Tony Goes

"Flor do Caribe" é um resort em forma de novela

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O horário das seis (na verdade, 18h20) talvez seja o mais variado da Globo. Novelas muito diferentes entre si se revezam nesta faixa: uma trama esotérica é substituída por outra de época, que dá lugar a um romance contemporâneo. Em comum, a obrigação de não pesar demais nem afugentar as crianças.

De vez em quando uma obra excepcional ocupa o horário. Foi o caso de "Cordel Encantado", que misturou contos de fadas com folclore nordestino. Não é o caso de "Flor do Caribe".

A novela do veteraníssimo Walther Negrão estreou há cerca de um mês e vem subindo paulatinamente na audiência. Não surpreende, mas também não desaponta. É um prato de sabor conhecido, muito bem feito e servido com talheres de prata.

Várias imagens são de tirar o fôlego. Com supervisão do premiadíssimo Affonso Beato (que, no cinema, trabalhou com Pedro Almodóvar e Stephen Frears), a fotografia cristalina captura toda a beleza das locações na Guatemala e no Rio Grande do Norte.

A sensação de férias pela TV continua nos ambientes internos. Todas as casas são enormes, arejadas, com persianas de madeira nas janelas e decoração sofisticada. Parece que os cenógrafos se inspiraram nesses livros de mesa com fotos de pousadas de alto luxo à beira-mar.

É pouco crível que um pequeno povoado de pescadores --batizado com o romântico nome de "Vila dos Ventos"-- conte com lugares tão elegantes. Mas quem se importa? "Flor do Caribe" é uma novela-resort. Um spa para os olhos.

A trama é para lá de básica: o vilão mata o melhor amigo para ficar com a namorada deste. Na verdade, acha que matou: o amigo está vivo e agora quer vingança.

Mais uma história de vingança? Sim, e dessa vez sem muitas nuances: os maus são malvadíssimos, os bons são uns anjinhos.


Grazi Massafera está resplandecente como a mocinha Esther, mas ainda derrapa nas cenas mais dramáticas. Henri Castelli não compromete. E Igor Rickli, estreando na TV, ainda não conseguiu imprimir a seu cruel Alberto a mesma intensidade que mostrou no musical "Hair".

O destaque do elenco é mesmo José Loreto, revelado como o Darkson de "Avenida Brasil". Aqui ele faz o papel do obrigatório bobo da aldeia, algo semelhante ao Tonho da Lua de "Mulheres de Areia". E faz bem, com segurança e simpatia.

Mas por que é um dos poucos do elenco que fala com sotaque nordestino? Muitos atores da Globo passaram por vexames quando tentaram imitar os acentos regionais. Dessa vez, a maioria nem está tentando.

"Flor do Caribe" não vai marcar a história da teledramaturgia. Mas é um produto de finíssimo acabamento, e que está cumprindo sua meta no Ibope. É quase um descanso de tela animado, com um mínimo de intriga. Um luxuoso hotel de praia televisivo, para o espectador se esquecer da vida.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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