Trio de Suelen tem cheiro de vingança do autor contra pudor da Globo
Há pouco mais de um ano, a Globo fez uma intervenção no casal gay de "Insensato Coração". O romance entre Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo) precisou ser esfriado, pois estava incomodando boa parte dos telespectadores.
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Hoje não há nenhum gay assumido em "Avenida Brasil". Nem mesmo Roni (Daniel Rocha), apesar deste ter sua orientação sexual questionada a toda hora.
Estava previsto um conflito entre o rapaz e sua mãe evangélica, Dolores (Paula Burlamaqui). Mas esta trama paralela tomou um rumo diferente. Dolores ouviu "Conga, Conga, Conga", teve uma recaída como a atriz pornô Soninha Catatau e escafedeu-se.
Já seu filho se casou com a boliviana Suelen (Ísis Valverde), para que ela pudesse continuar no Brasil. E acabou se envolvendo num triângulo amoroso com a moça e sua suposta paixão secreta, Leandro (Thiago Martins).
A novela acaba amanhã com o trio feliz da vida. Suelen está grávida e se recusa a fazer o teste de DNA para descobrir qual de seus dois maridos é o pai.
Enquanto isto, consta que Cadinho (Alexandre Borges) irá reconquistar suas três mulheres, chegando até mesmo a oficializar a união com elas. Precedente na vida real já existe: há poucos meses. um trio formado por um homem e duas mulheres registrou em cartório um contrato de união estável.
Por que será que esses arranjos plurais não causam nem uma fração da celeuma que um casal homossexual provocaria?
Talvez porque não sejam muito críveis. A história de Cadinho, por exemplo, é pastelão em estado puro. E também muito absurda: como é que ele conseguiu manter o segredo da trigamia durante anos, se era visto em público com cada uma de suas esposas na pequena Zona Sul do Rio de Janeiro?
Já o trio Roni-Suelen-Leandro tem cheiro de vingança do autor. Não duvido que a emissora tenha recomendado a João Emanuel Carneiro que maneirasse no embate filho gay x mãe evangélica, com medo da reação do público mais religioso. Impedido de dar aos personagens o destino que gostaria, Carneiro partiu para uma solução pouco convencional - mas também difícil de engolir.
Até dá para entender que o "ménage à trois" é bom para Suelen e Roni, mas o que Leandro ganha com essa história? Ou será que ele é bissexual e está igualmente apaixonado pelos outros dois vértices do triângulo? Isto sequer é insinuado no texto.
De qualquer forma, esses arranjos dificilmente aconteceriam na vida real. Por isto, se tornam inofensivos quando mostrados na TV: não refletem o que se passa do lado de cá da tela. Não ameaçam, nem dão ideias a ninguém.
Portanto são "perdoados". E os poliamorosos são até vistos dormindo na mesma cama, enquanto que um casal do mesmo sexo não pode nem mesmo trocar um selinho.
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