Celebridades

"Nada cria raízes na televisão", diz ator Francisco Cuoco, que volta aos palcos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Francisco Cuoco construiu sua reputação ao longo da extensa trajetória como galã de cinco dezenas de telenovelas. Prestes a completar 80 anos, em novembro, o ator parece agora voltar o foco ao berço de sua carreira: o teatro.

Formado pela Escola de Artes Dramáticas da USP e testemunha viva da modernização da cena nacional talhada pelos figurões do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), muitos deles vindos da Europa, Cuoco retorna aos palcos com "Uma Vida no Teatro", peça que estreia amanhã, no teatro Vivo.

Nos anos 1990, houve uma lacuna em que Cuoco não encenou praticamente nada no teatro. A retomada teve início em 2004, com "Três Homens Baixos", de Rodrigo Murat, besteirol em que três amigos debochavam da impotência sexual de um deles, da saída do armário de outro, da vida secreta dos machos, enfim.

Crédito: Lenise Pinheiro/Folhapress Francisco Cuoco como Robert em "Uma Vida no Teatro", direção de Alexandre Reinecke para texto de David Mamet
Francisco Cuoco como Robert em "Uma Vida no Teatro", direção de Alexandre Reinecke para texto de David Mamet

Em 2009, Fernanda Torres resgatou Cuoco de sua própria inclinação essencialmente comercial e convidou-o a atuar na montagem "Deus é Química", que não fez temporada em São Paulo. Era popular também, mas nada comparável ao tom de "Circuncisão em Nova York" (2008), com texto de João Bethencourt.

No ano passado, nova investida cênica, dessa vez com ares de sofisticação: Charles Möeller e Claudio Botelho o chamaram para substituir Gracindo Jr. no musical "Judy Garland - O Fim do Arco-Íris".

Hoje, além de protagonizar "Uma Vida no Teatro", com direção de Alexandre Reinecke, Cuoco tem convite para fazer uma releitura de "Ricardo 3º", de Shakespeare, dirigida por Gabriel Villela.

Foi sondado, ainda, para substituir Antonio Petrin em "Hamlet", com direção de Ron Daniels, e Thiago Lacerda no papel central. Rejeitou o trabalho porque não queria fazer peças longas. Gosta de espetáculos com 1h30 de duração.

"Fico abismado quando vejo [o diretor] Aderbal [Freire- Filho] montar um texto que tem cinco horas. Daí eu digo: 'O que é que eu faço? Levo marmita? Levo o banheiro junto?'", pergunta.

"Uma Vida no Teatro" tem uma hora e meia de duração e rasgos de comicidade, mas, conforme a peça aproxima-se do final, vai adquirindo contornos dramáticos.

Com texto assinado pelo americano David Mamet, contorna fórmulas tradicionais para flertar com o teatro do absurdo, quase beckettiano.

A peça parece uma ovelha negra no repertório de Cuoco, que sente-se mais estimulado a trabalhar com textos simples, sem arroubos experimentais. "Fui convidado pelo Reinecke para uma peça muito complexa. Achei que, para mim, era confusa. É fundamental para o ator entender o que ele tem que estudar", diz.

Filho de entalhador e dono de uma voz grave e assertiva, Cuoco fala com saudosismo de sua infância. "Não tenho preconceito em relação a nada. Sou do Brás, de um sobradinho alugado."

GALÃ DOS TAXISTAS

O rótulo de galã "sempre ajudou muito", diz. "Na verdade, eu sempre adorei esse rótulo, porque eu era o gostosão das mulheres; depois, dos homens. 'Pecado Capital', 'Selva de Pedra', 'O Astro'... Não tem um motorista [de táxi] que não fale sobre o meu papel nessas novelas", diz.

Ele critica a ascensão instantânea de atores muito jovens ao posto de celebridade. Conta que estreou no TBC em uma peça chamada "A Muito Curiosa História da Virtuosa Matrona de Éfeso", no papel de um gladiador "que já entrava morto em cena".

"Aquilo já era uma premiação para mim, apesar de ter quatro anos de escola", diz. "É uma escada necessária. O jovem acha que não precisa dela, não tem paciência, principalmente porque a TV o pega e já o bota, no ano seguinte, como protagonista."

Ainda sobre a televisão, afirma que o ambiente não permite formação de laços. "São amizades bem frágeis. Em televisão, nada cria raízes. Se você me perguntar, não sei onde moram Tarcísio e Glória nem tenho o telefone deles. Claro que eu os conheço, mas a gente fica três anos sem se ver e sem se falar."

UMA VIDA NO TEATRO
QUANDO sex., às 21h30; sáb., às 21h; dom., às 18h (até 1º/9; não haverá sessões em 10, 17, 24 e 31/8)
ONDE Teatro Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan, 860; tel. 0/xx/11/4003-1212)
QUANTO de R$ 25 a R$ 60
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias