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Descrição de chapéu The New York Times casamento

Casamento virtual? Metaverso cria cerimônia livre dos limites da realidade

Mesmo sem efeito legal, casais e convidados usam avatares em união

Os avatares do casal em um cenário inspirado em Hogwarts

Os avatares do casal em um cenário inspirado em Hogwarts

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Steven Kurutz
The New York Times

Traci e Dave Gagnon se conheceram na nuvem, e por isso fazia completo sentido que o casamento deles também acontecesse nela. No começo de setembro do ano passado, o casal –ou melhor, seus avatares virtuais– realizou uma cerimônia organizada pela Virbela, uma empresa que cria ambientes virtuais de trabalho, aprendizado e para eventos.

O avatar de Traci Gagnon foi levado ao altar pelo avatar de um grande amigo dela. O avatar de Dave Gagnon assistiu ao discurso feito pelo avatar de seu padrinho. E os avatares de duas gêmeas de sete anos de idade (uma carregando flores e a outra o anel de casamento) dançaram na recepção.

Como o mundo virtual imersivo conhecido como metaverso, que poucos de nós compreendemos, mudará o casamento tradicional é uma questão, por enquanto, aberta a qualquer resposta. Mas as possibilidades de realizar um evento que não precise respeitar de maneira alguma os limites da realidade são interessantes o bastante para merecer consideração.

Por conta da pandemia da Covid-19, a tecnologia já está sendo incorporada a cerimônias em grau muito maior do que no passado. Casamentos via Zoom foram realizados, e algumas cerimônias realizadas da maneira tradicional agora incorporam streaming, para convidados que não possam comparecer. No ano passado, um casal que teve de cancelar sua cerimônia de casamento por causa da pandemia realizou uma cerimônia (sem valor legal) dentro do popular videogame Animal Crossing.

Como uma cerimônia realizada dentro de um videogame, qualquer casamento que ocorra apenas no metaverso não terá valor legal, por enquanto. (Mesmo casamentos virtuais realizados por teleconferência, que muitos estados americanos autorizaram durante os lockdowns da pandemia, foram suspensos depois disso, no estado de Nova York e outros lugares.) Mas o metaverso com certeza conduzirá essas celebrações virtuais muito mais longe, dizem especialistas, e oferecerá possibilidades quase ilimitadas aos casais.

"Não há limitações", disse Sandy Hammer, fundadora da Allseated, que cria recursos digitais de planejamento de casamentos. A empresa está investindo no metaverso ao criar versões virtuais de espaços para eventos do mundo real, como o Plaza Hotel, de Nova York. "Se você realmente quer fazer alguma coisa diferente, no metaverso é possível deixar que a imaginação corra completamente livre".

Imagine listas de convidados com milhares de nomes. Listas de presentes que incluem objetos digitais, ou NFTs. Talvez casamentos realizados no espaço.

"As pessoas vão levar os amigos em uma viagem de foguete", disse Hammer, acrescentado que ela imagina festas de casamento virtualmente. "Uma noiva pode levar seus convidados com ela pelo metaverso. A parte matinal da festa pode acontecer na Itália e a noturna em Paris".

Nathalie Cadet-James, designer e planejadora de casamentos radicada em Miami, está abordando o metaverso com "a empolgação de uma principiante", e tentando antecipar de que maneira o seu papel irá mudar. "Acredito que o meu papel será mais como o de uma produtora ou diretora de cinema", disse Cadet-James. "Eu poderia criar um cenário com recursos adicionais. Flores poderiam surgir do piso quando uma pessoa entra em um ambiente. Poderia acrescentar detalhes fantasiosos e especiais –porque teríamos essa capacidade".

É claro que tudo isso exigiria habilidades de um engenheiro de software, um profissional que normalmente não consta dos orçamentos de festas de casamento no momento.

Os Gagnon realizaram uma espécie de casamento híbrido. Os dois realizaram uma cerimônia convencional no dia 4 de setembro no Atkinson Resort & Country Club, em New Hampshire, onde eles moram, em uma união oficiada por David Oleary, um amigo do casal ordenado pela Igreja Universal da Vida, e ao mesmo tempo conduziram uma cerimônia virtual com a ajuda da Virbela.

O casamento deles foi transmitido por streaming para os convidados que não puderam comparecer. Os convidados da cerimônia virtual tiveram de baixar um software em seus computadores e criar um avatar.

Tanto Traci Gagnon, 52, quando seu marido Dave, 60, trabalham como corretores de imóveis na eXp Realty, uma corretora que abraçou o trabalho virtual e o metaverso e é parte da eXp World Holdings, que também controla a Virbela.

Antes de o casal se conhecer pessoalmente, seus avatares se encontraram em um evento da empresa em Las Vegas, em 2015. E quando anunciaram seu noivado, em 2019, os colegas de trabalho se ofereceram para converter o espaço virtual da Virbela em um local para casamentos, gratuitamente. (Traci Ganon estimou que a cerimônia virtual teria custado US$ 30 mil (R$ 160 mil), caso eles tivessem de pagar; representantes da Virbela se recusaram a revelar o preço do evento.)

O casal Gagnon enviou para a equipe de eventos da Virbela e os engenheiros de software fotos que os mostravam em suas roupas de casamento e da decoração que teriam no local da cerimônia, e a equipe da empresa incorporou detalhes personalizados, como a decoração com flores e imagens do local em que aconteceria o casamento físico, à cerimônia virtual.

"Eles conseguiram reproduzir meu vestido de casamento e acrescentar detalhes como um pequeno halo florido para enfeitar meu cabelo", disse Traci Gagnon.

Patrick Perry, diretor de vendas de eventos e de parcerias na Virbela, disse que o custo de realizar um evento no metaverso "depende do que o cliente quer", acrescentando que "se um engenheiro precisar criar um salão de baile de hotel ou algo desse tipo, o custo sobe", de alguns poucos milhares de dólares para bem mais de US$ 10 mil (R$ 53 mil).

Mas, disse Perry, à medida que o metaverso for sendo construído, "haverá mais recursos aos quais será possível ter acesso instantâneo" Os casais poderão selecionar locais, flores, mesas, vestidos, música e outros elementos, de um cardápio extenso.

A Virbela foi concebida para ser uma plataforma imersiva para que organizações realizem eventos virtuais, e criem um senso de comunidade no metaverso. Mas usuários pediram que a companhia organizasse festas de formatura e de bar mitzvah, casamentos e outras celebrações. Recentemente, disse Perry, a Virbela começou a estudar o mercado de casamentos, e está planejando cerimônias para alguns casais.

Hammer disse que a Allseated ainda não trabalhou com um casal interessado em realizar um casamento que aconteça apenas no metaverso. Além das considerações sobre a legalidade de uma cerimônia desse tipo, um evento híbrido como o dos Gagnon "é muito mais procurado, e muito mais realista", ela disse, "porque os casais querem as duas experiências, real e virtual".

Para Traci Gagnon, que contratou duas pessoas para registrar seu casamento em vídeo, uma para as cenas reais e outra para transmitir imagens da cerimônia à nuvem, a graça de incluir o metaverso no casamento era a conexão que isso oferece.

A madrinha dela, que está doente, pôde acompanhá-la no altar, ainda que virtualmente. E o padrinho de Dave, que não pôde comparecer porque sua mulher teve um problema de saúde, teve a oportunidade de fazer o seu brinde. A experiência de se movimentar por um mundo virtual como avatar –uma versão idealizada da pessoa– cria uma experiência mais imersiva e mais emocionalmente satisfatória do que o Zoom, disse Traci Gagnon.

O metaverso propicia "um nível diferente de conexão", ela disse. "Eu posso usar sempre um vestido tamanho 38, mesmo em janeiro", ela disse, rindo. "E meu cabelo está sempre lindo".

 Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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