Thiago Stivaletti

'Babilônia' é uma novela a mil quilômetros por hora, mas sem humor

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Numa armadilha de Beatriz (Glória Pires), Inês (Adriana Esteves) é seduzida por Murilo (Bruno Gagliasso) —o cafetão que já namorou sua filha. Revoltada, resolve jogar a merda no ventilador e põe na internet o vídeo que incrimina a rival. Beatriz tenta matar Inês, esta vai parar no hospital e a outra na cadeia.

Inês envia uma pulseira a Regina (Camila Pitanga), que descobre que Beatriz matou seu pai. Também descobrimos por que Inês quer se vingar de Beatriz: a inimiga seduziu seu pai, que foi preso por sedução de menores e se matou na cadeia. Falando em cadeia, Beatriz sai dela e fica cara a cara com Inês no hospital.

Tudo isso aconteceu em menos de uma semana em "Babilônia" (Globo). Com a crise de audiência, a saída encontrada por Gilberto Braga e seus coautores foi acelerar a novela ao máximo, com a ajuda sagrada de seu Silvio de Abreu. Não lembro de outra novela tão acelerada quanto esta. Tudo o que deveria ser revelado em mais uns bons dois meses está vindo à tona já. Como bem disse meu amigo Will no Facebook, se a novela acabar agora em maio, não vai ser surpresa.

Não dá para negar: para os noveleiros de verdade, está bem divertido acompanhar essa correria toda. Novela tem que ser como futebol mesmo: o autor vai fazendo as substituições com o time em campo. Quem quiser história bonitinha, redondinha, bem acabadinha, melhor ficar nas séries com começo, meio e fim do Netflix.


Uma questão me intriga: OK, "Babilônia" deve ser encurtada em pelo menos um mês. Mas, depois de tantas revelações, o que Gilberto nos reserva? A ideia é inventar novas reviravoltas na trama, ou tornar tudo mais suave, um pouco mais "manoelcarlizado", em busca de um público que talvez não volte mais?

Para mim, um dos maiores problemas é a falta de humor das três protagonistas. O que Odete Roitman e Carminha tinham de sobra que Inês não tem? Humor. Para conviver OITO meses com uma vilã amarga, a gente precisa rir um pouco. Glória Pires consegue ser cômica em "Se eu Fosse Você", mas na TV não parece tão à vontade pra fazer um pouquinho de graça. O texto também não tem metade da inspiração da Odete de 27 anos atrás. Inês é amarga demais, e Regina é a mocinha sofredora e boa demais.

Qualquer noveleiro sabe que mau-caratismo e bom humor podem conviver muito bem se o personagem for bem escrito. Mas o problema parece esse: Babilônia tem tramas incríveis, surpresas, segredos escondidos, mas faltam personagens mais interessantes que nos conduzam através de tantos capítulos.

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista, crítico de cinema e noveleiro alucinado. Trabalhou no "TV Folha", o extinto caderno de TV da Folha, e na página de Televisão do UOL. Viciou-se em novela aos sete anos de idade, quando sua mãe professora ia trabalhar à noite e o deixava na frente da TV assistindo a uma das melhores novelas de todos os tempos, "Roque Santeiro". Desde então, não parou mais. Mesmo quando não acompanha diariamente uma novela, sabe por osmose todo o elenco e tudo o que está se passando.

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