Se a Microsoft desse voz às mulheres, o (muito odiado) Clippy poderia nunca ter existido. É o que argumenta um documentário sobre machismo no setor da tecnologia chamado "CODE: Debugging the Gender Gap", que estreou nesse ano nos Estados Unidos.

Roz Ho, que era executiva da Microsoft na época em que Clippy foi desenvolvido, comentou no filme que o personagem foi reprovado nos grupos focais de teste com os usuários, especialmente porque as mulheres achavam que o clipe lembrava um homem pervertido.

O assistente do Word, introduzido em 1996 no software, era conhecido pela sua postura invasiva durante o uso do Word, interrompendo frequentemente a escrita para dar dicas básicas (básicas demais, diriam alguns).

"A maioria das mulheres achava que os personagens eram muito masculinos e que pareciam estar encarando elas como pervertidos sexuais. Então estávamos na sala de conferências. Eu e acho que uns 11 ou 12 caras, e estávamos olhando os resultados [dos grupos] e eles disseram: 'Não estou enxergando isso. Não sei do que você está falando'. E eu disse 'cara, olha, eu sou uma mulher e estou dizendo para vocês, esses personagens estão meio masculinos demais'", contou Roz Ho.

O resultado, todos já sabem: Clippy foi lançado mesmo assim, se tornando um símbolo de uma má ideia para os usuários de computadores no mundo todo. O software tinha dez opções de assistentes masculinos e apenas dois femininos, acrescenta Ho.

O documentário mostra como os processos decisórios por trás das empresas de tecnologia eram e são dominados por homens.

No caso do Clippy, os dados dos grupos focais, que custaram centenas de milhares de dólares para serem produzidos, foram jogados fora quando não corresponderam às expectativas dos executivos da Microsoft, ainda que houvesse uma rejeição clara do público feminino.