Feliz ano molhado
Este foi um réveillon estranho. Não sei se foi o fato de ter passado a virada do ano em São Paulo pela primeira vez em mais de 20 anos, ou se foi pela data ter caído justo num final de semana, sem direito a feriadão. Mas não senti o clima de festa alucinada de outros anos.
Claro que a chuva ajudou. É impressionante como todo ano as pessoas se surpreendem com a chuva que cai no Sudeste nesta época. "Fomos para a praia, mas a chuva não deu trégua" Hello? Claro que não ia dar mesmo, não lembra como foi no ano passado? E no outro? E no outro? O verão brasileiro é um mito inventado pela propaganda para vender protetor solar, pelo menos da Bahia para o sul. Só no Nordeste é que o sol brilha para valer em dezembro e janeiro, e olhe lá.
A TV também contribuiu para manter a temperatura morna. Não me lembro de uma programação especial tão sem graça quanto a da Globo este ano. Houve um show requentado de Roberto Carlos, um telefilme com Rodrigo Santoro, o tradicional "Show da Virada" e o quê mais? Saudades de outros tempos, quando a emissora recheava as noites do final do ano com pilotos de séries novas. O que aconteceu desta vez? Vacas magras?
Talvez seja a constatação de que a audiência cai muito nestes dias, então para quê gastar com especiais que pouca gente vai ver? Nos cinemas acontece coisa parecida: só dois filmes entraram em cartaz em SP na última sexta-feira, e grande parte das salas permaneceu fechada no sábado e domingo. E isto justamente quando há uma grande safra cinematográfica chegando por aí, graças à entrega do Oscar em fevereiro. Onde estão os espectadores? Na praia, tomando chuva. Ou presos em engarrafamentos nas estradas.
Até as fofocas envolvendo celebridades minguaram: o grande bafo da virada foi a expulsão de Latino do palco em Copacabana. O cara conseguiu desperdiçar a maior oportunidade de toda sua carreira e ainda estragou a gravação de seu DVD diante de uma plateia gigantesca, só porque seguiu o hábito brasileiro de não respeitar o relógio.
Estourou seu horário e incomodou o DJ francês David Guetta, que entraria em seguida. Latino ainda apelou para os brios do patriotismo, acusando o gringo malvado que chegou aqui para impor suas regras absurdas. Era só ter ensaiado antes um set que coubesse no tempo previsto, mas parece que o profissionalismo tupiniquim ainda não chegou a este grau de sofisticação.
O aguaceiro não poupou sequer a corrida de São Silvestre, que praticamente foi disputada por homens-rãs. A vitória dos africanos era mais que previsível. A diversão ficou por conta dos anônimos que se dispõem a pagar micos imensos só para aparecer alguns segundinhos na TV. Meus favoritos deste ano: um cara vestido de Nossa Senhora Aparecida, outro de Jesus com cruz e tudo, e uma centopeia humana formada por quatro pessoas, talvez a maneira mais inadequada de se disputar uma meia maratona.
A virada passou, a chuva continua e as novidades finalmente começam a aparecer. Hoje tem a estreia de "Mulheres Ricas" na Band, que deve ser tão horrível quanto maravilhoso. Durante a semana serão anunciados os participantes do "BBB 12". A programação dos cinemas começa a esquentar, e muitas peças voltam ao cartaz. Começa logo, 2012!
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