igor" Macchi, Fael, Dr. Rey e tantos outros Brasil afora. Todos concorreram nessas últimas eleições; nenhum foi eleito.


O mesmo aconteceu com gente como Marcelinho Carioca ou Sula Miranda. Eles não precisaram de reality shows para alcançarem a fama, mas já passaram do apogeu.

A primeira lição que se tira daí é que, para vencer nas urnas, é preciso estar na mídia. Não adianta ter estado anos atrás: tem que ser agora, nem que esta mídia seja o próprio horário eleitoral.

Vejamos o caso do Tiririca. O palhaço estava meio esquecido, mas ocupou praticamente todo o espaço que sua coligação tinha na TV. Usado como puxador de votos para outras candidaturas, foi o recordista de 2010 e reeleito com folga em 2014.

Portanto, se você é uma subcelebridade que quer se candidatar, escolha um partido ou uma coligação que lhe dê bastante importância. Não adianta ficar escondida no PXYZ do B, que não tem visibilidade.

A outra lição, e mais importante, é que a sua candidatura precisa significar alguma coisa para o eleitor. Tiririca, por exemplo, é um voto de protesto - e isto apesar dele ter sido o deputado mais assíduo da história de Brasília, tendo comparecido a 100% das sessões da Câmara.

Já Maria Melillo não significava nada para ninguém ali de si mesma. A campeã do "BBB 11" fez campanha dizendo que "venceu o 'Big Brother' e venceu o câncer". Legal, pensou o eleitor, e eu com isto? Esta, Maria perdeu.

Muitos dos famosos que se reelegeram em 2014 tiveram desempenhos marcantes no Congresso, como Romário, Jean Wyllys e até o próprio Tiririca. Isto não quer dizer que alguns novatos em política não chegaram lá, como o cantor sertanejo Sérgio Reis.

Então fica a dica: para se eleger, é preciso ter mídia e significado. Mas se uma subcelebridade já significa pouco em tempos normais, o que dizer da época das eleições?

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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