"BBB12": A Globo ainda não sabe lidar com a internet
Durante algumas décadas, a maior emissora de TV do Brasil agiu como se fosse a única fonte de informação disponível. E isto era quase verdade: os altíssimos índices de audiência da Globo lhe garantiam um virtual "monopólio da fala", um termo muito popular no meio acadêmico dos anos 70 e 80.
A Globo tentou reescrever a história várias vezes: na primeira eleição de Brizola ao governo do Rio de Janeiro, na campanha das Diretas Já, no debate entre Collor e Lula E até hoje ignora olimpicamente a concorrência. Contratados de outros canais raríssimamente são citados em sua tela. Até mesmo o "Casseta & Planeta" era proibido de satirizar programas que não fossem "globais".
Esse controle obsessivo pela informação não funciona mais nos dias de hoje. O espectador já passeia pelos outros canais, a TV paga se expande cada vez mais mais e a internet simplesmente mudou as regras do jogo. Agora qualquer notícia, mesmo falsa, circula com velocidade nunca vista. E provoca reações imediatas nas redes sociais.
O suposto estupro no "BBB" é um caso exemplar. A Globo se fingiu de morta, desconversou, tentou convencer o público de que "o amor é lindo". Demorou longuíssimos dois dias para se manifestar claramente sobre o assunto, quando este já estava velho na web.
Muita gente não sabe, mas o termo "Big Brother" foi tirado do romance "1984" de George Orwell: era o apelido de um ditador que tudo via, tudo sabia e tudo controlava. A Globo tentou ser o "BB" do Brasil durante muito tempo, mas ainda não percebeu que esse tempo já acabou.
Aliás, não é só a emissora que ainda não se acostumou com a nova realidade. Muitos anunciantes têm sido pegos de surpresa pelos consumidores, que postam vídeos ou escrevem blogs para reclamar de serviços mal-feitos ou produtos defeituosos. Marcas que levaram anos para ser construídas são destruídas em alguns cliques.
O mais engraçado é que nem mesmo as novas gerações, os famosos "nativos digitais", já se deram conta do alcance e dos perigos da internet. Esta inocência atinge até mesmo os participantes desta edição do "BBB".
Toda semana emerge um vídeo antigo de algum dos "brothers" se masturbando em frente à webcam. Será possível que neguinho nem suspeite que está sendo gravado? Ou vai ver que a intenção era essa mesma: divulgar os dotes e ganhar fama de garanhão.
A blogueira-travesti Katylene --na verdade, a identidade nada secreta de Daniel Carvalho, colunista no programa "Muito +", de Adriane Galisteu --lançou uma teoria interessante. Segundo ela, foi o proprio Boninho quem soltou na rede, segunda passada, o clipe de Jonas "batendo bolo" (que expressão delicada), para desviar a atenção dos internautas do escândalo do edredom.
Até faz sentido, mas duvido que o diretor do programa --ou qualquer outra pessoa da cúpula da Globo-- seja tão maquiavélico digitalmente. A cabeça dessa turma ainda é analógica.
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