Tony Goes

Por que somos obcecados por super-heróis?

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Todo ano é a mesma coisa. O verão americano se aproxima e com ele as telas de cinema se enchem de sujeitos com poderes absurdos e uniformes ridículos. Em 2011 foi a vez do Capitão América e do Thor; este ano eles se juntam a outras figurinhas fáceis, como o Homem de Ferro e o Hulk, no mega-sucesso "Os Vingadores".

Isto foi só o começo da temporada. Em julho teremos novos filmes do Homem-Aranha e do Batman. E uma nova versão do Super-Homem já está sendo rodada, para estrear ano que vem.

Todos esses personagens já existem há décadas nos quadrinhos. Quando eu era pequeno, muitos deles tinham programas na TV, em animação ou "live action", mas suas encarnações cinematográficas eram bastante raras.

O Super-Homem estrelou alguns títulos no começo dos anos 80 e o Batman na virada dos 80 para os 90, mas nem de longe tínhamos esse enxame de heróis que enfrentamos hoje nos cinemas.

Verdade que a Marvel demorou muito para transpor seus personagens das revistas para a telona. E também é verdade que os efeitos especiais de antigamente eram bem pobrinhos: quase que dava para ver os cabos de aço quando um desses paladinos alçava voo.

Mas acho que não é só isto o que explica nosso fascínio cada vez maior por essa turma. Criados nos Estados Unidos, faz tempo que os super-heróis são ídolos sem fronteiras: a bilheteria global de "Os Vingadores", com menos de um mês de exibição, está prestes a bater na marca do bilhão de dólares.

Muito já se falou sobre a infantilização do cinema como um todo. Uma das razões é demográfica: hoje em dia, a maior parte dos frequentadores das salas tem menos de 25 anos. O pessoal mais velho prefere ficar em casa, vendo TV a cabo ou DVDs.

Há muitos outros fatores que influenciam este fenômeno, como a popularidade dos games: qualquer garoto pode se sentir poderoso, mesmo que por alguns minutos. Sem falar na elevação dos quadrinhos - perdão, "graphic novels" - ao status de arte, ou na infância cada vez mais prolongada. A rapaziada anda demorando mais tempo que seus pais para sair de casa, se casar e assumir responsabilidades.

Vou arriscar mais uma causa: a ausência de heróis na vida real. A palavra "politico" tornou-se quase sinônimo de "bandido", e a religião perde força em muitos segmentos da sociedade. Batman e similares vêm preencher este vácuo.

Os super-heróis são avatares modernos dos deuses do Olimpo. Personificações de energias presentes na natureza e no próprio homem. E, assim como seus colegas da Grécia antiga, também são falíveis, cheios de defeitos e fraquezas. Não há justiceiro que se preze que não tenha um passado complicado.

Vamos ao cinema para cultuá-los. Para projetar nossas inseguranças e ansiedades e fingir que tudo sempre acaba bem. E também pelo prazer inenarrável de ver cidades serem destruídas sem sentirmos culpa, como fazíamos com nossos castelinhos de areia quando éramos crianças.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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