Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Viva Bem
Descrição de chapéu The New York Times

Jovem faz sucesso ao criar versão atualizada dos classificados de namoro

Boletim por e-mail destaca solteirões e retoma abordagem mais simples

Imagem do Tinder Akhtar Soomro/Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brian Ng
The New York Times

A cada sexta-feira, quando Randa Sakallah, 27, publica Hot Singles, seu boletim gratuito de paquera, ela o faz com a esperança de conseguir uma conexão. Talvez não um amor eterno, mas um vínculo, ainda que passageiro, entre duas pessoas interessadas em algo mais.

Os emails que ela envia destacam perfis de nova-iorquinos interessados em encontros, descritos ao estilo dos velhos anúncios classificados românticos. Em uma edição, os leitores recebem informações sobre um "amante de ‘spiked seltzer’, ‘beat-boxing’ e dançarino techno extraordinário", e na edição seguinte o boletim oferece um "Pomodoro Papi H31" à procura de sua "bucatini baby".

Cada participante do processo precisa responder a pelo menos três perguntas: qual é seu traço mais tóxico? O que o torna atraente? E o que você procura em um parceiro.​

"É um empurrãozinho com um lado brincalhão para levar as pessoas a falar positivamente delas mesmas quando estão em um ambiente de busca de encontros no qual falar bem de si mesmo sempre parece desconfortável", disse Sakallah em uma entrevista por telefone no mês passado.

Os leitores interessados são encorajados a enviar informações pessoais por email a ela, que as transmite ao "solteiro quente" que atraiu seu interesse e aí cabe ao destinatário levar o processo adiante.

Sakallah criou o boletim Hot Singles no Substack, um serviço online para a publicação de boletins pagos quando se mudou de São Francisco para Nova York, em outubro de 2020. Na época, muita gente solteira, "hot" ou não, estava meio desesperada com a pandemia e as complicações que isso havia trazido para a equação do namoro. Encontrar um potencial parceiro já tinha se tornado complicado o bastante, na era dos apps. "As maneiras existentes de conhecer pessoas pareciam velhas", comentou Sakallah.

Quando ainda vivia na região de São Francisco, Sakallah teve alguma experiência trabalhando no ramo de promover encontros. Ela organizava um evento no qual os participantes faziam 36 perguntas uns aos outros. O questionário, chamado "Lead to Love" [pistas para o amor], foi desenvolvido por um psicólogo para ajudar casais a avaliar seu potencial de intimidade.

Ela também acompanhava uma conta de Instagram chamada Personals, que se baseava nos métodos de paquera via anúncios classificados do passado a fim de ajudar desconhecidos a se conectar de maneiras que parecessem novas (A conta mais tarde foi transformada em um app chamado Lex).

"O que eu comecei a pensar foi que seria bacana criar um perfil para namoros cujo foco fosse a pessoa toda", disse Sakallah, "em lugar de simplesmente uma lista de argumentos que justifiquem por que alguém deveria sair com ela". Ela acrescentou que o formato de perguntas e respostas também "oferece ao parceiro alguma ideia sobre a voz da pessoa".

Avery Bedows, 24, assinante do boletim que entrou em contato com um dos solteiros destacados na publicação, disse que "no Hot Singles, a personalidade de alguém brilha enquanto em algo como Hinge ela fica meio obscurecida". O contato de Bedows não teve retorno, mas ele continua lendo o boletim.

Spenser Mestel ("H32, príncipe das urnas busca eleitora ativa e alma gêmea"), descreve o boletim como "o sonho de uma pessoa solteira". Ele conheceu Sakallah em um grupo que reúne pessoas que escrevem no Substack, e ficou intrigado com a alternativa que ela tinha desenvolvido para os quesitos "forçados e cafonas" de informação que os apps de encontros propõem, como o "duas verdades e uma mentira", do Hinge.

Mestel disse que "os apps me tiram a vontade de viver". Participar do Hot Singles quer dizer que cabe ao outro lado tomar a iniciativa (De fato, duas pessoas o contataram para expressar interesse).

O cansaço quanto aos apps é um sentimento que muitas pessoas parecem estar experimentando, de acordo com Stephanie Tong, diretora do laboratório de Mídia Social e Tecnologias Relacionais da Universidade Estadual Wayne, em Detroit. O esforço para acompanhar os apps de encontros online "começou a parecer quase um segundo emprego", segundo ela.

Que o Hot Single opere como se fosse uma entrevista é útil, disse Tong. Quando pessoas têm de responder perguntas, elas costumam pensar mais e se apresentam de maneira diferente do que fazem quando escrevem um perfil sobre elas mesmas.

Além disso, no caso do boletim de solteiros, o fato de que os perfis sejam escritos por meio de um intermediário "faz com que pareçam mais verdadeiros", ela disse. "Não é uma pessoa escrevendo o quanto ela é ótima e publicando esse texto como perfil –o fato de que outra pessoa tenha escrito o perfil pode torná-lo mais confiável para uma terceira pessoa".

O sucesso do boletim é modesto até o momento. As respostas variam de zero a cinco por solteiro em destaque, e algumas conexões resultaram em namoros de um mês ou dois. A base de assinantes do boletim continua pequena: cerca de 800 pessoas, enquanto as publicações mais populares do Substack chegam a quase 100 mil assinantes.

Mas Sakallah tem uma lista de espera crescente de solteiros que querem ser tema do boletim –mais de 60 nomes e estamos falando apenas daqueles que já passaram pelo crivo de um questionário que ela propõe no Google Forms.

Sakallah começou a escrever uma coluna mensal de conselhos como parte do boletim. O Hot Singles não é uma fonte de renda para ela –Sakallah trabalha no ramo de tecnologia—​, mas mesmo assim ela tem algumas ideias para o futuro como aumentar a frequência do boletim e publicar edições direcionadas.

"O que me interessa mais, pessoalmente, é tornar mais divertida a experiência de namorar e de encontrar pessoas para namorar", ela disse. Desde que isso não envolva aceitar ou rejeitar fotos na tela do celular, Sakallah parece estar no caminho certo.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem