Entrevista com Guilherme de Pádua foi rasa e sensacionalista
Foi um daqueles momentos em que todo mundo se lembra exatamente do que estava fazendo quando soube da notícia, como no 11 de Setembro. Eu, por exemplo, estava em Buenos Aires, passeando pelo bairro da Recoleta. Parei em frente a uma banca e quase dei um pulo quando li a manchete dos jornais brasileiros: Daniella Perez havia sido assassinada.
De todos os crimes célebres que presenciei em toda minha vida, este foi de longe o que causou maior celeuma. Não só pela fama da vítima, estrela da TV e filha da autora de novelas Glória Perez, como também pelo método cruel (nada menos que 19 tesouradas) e pela ausência de dúvida quanto à identidade dos assassinos.
Guilherme de Pádua (que fazia par romântico com Daniella na novela "De Corpo e Alma") e sua mulher Paula Thomaz foram presos logo após o crime. Descobertos os culpados, restou identificar a motivação: até hoje não se sabe se a morte de Daniella foi causada por ciúmes, ambição profissional ou até mesmo magia negra. Talvez um pouco de tudo isto.
Uma vez na cadeia, o casal passou a se acusar mutuamente. O maior culpado teria sido o outro. Mas a estratégia não funcionou muito bem para nenhum dos dois, que acabaram sendo condenados a longas penas. No entanto, graças ao leniente sistema penal brasileiro, foram ambos libertados em 1999, menos de sete anos depois do crime.
Paula Thomaz sumiu de circulação: casou-se novamente, trocou de nome e nunca mais deu entrevistas. Mas seu ex-marido volta e meia reaparece na mídia, talvez numa tentativa inconsciente de reconquistar a celebridade que quase atingiu como ator. Ontem lá estava ele no "Domingo Espetacular" (Record), numa entrevista de mais de 40 minutos a Marcelo Rezende.
Foi uma das peças mais sensacionalistas e menos objetivas que a imprensa brasileira produziu nos últimos tempos. Rezende, com sua locução digna dos antigos programas de rádio policialescos, procurava dramatizar ainda mais um caso que já é dramático o suficiente. Além do mais, parecia haver um esforço para mostrar Guilherme de Pádua como um bom moço, meio vítima das circunstâncias e já plenamente reintegrado à sociedade.
Mas nas entrelinhas a história era outra. Guilherme se mostrou covarde ao insinuar que uma marca no rosto de Daniella teria sido resultado "da vida íntima" da atriz. Também posou de coitadinho ao lembrar que já levou cuspidas na cara - algo bem menos doloroso que 19 tesouradas, é claro.
Papel ainda pior fez a Record. A reportagem não trouxe um dado novo sobre o caso. Os motivos torpes que levaram um casal jovem a cometer um crime bárbaro não ficaram mais claros depois dos longos 40 minutos. Deu até para suspeitar que a emissora estivesse fazendo propaganda subliminar da fé evangélica, já que Guilherme diz que foi Jesus quem o salvou.
Se era a intenção, em mim não colou: achei tudo um lixo.
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