"Salve Jorge" poderia ter marcado época, mas não conseguiu
Na minha última coluna, listei alguns dos muitos problemas que prejudicaram o desenrolar de "Salve Jorge". Mas claro que a novela também teve vários pontos positivos, caso contrário não estaria terminando com a audiência em alta.
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Vou apontar alguns deles.
A abordagem do tráfico de pessoas - Glória Perez, conhecida por fazer "merchandising social" em suas tramas, dessa vez acertou em cheio: chamou a atenção do público para um problema grave e descobriu um filão rico em possibilidades dramáticas. Aposto que muitas mocinhas por aí não caem mais tão facilmente na conversa dos aliciadores.
A revelação de Nanda Costa - A escalação da atriz para a protagonista de "Salve Jorge" dividiu opiniões. Até então relegada a papéis secundários na Globo, ela se viu de uma hora para a outra à frente do produto mais importante da casa. Houve gente que saudou sua escolha, pois a emissora realmente precisa de caras novas. Outros jogaram em suas costas a "culpa" pela Ibope baixo dos primeiros capítulos, já que o público não teria empatia com uma semi-desconhecida. Mas Nanda foi se impondo aos poucos. Já perceberam que, na vida real, ela não fala com aquele sotaque típico dos morros cariocas? Nasce uma estrela.
A explosão de Totia Meirelles - Algumas atrizes veteranas tiveram a sorte de ganhar bons papéis em "Salve Jorge", como Giovanna Antonelli, Cláudia Raia e Dira Paes. Totia Meirelles também tem muitos anos de carreira, mas, ao contrário das colegas citadas, nunca havia interpretado um personagem de grande impacto na TV. Sua Wanda foi uma vilã apavorante, ainda mais perigosa por ser sedutoramente simpática. Confirma-se uma estrela.
A transformação de Thammy Miranda - Não tenha dúvidas: a filha de Gretchen foi convidada para o elenco de "Salve Jorge" por seu visual de caminhoneira, não por seus dotes dramáticos. A intérprete de Jô, a escrivã da delegacia de "Donelô", teve participação discreta na trama até os dois meses finais da novela. Então ocorreu sua metamorfose: infiltrada entre as garotas traficadas para a Turquia, Jô se transformou em Lohana, dançou "Conga Conga Conga" e caiu nas graças do Russo --e também de todo o Brasil. A trajetória da personagem se misturou com a da atriz, e rendeu a Thammy alguns minutos de glória. Irão se prolongar? Talvez não: a Globo ainda não tem planos para ela.
A Turquia entrou para o "mapa mental" dos brasileiros - As cenas gravadas no país serviram para apresentar suas paisagens e sua cultura ao espectador. Alguns fatos foram um pouco forçados, é verdade: não há registro de tráfico humano por lá, e os personagens do núcleo da Capadócia usam fantasias que não existem mais na vida real. Mas a novela serviu para atrair ainda mais turistas brasileiros para a Turquia. Tanto que agora é comum os vendedores do Grand Bazaar de Istambul saudarem nossos conterrâneos com gritos de "Salve Jorge!".
Bastante criticada nas redes sociais, "Salve Jorge" também foi um exemplo acabado de "hate-watching": aquele programa a que assistimos só para poder falar mal.
Tenho a sensação de que, com um elenco menor e mais atenção aos furos da trama, "Salve Jorge" teria marcado época. Não marcou, mas também não se configurou o desastre anunciado por alguns. Foi só uma novela a mais, cheia de defeitos e qualidades. Que venha a próxima.
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