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Por que a morte de milhares de antílopes é uma boa notícia para uma das principais reservas naturais do mundo

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Selo BBC Brasil

Parte dos animais que migram da Tanzânia ao Quênia em busca de alimento morre ao atravessar um rio, mas as consequências contrariam o senso comum.

Todos os anos, em setembro, mais de um milhão de gnus - acompanhados de zebras, gazelas e outros mamíferos - migram no leste da África em busca de novas pastagens.

A jornada da Tanzânia ao Quênia é considerada a maior migração animal da Terra, mas também uma das mais perigosas.

Na rota, esses antílopes africanos precisam atravessar várias vezes o rio Mara, que cruza os dois países. Trata-se de um rio raso com cerca de 40 metros de largura.

Ao fazer a travessia, milhares de animais morrem afogados ou atacados por crocodilos que habitam a região.

À primeira vista, pode parecer uma tragédia da natureza, mas é justamente o contrário: os corpos desses animais fornecem diversos nutrientes que revitalizam o ecossistema do rio. É o que mostra um estudo publicado recentemente na revista científica americana "PNAS".

Zebras e gnus cobrem planície no parque nacional do Serengueti, ao norte da Tanzânia, em foto de 2009
Zebras e gnus cobrem planície no parque nacional do Serengueti, ao norte da Tanzânia, em foto de 2009 - Juliana Bussab/Folhapress

ALIMENTO EM ABUNDÂNCIA

Em média, cerca de 6,2 mil gnus morrem afogados por ano, liberando por volta de 1,1 mil toneladas de biomassa na correnteza do rio.

A quantidade equivale ao peso de dez baleias azuis, segundo Amanda Subalusky, pesquisadora da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e principal autora do estudo.

Essa biomassa inclui cem toneladas de carbono, 25 toneladas de nitrogênio e 13 toneladas de fósforo.

Embora o número de gnus mortos possa parecer alto, é uma fração pequena do total: um em cada 200 morre ao atravessar o rio Mara.

Os crocodilos e aves de rapina são os primeiros a se beneficiar da oferta de alimentos em abundância.

Mas como os nutrientes são liberados lentamente — o tecido mole dos gnus leva um mês para se decompor e os ossos demoram até sete anos — peixes e insetos também são beneficiados.

De acordo com os pesquisadores, a contribuição nutricional deste fenômeno tem impactos ecológicos que podem ser medidos em meses e em uma área muito mais ampla do que o local exato em que acontece.

Curiosamente, os crocodilos não são os que mais se alimentam destes nutrientes, uma vez que são animais com o metabolismo relativamente lento e que se saciam facilmente.

Antílopes e zebras se preparam para atravessar o rio Mara, que corta a reserva nacional Masai Mara, no Quênia, em foto de 2007
Antílopes e zebras se preparam para atravessar o rio Mara, que corta a reserva nacional Masai Mara, no Quênia, em foto de 2007 - Reuters

MIGRAÇÕES FREQUENTES

Os pesquisadores afirmam que esse tipo de migração em massa era muito mais frequente no passado.

Subalusky cita como exemplo o caso dos bisões na América do Norte. Atualmente, há poucos espécimes selvagens destes mamíferos, que já não podem se mover livremente pela grande quantidade de cercas que delimitam seu habitat natural.

Para a pesquisadora, a falta de fósforo em muitos ecossistemas de rios nos Estados Unidos pode ser resultado da falta de mortes em massa de bisões.

Segundo ela, o desaparecimento deste tipo de evento "pode alterar fundamentalmente o funcionamento dos ecossistemas fluviais".

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