Troca de geração de autores revitaliza as novelas da Globo
"Cordel Encantado" inovou na linguagem e teve ótima audiência. "A Vida da Gente" trouxe um drama denso para a faixa das 18 horas e teve ótima audiência. "Cheias de Charme" se esparramou por plataformas fora da TV e teve a maior audiência de seu horário em muitos anos. "Avenida Brasil", então, se tornou uma obsessão nacional e um marco na história da TV.
Já "Insensato Coração" até que foi bem, mas não deixou rastros. O Ibope de "Fina Estampa" foi até maior que o de sua sucessora, mas sua repercussão foi muito menor. "Guerra dos Sexos" e "Salve Jorge", atualmente no ar, escorregam para baixo nos números e sofrem uma saraivada de críticas negativas.
À primeira vista, o diagnóstico é claro: os autores veteranos da Globo já deram o que tinham que dar. Suas novas tramas não incendeiam mais o telespectador, que tem a sensação de já ter visto aquilo tudo várias vezes.
Enquanto isto, uma nova geração, treinada nas oficinas internas da emissora e calejada durante anos na assistência aos medalhões, chegou cheia de amor para dar. Novas situações, novas abordagens, novos desfechos. Tudo em sintonia com o público de hoje, do qual uma fatia considerável acabou de chegar à sociedade de consumo mas já está plugada na internet.
Este cenário comporta exceções. "Lado a Lado", a atual novela global das 18 horas, é escrita pelos novatos Cláudia Lage e João Ximenes Braga, mas luta para alcançar os mesmos índices de sua antecessora, "Amor Eterno Amor", da experiente Elizabeth Jhin. Ainda assim, existe a expectativa de que a audiência da trama reagirá para cima nas próximas semanas.
O mesmo já não está sendo dito a respeito de "Guerra dos Sexos". Talvez Sílvio de Abreu tenha se mantido fiel demais a seu texto de 1983. O excesso de ricaços e o conflito entre homens e mulheres parecem datados nos dias de hoje. Como disse uma leitora num comentário algumas colunas atrás, a luta pelo controle de uma empresa não é um problema com que a maioria dos espectadores se identifique.
E "Salve Jorge", hein? A história de Glória Perez traz um tema inédito e pertinente, o tráfico de mulheres. Também mostra imagens deslumbrantes da Turquia e os coloridos costumes da população daquele país distante. Mas, em suas outras tramas, a novela descamba o "déjà vu" ao quadrado: a mocinha pobre e lutadora, a folclórica dona de bar, as milionárias fúteis.
É inegável que a geração de autores veteranos se aproxima da aposentadoria. Benedito Ruy Barbosa já está meio fora de combate. Manoel Carlos anunciou que sua próxima novela também será sua última. O falastrão Aguinaldo Silva disse que quer fazer no máximo só mais três, e olhe lá.
É um fenômeno natural e até saudável. Mas, enquanto essa troca não se completa, assistimos ao espetáculo meio constrangedor em que os pilares do gênero na Globo levam surras, no Ibope e na crítica, de seus afilhados e sucessores.
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