Danilo Gentili pegou leve demais com Marco Feliciano
"O senhor sabe que, se ao invés de entrevistá-lo, eu ficar apenas cagando na sua cabeça, amanhã eu vou ser o cara mais popular do Brasil".
Foi com essas palavras doces que Danilo Gentili recebeu o deputado e pastor Marco Feliciano em seu programa "Agora É Tarde", exibido pela Band nesta quinta-feira (28).
Foi também a senha para o que viria a seguir: uma conversa em fogo baixo, onde o apresentador deu amplo espaço para seu convidado falar barbaridades. Rebateu com pouca contestação e perguntas supostamente engraçadinhas, como "o que o senhor acha da calça saruel?"
Feliciano provavelmente esperava que fosse assim, caso contrário não teria aceito o convite. Foi sua segunda entrevista exclusiva para a Band em menos de uma semana: no domingo (24), falou com Sabrina Sato, do "Pânico".
Gostou tanto de sua performance que, terminado o "Agora É Tarde", correu às redes sociais para se gabar. O fato é que saiu do mesmo tamanho com que entrou: apesar do tom falsamente conciliador, não deve ter conseguido um único novo adepto.
O mesmo aconteceu com Gentili. O cara não é jornalista, é humorista - assim como o são quase todos os anfitriões de "talk shows" pelo mundo afora, com honrosas exceções. Mas, descontada a façanha de ter agendado o político brasileiro mais disputado dos últimos tempos, ele perdeu a oportunidade de fazer uma entrevista histórica.
Talvez Gentili tenha mesmo se acostumado a pegar leve com seus convivas. Seu programa estreou sem patrocinadores, em julho de 2011. Grandes anunciantes simplesmente queriam distância do rapaz: estavam com medo do veneno que ele tanto esbanjou em seus anos no "CQC".
Mas Gentili maneirou o tom, encontrou um estilo próprio e logo firmou o "Agora É Tarde" como uma boa opção para o fim de noite. Conseguiu patrocínio, audiência e até prêmios da crítica. Tornou-se uma espécie de Jô Soares mais jovem e antenado. Ainda assim, inconsequente e descartável.
Gentili deixou que o pastor atribuísse a Arnaldo Jabor uma piada que rola por aí desde os anos 60 (talvez há até mais tempo): aquela do "antigamente a homossexualidade era proibida, hoje é permitida, daqui a pouco será obrigatória". Jabor sequer repetiu essa bobagem, em momento algum.
É verdade que, em outros momentos, o apresentador deixou claro sua discordância das ideias medievais do presidente da CDH, e até deixou Feliciano constrangido ao perguntar o que ele acha de "transar na bunda".
Por outro lado, não exibiu o famoso vídeo em que o pastor pede a senha do cartão de um fiel (talvez porque Sabrina Sato já o tivesse feito?). Preferiu mostrar clipes antigos de religiosos em transe, ridículos porém inofensivos.
Lá pelo final, Danilo Gentili disse que frequentou uma igreja evangélica e que chegou a pensar em ser pastor, mas se afastou por causa da voracidade com que várias destas denominações avançam sobre o dinheiro de seus rebanhos. Podia ter explorado mais este raciocínio, mas não havia mais tempo.
A entrevista terminou no 0 x 0 - ou, vá lá, no 1 x 1. Feliciano não foi aplaudido pela plateia, mas certamente que agradou a seus fãs.
E Gentili poderia ter sido um pouco menos gentil. O humor colegial da conversa e as muitas bolas perdidas mostraram que ele ainda não está pronto para se sentar à mesa dos adultos.
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