Tony Goes

Programa-jabuticaba: Zé do Caixão entrevista Inri Cristo

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Em que outro país um filho das trevas entrevistaria na TV a reencarnação de Jesus Cristo? A participação de Inri Cristo no talk show de Zé do Caixão foi um autêntico programa-jabuticaba: só mesmo no Brasil.

"O Estranho Mundo de Zé do Caixão" estreou sua quinta temporada na sexta passada, no Canal Brasil. É um "trash" bem cuidado e divertido, apesar de José Mojica Marins não ser exatamente uma Marília Gabriela: erra o nome dos entrevistados, faz perguntas bobas e frequentemente parece não ter a menor ideia de quem é o convidado da noite.

Mas claro que ninguém assiste ao programa para se informar. A graça toda consiste em ver os famosos do momento, como Geisy Arruda ou Danilo Gentili, sendo atirados às garras (de verdade) desta figura bizarra, vinda diretamente dos anos 60 mas cada vez mais "cult".

Neste ponto, o segundo encontro de Zé do Caixão com Inri Cristo decepcionou um pouco. O auto-intitulado profeta já havia estado no programa em 2008, e muitas das perguntas daquela vez foram repetidas nesta nova visita.

Claro que esperar um embate teológico seria um pouco demais, mas só faltou os dois se darem as mãos e saírem cantando. Música não faltou: as "versões místicas" de canções pop cantadas pelas "inrizetes" são um enorme sucesso na internet, e sexta passada elas brindaram os telespectadores do "Estranho Mundo" com a mais emblemática de todas: "Rehab", de Amy Winehouse, agora rebatizada de "Não Diga Não".

O curioso é que, por baixo das fantasias de carnaval, a mensagem de Inri Cristo até que faz algum sentido. Sua interpretação de passagens da Bíblia, que ele afirma ser repleta de metáforas, contrasta com a leitura literal que tantos outros "profetas" fazem por aí. Seu estilo não-agressivo chega a ser um alívio: Inri Cristo não pede dinheiro nem ataca quem não o segue.

O papo seguiu ameno, com o religioso admitindo ter adorado o filme "Esta Noite Encarnarei em Seu Cadáver" e comentando até mesmo sobre os preparativos para a Copa de 2014. Foi quase um encontro de comadres: nem mesmo a presença de Capetinha, o assistente de palco vestido de diabo, incomodou Inri Cristo. Pelo menos desta vez Zé do Caixão não o chamou de "Henry Cristi", como o fez em 2008.

"O Estranho Mundo de Zé do Caixão" tem gás para mais alguns anos no ar, pois a produção é barata e não faltam convidados. É uma opção curiosa para a meia-noite de sexta (com reprises aos sábados, à 1:30, e às quartas, às 4:30). Mas é preciso assistir ao programa sem a expectativa de conhecer mais sobre o entrevistado. Zé do Caixão é um não-entrevistador. Só mesmo no Brasil.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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