Tony Goes

Reação da internet à morte de Robin Williams foi surpreendentemente madura

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Quando Amy Winehouse morreu, há pouco mais de três anos, o "tribunal da internet" foi impiedoso. Os comentários nos sites que trouxeram a notícia eram quase todos negativos: Amy "mereceu" o fim que teve, pois "drogou-se porque quis". Poucos internautas pareciam compreender que a cantora britânica sofria de uma doença chamada dependência química.

Episódios semelhantes ocorreram logo após os falecimentos de Whitney Houston e Philip Seymour Hoffman, ambos por overdose. Apesar de terem seus talentos aplaudidos, os dois artistas também foram acusados de fraqueza de caráter e coisas ainda piores.

É verdade que nenhum famoso precisa morrer para ser condenado ao inferno pelos moralistas de plantão. Que o diga Vera Fischer, massacrada por ter bebido um pouquinho numa noite de carnaval. Ou mesmo Betty Faria, que cometeu a imperdoável ofensa de usar biquíni depois dos 70 anos de idade.

Por tudo isto, eu estava esperando que o suicídio de Robin Williams arrancasse reações parecidas. Além de ter tirado a própria vida, o ator lutava há décadas contra o álcool e a cocaína —um prato cheio para quem exige que uma celebridade leve uma vida de santo. Mas não foi bem desse jeito que aconteceu. Claro que um ou outro espírito de porco não se fez esperar, mas foram surpreendentemente poucos. Mesmo assim, é incrível como ainda existem imbecis que acham que a depressão é só um "mimimi" exagerado.


Mais numerosos foram os que reclamaram da piada infeliz que Williams fez quando o Rio de Janeiro foi anunciado como a sede das Olimpíadas de 2016: a delegação brasileira teria seduzido o Comitê Olímpico Internacional com "50 strippers e meio quilo de cocaína".

E no entanto, a imensa maioria dos comentários veio de pessoas que estavam sinceramente tristes com a morte de Robin Williams. Um internauta chegou a escrever que sentia que tinha perdido um tio querido.

Esta talvez seja a chave para entender tantas demonstrações de solidariedade. O auge da carreira de Williams se deu vinte anos atrás, quando muitos dos marmanjos de hoje ainda eram pequenos.

Quase todos seus filmes daquela época eram acessíveis ao público infanto-juvenil: "Aladim", "Sociedade dos Poetas Mortos", "Jumanji" e muitos outros. Apesar de enfrentar monstros em sua vida pessoal, a face pública do ator era alegre e liberada para menores.

Acho que foi por ter feito parte da infância de tanta gente que ele agora é "perdoado". Vai ver que também estamos mais maduros, e começando a entender que um quadro depressivo é uma doença tão grave quanto o câncer ou a Aids.

Robin Williams foi um dos maiores comediantes de todos os tempos. É reconfortante perceber que os juízes virtuais estão pegando leve com ele.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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