Tony Goes

Mais religioso e traumatizado, novo Superman precisa de terapia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Hollywood não conhece nenhuma fórmula mais certeira do que os filmes de super-heróis. Apesar de dirigidos basicamente aos adolescentes do sexo masculino --o segmento do público que mais gasta dinheiro em ingressos de cinema-- estes filmes também atraem espectadores de outras faixas. E o melhor de tudo: no mundo inteiro.

O problema é que os super-heróis de apelo garantido são poucos. Não chegam a dez: o Batman, o Homem-Aranha, o Homem de Ferro e mais alguns. Tentativas de estabelecer franquias para personagens menos cotados, como o Lanterna Verde ou mesmo o Hulk, não deram muito certo.

O resultado é que a indústria cinematográfica está reciclando esses paladinos da justiça cada vez mais rápido. Contando as histórias de suas origens novamente, mexendo nos detalhes e, às vezes, até no essencial. E a intervalos de tempo relativamente curtos.

A onda dos "reboots" modernos começou em 2005, quando o diretor Christopher Nolan passou o Batman a limpo. Os quatro filmes anteriores, produzidos a partir de 1989, foram solenemente ignorados. O mascarado de Gotham City voltou à estaca zero.

O sucesso foi estrondoso e gerou uma continuação que é hoje considerada o melhor filme de super-herói de todos os tempos, "O Cavaleiro das Trevas" (2008). E serviu de inspiração para que o Homem-Aranha, contemplado com uma trilogia dirigida por Sam Raimi desde 2002, passasse pelo mesmo liquidificador em 2012, apenas dez anos depois de seu primeiro filme.


Agora é a vez do pai de todos os super-heróis. Depois de uma tentativa não muito bem sucedida de relançar a franquia em 2006, o Super-Homem volta às telas em "O Homem de Aço". Ou melhor, o Superman: é assim que a DC Comics e a Warner querem que o personagem seja chamado, qualquer que seja a língua.

Não se trata de uma continuação dos filmes anteriores, estrelados pelo falecido Christopher Reeve e, uma única vez, pelo esquecível Brando Routh. Voltamos ao planeta Krypton, para assistir novamente ao nascimento do herói.

Mas o que era familiar aos fãs dos quadrinhos ganha novos aspectos. Um deles é o da religiosidade. Desta vez os roteiristas realçaram as semelhanças da saga do Superman com Jesus Cristo.

O doloroso processo através do qual o jovem Clark Kent aprende a lidar com seus poderes lembra a relutância em aceitar a própria divindade, tema frequente em romances que questionam o cristianismo. Não por acaso, o Superman adulto que aparece em "O Homem de Aço" tem 33 anos de idade.

Também tem traumas e recalques, como é obrigatório para qualquer herói dos tempos modernos. Sempre tão desencucado nas versões anteriores, o Superman de 2013 precisa de terapia.

Tudo isto faz com que o personagem realmente se torne mais interessante e adequado aos tempos que correm. O que é mesmo enfadonha é a longuíssima cena de luta que ocupa quase toda a hora final do filme.

Fica a sugestão para os roteiristas de Hollywood: na próxima vez em que forem recriar um super-herói, deem um jeito de explodir com este clichê.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias