Reação a 'Clarina' mostra que o Brasil está se acostumando ao beijo gay
Mais uma vez, o país se dividiu nas redes sociais. De um lado, estavam os que gostaram do beijo entre as personagens Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller) da novela "Em Família" (Globo). Do outro, os que não gostaram —porque acharam tímido demais.
Saí à procura de reações contrárias ao beijo em si. Fui até em site evangélico. Claro que encontrei, mas surpreendentemente poucas. Ainda mais se lembrarmos que qualquer coisa que passe na TV é imediatamente fustigada pelos "trolls" da internet.
A coisa foi bem diferente em janeiro passado. O beijo entre Félix e Niko, que encerrou a novela "Amor à Vida" (também da Globo), repercutiu até fora do Brasil. Tratada como segredo de Estado, a cena teve três versões gravadas, e a emissora manteve o mistério se algumas delas iria ao ar até o último segundo.
Dessa vez não houve suspense. A própria Globo divulgou imagens do beijo lésbico na semana passada, avisando que ele seria exibido no capítulo desta segunda-feira (30). Foi uma ação de marketing para elevar a audiência? Óbvio que foi. É para levantar a audiência que os canais divulgam imagens de seus programas, não é mesmo?
Clara e Marina se beijaram logo no primeiro bloco. Foi uma cena longa e enternecedora, com mãos entrelaçadas e olhares em calda. O beijo foi só um detalhe, e nem serviu como gancho para o intervalo.
Ao longo de sua carreira, Hebe Camargo tascou selinhos bem mais "calientes" nas bocas de suas convidadas. Isto frustrou algumas espectadoras, especialmente aquelas que se dizem parte do "fandom" (base de fãs) da dupla "Clarina". Foram elas que mais reclamaram.
Mas onde estavam os homofóbicos? Os defensores da família? Os que dizem "nada contra, mas sou contra"? Bem poucos deram o ar de suas graças. Eu até me dei ao trabalho de vasculhar o Facebook. Encontrei uma comunidade recém-criada chamada "Beijo Lésbico", ilustrada com o beijo entre as personagens. Parecia ser a favor, mas era contra. E tinha exatamente três curtidas.
Enquanto isto, no Twitter, a hashtag "Beijo Clarina Vencendo o Preconceito" subia aos primeiros postos dos "trending topics". Até a Globo o adotou num dos tuítes de sua conta oficial, para delírio dos "fandoms".
E mesmo assim, não houve o clima de final de Copa do Mundo que rodeou o beijo gay de "Amor à Vida". Nem a favor, nem contra. Daquela vez, o fato de serem dois homens ampliou a polêmica: duas mulheres se beijando são bem mais aceitas na sociedade machista em que vivemos.
Mas o fato é que o beijo gay perdeu o sabor de novidade, e também está perdendo o de pecado. Virou corriqueiro, banal, parte da paisagem. Isto é ótimo: sinal de que o Brasil está ficando um pouquinho mais adulto.
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