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Vida de 'cam girl': 'Meu primeiro orgasmo foi na frente da câmera'

Uma das mulheres que trabalha como "cam girls"
Uma das mulheres que trabalha como "cam girls" - Reprodução/Instagram
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Natacha Cortêz
UOL

Exibir o corpo na internet para um espectador desconhecido em troca de dinheiro é profissão e alimenta uma indústria bilionária, que só em 2016 lucrou aproximadamente US$ 3 bilhões (cerca de R$ 9,7 bilhões).

"Cam girls" ("Mulheres Câmera", em tradução livre) são as protagonistas desse mercado, que tem no sexo seu principal combustível. Na prática, uma "cam girl" tem a tarefa de instigar desejo e gozo, além de levar descontração e relaxamento para quem a assiste.

"Nem sempre a audiência está atrás de orgasmos. Às vezes, a pessoa quer apenas esquecer do dia de merda que teve", conta A.*, 23, que há dez meses reserva suas madrugadas para entreter voyeurs.

LiveJasmin, a maior plataforma para "cam girls" do mundo, recebe entre 35 e 40 milhões de visitantes por dia e tem cerca de 2.000 pessoas se exibindo. Ali não são apenas mulheres que estão atrás da câmera. Existem homens, casais, duplas, trios e até grupos. E há todo tipo de gente. Padrão não é necessariamente algo bom para os negócios quando o assunto é fetiche.

"As pessoas gozam com as coisas mais doidas que você pode imaginar. Tem cliente que sente tesão sendo humilhado por ter pau pequeno", diz Queen Lagertha, "cam girl" desde 2015.

Ouvimos cinco brasileiras que trabalham como "cam girls" em sites dedicados aos stripteases caseiros. Elas contam o que as levaram a despir o corpo na internet, entregam os pedidos mais inusitados da audiência e o que aprenderam sobre si mesmas depois que entraram para a atividade.

"Tinha cliente que sentia tesão sendo humilhado por ter pau pequeno"

 

"Sou fotógrafa e musicista. Moro no Canadá desde 2015 e no início, quando meu visto não me permitia trabalhar, era 'cam girl' em tempo integral. Isso durou um ano e meio, pelo menos. Tinha mil bloqueios em relação à sexualidade por ter sido criada em uma sociedade machista e cheia de julgamento. Eu me libertei disso quando passei a exercer a atividade. Gosto de fetiche, mas foi só quando me livrei das minhas próprias barreiras que pude realmente usufruir, de forma natural. Comecei por dinheiro, com certeza. Poderia ter feito outras coisas para ganhar uma grana, mas escolhi sexo porque gosto de sexo. Quando você trabalha com isso, precisa entender das coisas. Fui estudar. Estava completamente fascinada. De repente, tinha de atender clientes que sentiam tesão sendo humilhados por terem pau pequeno. Teve ainda um moço que me pediu para colocar um episódio do Pato Donald no YouTube, enquanto eu fingia ser a bruxa má da história. Nos períodos que mais trabalhei, tirava uns 500 dólares a cada 15 dias." (Queen Lagertha, 32)

 

"Meu primeiro orgasmo foi na frente de uma câmera"

"Tinha 20 anos quando decidi ser uma 'cam girl'. Umas amigas já eram, e isso tornou minha entrada mais fácil. Não fui atrás de dinheiro, queria era experimentar algo novo. Minha sexualidade sempre foi muito reprimida, tinha problemas de autoimagem e fazia um tempo que enfrentava a bulimia. Minha ideia era estar ali para me sentir mais bonita. E foi o que aconteceu. Não sou nenhuma modelo, pelo contrário: sou mais gordinha, tenho estria, celulite e nenhuma bunda. Pode parecer loucura me jogar logo no mundo do sexo, tão cheio de preconceitos. Mas o que vi ali, sendo uma 'cam girl', é que só chega em você quem gosta de você. Isso tem me protegido. Tanto que meu primeiro orgasmo foi na frente de uma câmera, para uma audiência de 20 pessoas. Eu me masturbava em cima da minha cama quando rolou. Penso que ser uma 'cam girl' é uma atividade que transcende a pornografia, é mais que vender o corpo, é se entender melhor.” (M., 22)

 

"Faço 300 dólares por final de semana"

"Tem dois anos que trabalho como 'cam girl'. Na verdade, é meu segundo trabalho, que só faço às sextas, sábados e domingos. Durante a semana, sou fotógrafa. Comecei a ser 'cam girl' para pagar um intercâmbio. O dinheiro veio relativamente fácil e me empolguei. Hoje, em um final de semana de muitas horas on-line, faço US$ 300. De forma geral, os clientes que atendo procuram satisfazer seus fetiches. Existe homem hétero que gosta de se vestir de mulher e colocar a lingerie da parceira. Para mim, ser uma 'cam girl' nunca foi só sobre satisfazer o prazer do outro, mas sobre entender mais do meu corpo, dos meus desejos. É uma experiência que julgo só minha e por isso ninguém da minha família sabe.” (G., 31 anos).

 

"Nunca soube que era criativa até entrar nesse mundo"

“Comecei a ser ou 'cam girl' em 2013, aos 19 anos. Foi a depressão e o tédio da época da faculdade de direito que me levaram à atividade. Nunca soube que era uma pessoa criativa até entrar nesse mundo. Sou 'cam girl' em tempo integral. Trabalho para várias plataformas, mas nenhuma com contrato exclusivo. Sou em quem decide minha rotina, assim como outras 'cam girls'. Meus espectadores são americanos, mas a média de idade varia. Tem homens de 18 e de 80 anos. Tem gente que me assiste com a mulher, tem quem assiste para só beber junto e ouvir música. Não sou hipersexual na frente da câmera, sou mais uma amiga. Meus shows são muito divertidos e terminam em masturbação às vezes, mas não é esse o foco. Meus pais aceitam minha profissão. Mas não é a regra, muitos abandonam suas filhas por escolherem essa atividade. Ser 'cam girl' me permitiu conhecer meu corpo, a sexualidade humana e quebrar tabus. Venci a depressão e ajudei outras pessoas com problemas parecidos com os meus. Não sou terapeuta e nenhuma 'cam girl' é, mas conheço muitas que se interessaram pela psicologia no caminho.” (Gween Black, 24)

 

"Mostrar o corpo na internet reforçou minha autoestima"

“Ser 'cam girl' e atriz pornô seria a mesma coisa? Particularmente, acho que não. No pornô, você está presa em um sistema exploratório. Como 'cam girl', tenho autonomia de fazer o que quiser com o meu corpo, a hora que quiser. Sou eu quem decide estar ali. É uma escolha e, no meu caso, muito consciente. Se me masturbo, é porque quero. Se não quero mostrar o rosto --o que é regra para mim---, não mostro. Faz uns seis meses que passei a tirar a roupa para desconhecidos. Meu motivo? Diria que é um misto de prazer e diversão. É um jeito de explorar minhas fantasias, brincar com a minha sexualidade. Por fim, acredito que mostrar o corpo na internet reforçou minha autoestima. Dinheiro não importa por enquanto, até porque passo poucas horas por semana na frente da câmera. A comissão que acabo ganhando é ínfima. No mês passado, deu um pouco mais de cem dólares.” (B., 27)

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