Tony Goes

Apertem os cintos, vai começar o horário eleitoral

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Respire fundo. A partir de amanhã, uma hora inteirinha será arrancada da programação das emissoras de TV aberta.

As grades de programação, que já não tem horários rigorosos no Brasil, ficarão ainda mais confusas. E o telespectador terá que se munir de doses extras de paciência, ou correr para as alternativas à mão.

Antes de prosseguir, quero deixar bem claro que não sou contra o horário eleitoral gratuito.

Acho uma solução mais justa do que a que vigora nos Estados Unidos, onde os canais cobram preços de tabela para exibir propaganda política. É óbvio que isto beneficia quem tem maior poder econômico.

Mas também é evidente que o sistema brasileiro precisa de ajustes, e muitos. Para começar, faz sentido obrigar todas as emissoras transmitirem o horário eleitoral ao mesmo tempo?

Isto é um prolongamento da mentalidade autoritária que gerou "A Voz do Brasil".

O programa de rádio foi criado durante a ditadura Vargas, numa época em que ainda não existia a televisão. Quem não quisesse ouvir o que o governo tinha a dizer dispunha de uma única alternativa: o silêncio.

O país mudou, novos meios surgiram, mas a "Voz" continua aí. O máximo que algumas emissoras conseguiram foi a permissão para transmiti-la em outro horário.

Volta e meia surge a ideia de acabar com ela. Mas o programa talvez sobreviva porque nos acostumamos com ele: faz parte da paisagem.

O horário político na TV também é um cabresto eletrônico, que pretende fazer com que a audiência assista à força algo que, caso tivesse opções, ela não assistiria.

Acontece que hoje em dia opção é o que não falta, a começar pela TV paga. É verdade que sua penetração ainda é pequena no Brasil se comparada à de outros países, mas ela não para de crescer.

Outra possível rota de fuga é a internet. As redes sociais já comem uma fatia considerável do Ibope da TV, e devem ver seu tráfego crescer enquanto a propaganda política estiver no ar. E também existem o DVD, o VCR, os videogames, etc. etc.

Ainda assim, com tantas alternativas, as pessoas continuam assistindo ao horário eleitoral.

A audiência dos canais de TV oscila muito pouco enquanto ele é exibido. Será que este fenômeno se deve a um súbito interesse pelas propostas apresentadas? Ou é apenas inércia? Afinal, a novela começa daqui a pouco.

É verdade que o horário eleitoral de hoje é muito mais divertido que na época do regime militar.

A famigerada "Lei Falcão" não permitia nada além da exibição do nome e número dos candidatos. Agora podemos ver todo tipo de bizarrice. Rimos com os tipos folclóricos e despreparados, e depois corremos para elegê-los.

Então, se o horário eleitoral gratuito é inevitável, vamos relaxar e aproveitar. Volta e meia surge um bordão que se incopora ao vocabulário cotidiano, como "meu nome é Enéas".

E há sempre momentos engraçados, que merecem ser garimpados na rede.

Quem aí não está curioso para ver a campanha da Bixa Muda, que concorre a vereadora em Juazeiro, Ceará?

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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