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Descrição de chapéu The New York Times terrorismo

Sem achar sobreviventes, cães de busca foram inspiração no 11 de Setembro

Exposições em NY destacam os esforços dos animais após atentado

Escultura em tamanho real de pastor alemão

Escultura em tamanho real de pastor alemão NYT

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Sarah Bahr
The New York Times

Por mais de duas semanas depois do colapso das torres gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001, centenas de cachorros de resgate e busca vasculharam as ruínas ainda fumegantes em busca de sinais de vida.

Ricky, um rat terrier de 43 centímetros de altura, conseguia se enfiar nos espaços mais estreitos. O pastor alemão Trackr, vindo do Canadá, vasculhou os destroços por dois dias –e em seguida despencou, esgotado, pela inalação de fumaça, exaustão e queimaduras. Riley, um golden retriever de quatro anos, vasculhou fundo nos destroços e ajudou a localizar os corpos de diversos bombeiros.

“Chegamos lá na expectativa de encontrar centenas de pessoas soterradas”, disse Chris Selfridge, de Johnstown, Pensilvânia, o adestrador de Riley. “Mas não encontramos qualquer pessoa viva”.

Embora não houvesse muitos sobreviventes a encontrar em meio à destruição, a devoção dos cachorros ao seu trabalho se tornou inspiração para os trabalhadores médicos de emergência e as outras pessoas que testemunharam aqueles esforços urgentes de resgate. Agora, com a aproximação do 20º aniversário dos ataques, esses esforços estão sendo celebrados em uma exposição aberta no dia 1º de setembro no Museum of the Dog, do American Kennel Club.

Intitulada “O 11 de Setembro Relembrado: Cachorros de Busca e Resgate”, a exposição também vai além dos parâmetros do 11 de setembro e busca reconhecer o trabalho de cachorros em outros desastres, não apenas nos Estados Unidos mas em todo o mundo. A mostra também incluirá diversas obras da DOGNY, uma iniciativa de arte que destaca esculturas em tamanho natural de pastores alemães. Cerca de cem delas foram expostas em Nova York depois dos ataques.

“Espero que a ocasião atual seja mais inspiradora”, disse Alan Fausel, o diretor executivo do museu. “Também podemos destacar alguns desfechos mais brilhantes e mais positivos: Rex of White Way possibilitou o resgate de um trem inteiro na Sierra Nevada, na década de 1950, e falaremos de são-bernardos como Barry, um cachorro muito famoso no mosteiro de St. Bernard, na Suíça, cujas equipes resgatam vítimas de avalanches”.

A mostra serve como extensão de uma exposição em cartaz temporariamente no 9/11 Memorial & Museum, na zona sul de Manhattan, chamada “K-9 Courage”, que foi aberta em janeiro de 2020 mas terminou sendo pouco vista por causa da pandemia. A exposição, que ficará em cartaz até o segundo trimestre de 2022, destaca os retratos de 15 cachorros que ajudaram nos esforços de resgate no “ground zero”, o epicentro do ataque em Manhattan, registrados pela fotógrafa Charlotte Dumas em 2011, para marcar a ocasião do 10 aniversário do ataque. Os retratos são acompanhados por imagens que mostram os animais trabalhando no local do ataque.

“Basta olhar para os olhos deles, na velhice, e é possível imaginar, com a ajuda das fotos documentais, aquilo que eles viram”, disse Alice Greenwald, presidente-executiva do museu. “Mas ao mesmo tempo você sabe que eles viveram vidas de serviço, e certamente existe uma satisfação nisso –tanto para os cachorros quanto para os seres humanos”.

Cerca de 2.750 pessoas foram mortas quando o grupo terrorista Al Qaeda sequestrou dois aviões e forçou sua colisão com as torres gêmeas do World Trade Center, fazendo com que ambas desabassem em pouco mais de 102 minutos.

Uma nuvem de fumaça ácida envolveu a parte sul de Manhattan e o país lamentou. Centenas de equipes de resgate vindas de todo o território dos Estados Unidos foram enviadas ao “ground zero” a fim de participar da busca por sobreviventes, e os primeiros cachorros, das equipes de busca e resgate da unidade canina da polícia de Nova York, chegaram ao local da Torre Sul apenas 15 minutos depois de seu desabamento. As equipes trabalharam em média por 10 dias, em turnos de 12 horas diárias.

A polícia de Nova York informou que, embora sobreviventes tivessem sido localizados em meio aos destroços, nenhum desses resgates foi como resultado direto do trabalho dos cachorros. Mas diversas pessoas atribuem a Trackr, um cão policial aposentado, o crédito por um resgate. O adestrador dele, um policial canadense que foi de carro da Nova Escócia a Nova York, terminou suspenso em seu emprego quando pessoas de seu departamento o viram na televisão ajudando no trabalho de resgate. (Jane Goodall mais tarde lhe entregou uma medalha de serviço humanitário.)

A veterinária Cynthia Otto, diretora do Penn Vet Working Dog Center, em Filadélfia, que cuidou dos cachorros que trabalhavam no local do ataque, disse que, na maior parte dos casos, as lesões dos animais foram “bastante amenas” –cortes e arranhões nas patas, nas solas e na barriga, além de fadiga e exaustão causada pelo calor. O maior desafio, ela disse, era a frustração de trabalhar por horas nas buscas sem encontrar sobreviventes. Quando os cachorros começavam a se sentir desencorajados e perder a motivação para continuar as buscas, os adestradores tinham de encenar “falsas descobertas” para que os cachorros sentissem estar realizando o trabalho esperado.

“Quando são treinados, eles não passam horas realizando buscas sem encontrar qualquer sobrevivente”, disse Otto em uma entrevista recente por telefone. “É preciso lembrar aos cachorros, de vez em quando, que eles às vezes vencem”.

A golden retriever Bretagne (pronuncia-se “brítani”), que tinha dois anos de idade, chegou ao local do ataque uma semana depois do atentado, e passou 10 dias buscando sobreviventes. Ela dormia em um canil no Jarvits Center, em companhia de sua adestradora, Denise Corliss, engenheira elétrica texana que viajou para Nova York com a Força-Tarefa 1, do Texas, uma das 28 equipes que formam o Sistema Nacional de Busca e Resgate Urbano da Administração Federal de Emergências (FEMA).

Corliss, 56, disse que Bretagne, que morreu em 2016, foi o último cachorro de serviço sobrevivente, entre os empregados pela agência no local do ataque. A cadela reconfortava os trabalhadores das equipes de resgate e bombeiros, que se aproximavam dela e a acariciavam. Eles não demoraram a se abrir com Corliss, contando histórias sobre amigos e colegas perdidos no ataque, e sobre seu esforço para encontrá-los.

“Um cavalheiro se aproximou e começou a acariciar Bretagne, e comentou que na verdade não gostava de cachorros”, disse Corliss. “O que me surpreendeu, porque ele se ajoelhou no chão para acariciá-la. Fiz uma cara de espanto, e ele contou que o melhor amigo dele amava cachorros, e tinha um golden retriever, e acrescentou, apontando para os destroços, que esse amigo estava soterrado em algum lugar por lá. O cachorro era como que uma conexão com o amigo que ele perdeu”.

E é isso, disse Fausel, que o Museum of the Dog espera capturar com sua nova exposição. “Os cachorros de busca e de resgate não encontraram qualquer pessoa sob as pilhas de destroços”, ele disse. “Mas acho que, de alguma maneira, eles ajudaram a resgatar as pessoas que estavam envolvidas naquele esforço de busca”.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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