Tony Goes

Um ator precisa gostar de ir ao teatro?

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Causou celeuma nas redes sociais a declaração de um jovem galã. Numa entrevista veiculada em setembro de 2013, mas reprisada na semana passada, o rapaz dizia que não gosta muito de ler, nem curte ir ao teatro.

Foi o bastante para uma atriz de renome desqualificá-lo, com a elegância de jamais citar nomes. Outro astro consagrado entrou no coro e fulminou: o dito cujo não pode se considerar ator, mas apenas "desinibido".

Como sói acontecer nesses episódios, a internet se partiu em duas. De um lado ficaram os defensores da pureza da arte dramática, que acham que um ator que não vai ao teatro é pior do que um pintor cego. Do outro ficou a turma que chama de "liberdade de expressão" qualquer besteira que é dita por aí. O galãzinho estaria apenas sendo sincero.

Ora essa, Hitler também era sincero, e nem por isto tinha razão. Mas onde será que ela está neste caso?


Faz pouco tempo que a profissão de ator foi regulamentada no Brasil, e só um pouco mais que se exige algum estudo de seus militantes. Grandes nomes do nosso teatro foram autodidatas, aprendendo o ofício na marra. Figuras como Dercy Gonçalves nunca tiveram nada de intelectuais.

Sem falar que, até meados do século 19, atores eram considerados pouco melhores do que ladrões ou prostitutas. Foi só com o advento de divas como Sarah Bernhard que eles ganharam alguma respeitabilidade.

Rostinhos bonitos sempre tiveram lugar garantido nas ribaltas, e a chegada do cinema exacerbou nossa obsessão pela beleza física. Quantas estrelas de Hollywood não eram tremendas canastronas, mas também presenças magnéticas na tela?

Muitas melhoraram com o tempo. Um exemplo clássico é Ava Gardner, que estreou como "o mais belo animal da Terra" e mais tarde chegou a ser indicada ao Oscar.

O problema é que, na nossa atual cultura de "reality shows", basta ser gostoso e sortudo para se ficar famoso. Ninguém precisa ter talento para representar, cantar ou dançar. Mas essa fama que chega fácil também evapora num piscar de olhos.

Por isto, é bom que mocinhos e mocinhas televisivos fiquem, se não cultos, pelo menos espertos. Muitos não precisaram dos livros nem de idas ao teatro para fazer sucesso. Mas é bom lembrar que a beleza passa rápido e que, a médio prazo, só quem é do ramo sobrevive.

Em resumo: um ator precisa, sim, gostar de ir ao teatro. Uma celebridade, não.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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