"Fora de Controle" tem pegada mais leve, mas é previsível
É impressionante a influência que "Cidade de Deus" ainda tem sobre a cultura brasileira. Dez anos depois de sua estreia, o filme de Fernando Meirelles continua gerando "descendentes": de filmes como "Tropa de Elite" e "Salve Geral" a programas de TV como "Força-Tarefa" e "9MM: São Paulo".
O mais novo rebento é a série "Fora de Controle", que estreou na noite de ontem na Record. Além do tema policial, a ligação com "Cidade de Deus" está na presença de Daniel Rezende, o editor do filme, que aqui faz sua estreia na direção.
O autor Marcílio Moraes já havia se aventurado pelo gênero com o seriado "A Lei e o Crime", em 2009, pela mesma emissora. Agora retorna com este projeto ambicioso, realizado por uma produtora independente, a Gullane. São apenas quatro episódios, mas uma segunda temporada já está nos planos.
O da estreia até que trouxe boas surpresas. Não se perdeu tempo apresentando os draminhas pessoais dos protagonistas: os tiras Medeiros (Milhem Cortaz, finalmente fazendo o mocinho), Clarice (Rafaela Mandelli) e Brandão (Claudio Gabriel) não "discutem a relação". Estão mais interessados em elucidar o assassinato da enteada de um amigo delegado.
Para quem está acostumado com os cortes frenéticos e a violência exacerbada dos "favela-movies", o ritmo mais lento de "Fora de Controle" chega a ser inovador. Um único tiro foi disparado no capítulo de ontem, e longe das câmeras (só ouvimos o som). No lugar das perseguições habituais, o que houve foram diálogos, interrogatórios, conclusões. Um quebra-cabeças que foi se formando aos poucos.
E que acabou se formando rápido demais. Ainda faltavam quinze minutos para o final quando a identidade do assassino se tornou evidente para o espectador. A trilha sonora e os olhares sugestivos dos atores serviram para entregar o mistério. O desenlace trágico também foi óbvio: só os personagens foram pegos de surpresa.
Vamos ver se os próximos episódios conseguem manter o suspense. E torcer para que comecem no horário previsto: o de ontem foi ao ar com mais de meia hora de atraso. Um desrespeito inacreditável da Record com um de seus produtos mais caros, pois a audiência potencial diminui com o avançar do relógio. E também com o público, que precisa ficar de vigília em frente à TV até tarde da noite se quiser ver o programa.
Comentários
Ver todos os comentários