Em trabalho social com detentas, Andressa Urach retoma a própria história e busca recomeço
Há mais de um ano afastada das baladas, clínicas de cirurgia plástica e motéis com jogadores de futebol, Andressa Urach agora busca todas as respostas na redenção —não só a própria, mas a de detentas e menores infratoras com quem faz trabalho voluntário.
Ela falou ao "F5" sobre a nova rotina e o rumo que tomou após se recuperar da infecção que quase a matou em 2015. Agora evangélica, se comprometeu ao celibato voluntário por três anos, inverteu seus valores e se afastou das velhas companhias para evitar cair em tentação.
Munida de seu livro, "Morri Para Viver", faz sua cruzada em presídios femininos pelo país e busca levar às detentas, com uma mistura de pregação e palestra motivacional, alguma esperança em meio à situação de marginalidade.
"A grande maioria delas tem uma história parecida com a minha, então quando eu falo, elas param para ouvir", se anima Andressa. "Elas acham que não tem mais jeito, que vão sair dali e voltar para o crime ou que vão morrer cedo".
A sensibilidade da ex-modelo com a causa remete à própria história relatada no livro: por muito pouco esse não foi seu destino. Antes da fama, a prostituição a colocou frente a frente com o universo do crime várias vezes. Envolvida com traficantes e bandidos, chegou a temer amargar anos na prisão.
"A sociedade discrimina essas mulheres. Quando mulheres são presas, dificilmente os homens vão visitá-las na cadeia. Elas perdem guarda dos filhos, perdem contato com a família, quando saem não têm mais ninguém", se compadece. "São pessoas que já sofreram tudo que tinham para sofrer. Tiveram infâncias difíceis, sem afeto. Caíram no crime e na prostituição, perderam tudo. Elas precisam de esperança para quando saírem, recomeçarem".
barraqueira
Para se aproximar das novas espectadoras, Andressa aprendeu a apelar para a antiga imagem "trash" da qual tem feito de tudo para se desvencilhar.
Aquela Andressa que perseguia paparazzi vestindo apenas tinta de pele e cuspiu na cara de outra participante durante uma briga na "Fazenda" é motivo de vergonha no Templo de Salomão, mas ídola no presídio.
"Elas se identificam, elas acham o máximo aquele comportamento que eu tinha. Teve uma que contou que era comparada a mim porque também cuspiu na cara de outra presa", lembra. "E aí, quando eu digo que mudei, que não faço mais essas coisas, elas param para me escutar".
O recém-descoberto lado cristão fez aflorar uma sina redentora: "Não acredito que quem fez algo errado é uma pessoa má. Elas precisam de ajuda."
i'm still alive
As histórias de superação também estão no cotidiano de Andressa no trabalho: logo que se converteu, ela foi contratada pela Record para comandar o quadro "Eu Sobrevivi", do "Domingo Show". Grata à emissora, agora quer fazer faculdade de jornalismo, "para crescer dentro da profissão". E o celibato ainda lhe dá tempo de sobra para se ocupar com a maior prioridade no momento: o filho Arthur.
"Durante dez anos eu fui uma péssima mãe. Agora ele precisa de mim mais do que nunca, porque está entrando nessa fase de transição da pré-adolescência". O medo não é infundado: foi nessa idade em que Andressa definiu o próprio destino, quando rompeu com a mãe e caiu no mundo.
"Faço lição de casa com ele todos os dias, estudo para as provas, coisas que eu nunca tinha feito: desde ver se ele tomou banho direito até dar um dengo", conta. Até o início do ano passado, Arthur morou com a avó no Rio Grande do Sul.
As diversões também viraram outras: cinema, parques e restaurantes. "Minha rotina virou diurna. Aprendi que a forma como eu me comporto vai refletir na vida dele, criança absorve tudo", conclui.
Na época em que revelou todo o seu passado escabroso no livro, ela se abriu com o filho: "Eu contei para ele todas as coisas horríveis que eu fiz. Pedi perdão, disse que estava viva e queria recomeçar".
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