No dia 19 de junho, num campo de centeio em Santa Clarita, Califórnia, um cabeludo e barbudo Ashton Kutcher corria de mãos abertas, vestindo camisa verde hippie e várias pulseiras de couro.

Uma semana mais tarde, em Londres, era a vez de Naomi Watts, de saia preta e suéter também preto de lã e cabelo prateado de corte com franja repicada, sair apressada de um escritório no centro da capital inglesa.

Ambos os atores estavam filmando cenas de seus novos filmes, no quais interpretam pessoas famosas. Kutcher aparece como o fundador da Apple Steve Jobs no filme "Jobs" e Naomi encarna a princesa Diana na cinebiografia "Caught in Flight", dirigida pelo cineasta alemão Oliver Hirschbiegel.

Nos próximos meses, via cinema, TV ou nos palcos da Broadway, mais de duas dezenas de atores estarão "encarnando" a vida de famosos.

Como a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood adora famosos interpretando famosos, é possível que, na duas próximas edições do Oscar, o embate nas quatro categorias de atores seja ainda mais intenso que na edição passada quando Meryl Streep (como Margaret Thatcher), Michelle Williams (a atriz Marilyn Monroe) e Kenneth Branagh (o ator e cineasta Laurence Olivier) receberam indicações por recriarem famosos (Meryl recebeu seu terceiro Oscar pelo papel da ex primeira-ministra inglesa).

Uma das cinebiografias mais esperadas do ano é "Lovelace", na qual a jovem atriz Amanda Seyfried interpreta a musa do cinema-pornô dos anos 70 Linda Lovelace, estrela do clássico Garganta Profunda. Nesta produção, James Franco veste os pijamas de cetim do fundador da revista Playboy Hugh Hefner, e Sarah Jessica Parker interpreta a feminista americana Gloria Steinem.

Sarah Jessica substituiu (na última hora) a atriz Demi Moore, que estava escalada para o papel, mas precisou abandoná-lo devido a crise pessoal que a colocou numa clínica de reabilitação para tratamento contra distúrbios alimentares e vício.

Outra atriz com problemas pessoais que acabou caindo fora deste projeto foi Lindsay Lohan, que quase assinou contrato para interpretar Lovelace, mas perdeu o papel para Amanda. Mas que ninguém sinta pena de La Lohan: ela filma atualmente, na Califórnia, a minissérie "Liz & Dick", na qual interpreta a atriz Elizabeth Taylor, e uma espécie de tentativa de reavivar a carreira de jovem atriz.

Famosos de montão estão em outro filme aguardadíssimo: Hitchcock, produção que acompanha o mestre do suspense cinematográfico Alfred Hitchcock durante as filmagens do clássico "Psicose". Anthony Hopkins faz o papel do cineasta inglês, James D'Arcy (que recentemente interpretou o rei Edward VIII para Madonna em "W.E.") assume o papel do ator Anthony Perkins.

Já as atrizes de "Psicose", Janet Leight e Vera Miles, são interpretadas respectivamente por Scarlett Johansson e Jessica Biel. Alma Reville, mulher de Hitchcock, é recriada por Helen Mirren.

Uma das maiores musas de Hitchcock, a atriz Grace Kelly, ganha uma cinebiografia toda própria. Nicole Kidman assume o papel da atriz que virou princesa no longa "Grace of Monaco". O longa só estreia em 2014, mas vale lembrar que ele é dirigido pelo francês Olivier Dahan, que ajudou Marion Cotillard a faturar um Oscar de melhor atriz pelo papel de Edith Piaf em "Piaf - Um Hino ao Amor".

Presidentes americanos também estão presentes em dois filmes sérios --e de olho no próximo Oscar. Steven Spielberg vem mantendo seu filme "Lincoln" longe da atenção da mídia e até adiou o lançamento para depois das eleições presidenciais americanas em novembro para que a produção não fosse usada como ferramenta política ou da mídia cobrindo o embate Barack Obama e Mitt Romney.

No filme, Daniel Day-Lewis empresta seu método de viver, andar e respirar como o personagem que interpreta para recriar o lendário Abraham Lincoln. Outro presidente popular, Franklin Roosevelt, é interpretado por Bill Murray no filme independente "Hyde Park on the Hudson", que estreia em dezembro nos Estados Unidos.

Em se tratando do subgênero de cinebiografias, nada deixa mais espaço para liberdades históricas --ou loucuras por parte dos atores-- do que aquelas que acompanham a vida de pop stars da música. Esse campo está bastante embolado.

Jewel será a cantora e esposa de Johnny Cash no filme "The June Cash Story" a ser rodado pelo canal Lifetime; Taylor Swift está de olho no papel de Joni Mitchell para o filme "Girls Like Us", e Zooey Deschanel desembarca na Broadway para viver a cantora country Loretta Lynn na versão teatral do filme "O Destino Mudou Sua Vida" (Sissy Spacek ganhou o Oscar em 1981 pelo mesmo papel).

Mas sem se tratando de espetáculo à parte, três produções prometem: Michael Douglas, dirigido por Steven Soderbergh, será o pianista Liberace no telefilme da HBO "Behind the Candelabra" (Matt Damon faz o papel do amante de Liberace, Scott Thorson); o comediante inglês Sacha Baron Cohen deverá interpretar Freddie Mercury, da banda Queen; e o rapper americano André 3000 recentemente interpretou o guitarrista Jimi Hendrix no filme "All Is By My Side".

Será interessante acompanhar a saída engenhosa do diretor John Ridley para tentar salvar sua produção. Esta cinebiografia foi alvejada, esta semana, por uma das piores notícias reservadas à este tipo de produção: a família de Hendrix recusou a liberação dos direitos das músicas do guitarrista no filme.