Divórcio de 'Brangelina' indica o fim da Hollywood altruísta
No mundo das celebridades, o fim de Brangelina, como era conhecido o casal Angelina Jolie e Brad Pitt, caiu como uma bomba nuclear. Foi a versão de Hollywood do "brexit" ou do impeachment, chancelando a sensação de fim de mundo que corrói tudo que é certeza no planeta.
A notícia do divórcio incendiou as redes sociais nas últimas 24 horas. O advogado dela disse se tratar de uma decisão pela "saúde da família". Ele se disse "entristecido".
Mesmo antes de juntar os trapos no sul da França há dois anos --contrariando a ideia de, em apoio à causa LGBT, só se unirem quando todos nos EUA pudessem se casar--, coroando um namoro de mais de uma década, eles viraram uma entidade.
Batizaram uma fundação de caridade, tiveram três filhos biológicos e adotaram outros dois, dando cinco irmãos a Maddox, adotado primeiro somente pela atriz, antes do chique enlace com o ex de Jennifer Aniston.
Mas Brangelina não perdeu tempo. No mesmo ano em que Pitt se divorciou da Rachel de "Friends", um ensaio na revista "W" escancarou em 60 páginas toda a felicidade dos pombinhos.
Jolie e Pitt sempre conduziram a união como espetáculo. Eram o casal mais poderoso e glamoroso de Hollywood numa era em que tudo se banalizou, até o elã de uma estrela, negociado a troco de cliques e à mercê de estúdios cotados em bolsas de valores.
Eles eram rei e rainha de um mundo em transe, de celebridades já reféns de uma agenda social. Jolie e Pitt, que adotaram um arco-íris racial de crianças, sepultaram uma série de mitos em Hollywood.
O comercial de margarina que foi esse namoro digno das Nações Unidas --Camboja, Etiópia e Vietnã estão representados entre os filhos do casal, sem contar Shiloh, a primeira filha biológica de Brangelina, nascida na Namíbia-- enterrou a era das celebridades junkie, da diva difícil e do ator meio marginal.
Mesmo os milhões de dólares que ganharam vendendo imagens de seu casamento e de seus filhos ainda na maternidade foram doados aos pobres, num exercício bem calculado de marketing.
Nos últimos anos, Jolie foi assunto em outras seções da mídia. Sua alardeadíssima decisão de retirar seios e ovários por risco de desenvolver câncer deu um verniz de glamour às notícias de ciência, alçando a atriz a porta-voz do combate a uma das doenças mais letais da atualidade.
Noticiada há pouco, a aceitação do casal da vontade de Shiloh de ser chamada de John e vestir roupas de menino foi mais um capítulo dessa agenda de tolerância e luta por direitos civis turbinada pela fama avassaladora.
O casal Brangelina sintetizou uma Hollywood altruísta, mesmo que a serviço dos tabloides. Seu fim indica a dissolução de uma era --e, quem sabe, o retorno da meca do cinema ao culto a celebridades dispostas a trafegar pelo submundo.
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