Tony Goes

Fãs do One Direction não deixaram a vizinhança do hotel dormir

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Moro ao lado de um dos hotéis onde as estrelas internacionais da música pop costumam se hospedar em São Paulo. Isto quer dizer que estou acostumado a uma certa aglomeração na calçada e a um certo volume de algazarra, principalmente aos sábados. Não é raro que os fãs mais exaltados permaneçam horas ao relento, esperando por um adeuzinho de seus ídolos.

Mas nada me preparou para o furdunço do final de semana passado (dias 10 e 11). A gritaria começou na madrugada de sexta para sábado, alcançando níveis estratosféricos ao longo da tarde. A causa da bagunça pode ser descrita em duas palavras: One Direction.

A proximidade da "boy band" britânica fez com que uma centena de meninas (e uma dezena de meninos, a bem da verdade) não arredasse o pé da frente do hotel, invadindo a rua e atrapalhando o trânsito. A presença deles ainda atraiu vendedores de faixas e camisetas, armando um circo que durou boa parte do dia.

O barulho não diminuiu nem mesmo durante o horário do show. Era de se imaginar que essas macacas de auditório pós-modernas seguiriam o grupo ao local do concerto, mas muitas —talvez sem dinheiro para os ingressos, talvez por opção— preferiram continuar de tocaia.

Que de vez em quando era bem-sucedida: mais ou menos de hora em hora o berreiro aumentava ainda mais (como se isto fosse possível), só porque Liam ou Harry haviam dado o ar de suas graças na janela.


Entendo perfeitamente a excitação de se estar perto de uma celebridade de quem gostamos. Fiquei sem palavras quando fui apresentado a Marina Lima, e olha que eu já era bem grandinho. Mas o grau de histeria dessas garotas me escapa à compreensão.

Claro que não é novidade: existem relatos de desmaios e faniquitos durante as apresentações de Franz Liszt, em pleno século 19. De lá para cá, o fenômeno cresceu de geração em geração, alimentado por Frank Sinatra, Elvis Presley, os Beatles, David Cassidy, o Menudo, os Backstreet Boys.

Hoje é perfeitamente normal que adolescentes acampem na porta de um estádio por mais de mês, como aconteceu antes da recente visita de Demi Lovato ao Brasil. Aliás, é esperado: ai do popstar que não tiver uma legião de apóstolos dispostos a largar tudo e a segui-lo em sua turnê pelo planeta.

O mais interessante é ver como a nascente sexualidade feminina, ainda tão reprimida, encontra nesses astros uma oportunidade de extravasar que é aceita pela sociedade. Mocinhas mais ou menos recatadas perdem a compostura diante de rapazes que elas não conhecem pessoalmente. Gritam, choram, rasgam a própria roupa, atiram neles calcinhas e sutiãs.

Não quero soar moralista, mas como é que os pais deixam que suas filhas passem dias e dias expostas aos elementos e a todo tipo de perigo? Para não ter que ouvir a choradeira dentro de casa?

Se for por isto, eu até entendo. Uma única fanática dessas é capaz de fazer um estardalhaço sozinha. Multiplique isto por cem, estenda por 48 horas e imagine o que eu —e toda a vizinhança do hotel— tivemos que aturar neste interminável fim de semana.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias