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Viva Bem
Descrição de chapéu The New York Times

Saiba o que as pessoas aprenderam no curso de felicidade de Yale

Dormir, agradecer e ajudar ao próximo são algumas das lições

Laurie Santos (à esq.), professora de psicologia em Yale, conversa com alunos - Monica Jorge - 25.jan.2018/The New York Times
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Molly Oswaks
The New York Times

O curso de felicidade da Universidade Yale, conhecido oficialmente como Psicologia 157: Psicologia e a Vida Boa, é um dos cursos mais populares já oferecidos nos 320 anos de história da universidade.

O curso só foi ministrado em pessoa uma vez, no segundo trimestre de 2018, em forma de palestras para 1.200 espectadores realizadas no maior auditório do campus.

Em março daquele ano, uma versão gratuita em forma de dez palestras semanais em vídeo, oferecidas via Coursera com o título "A Ciência do Bem-Estar", também conquistou popularidade instantânea, atraindo centenas de milhares de espectadores online.

Mas quando os lockdowns começaram, cerca de dois anos mais tarde, o número de matriculados disparou. "Octuplicamos o número de pessoas que fazem o curso", diz Laurie Santos, professora de psicologia em Yale e diretora do Silliman College, sobre a popularidade das aulas na era da pandemia.

"Todo mundo sabe o que é precisa fazer a fim de preservar a saúde física: lavar as mãos, respeitar o distanciamento social e usar máscara", acrescenta. "Mas as pessoas enfrentam dificuldade para proteger sua saúde mental."

O currículo do curso oferecido via Coursera, adaptado daquele que Santos leciona em Yale, pede que os estudantes, entre outras coisas, registrem dados sobre seu padrão de repouso, mantenham um diário de gratidão, façam gentilezas para desconhecidos, e anotem se, ao longo do programa, esse comportamento pode ser correlacionado a uma mudança positiva em seu humor, em termos mais amplos.

Gretchen McIntire, 34, que trabalha como assistente de saúde domiciliar em Massachusetts, está fazendo graduação em psicologia por meio de um curso online da Southern New Hampshire University. Em seu tempo livre durante o lockdown, em agosto, McIntire fez o curso da Yale. E disse que isso "mudou sua vida".

O aspecto prático do curso oferecido pela Coursera atraiu McIntire, que foi diagnosticada como portadora da síndrome de Asperger aos 23 anos de idade. Notívaga, ela tinha dificuldade para dormir e para delimitar seus horários. "É difícil estabelecer limites para você mesma, às vezes, e perceber que, embora um livro seja empolgante, ele pode esperar até amanhã, porque dormir é mais importante", diz McIntire.

"Isso é disciplina, certo? Mas era algo que eu nunca tinha feito dessa maneira, pensando em que agir assim me tornaria mais feliz. Não era só o caso de fazer algo que é bom para mim, mas de fazer algo que vai me tornar genuína e legitimamente mais feliz."

Ela disse que descobriu que sua prática diária de meditação ajudava e manteve o hábito mesmo depois de concluir o curso. A meditação também a ajudou a deixar de lado a mídia social.

"Apanhei-me olhando mais para minha vida interior. O curso me ajudou a me tornar mais introspectiva", diz. "Honestamente, foi a melhor coisa que já fiz." (Mais tarde ela voltou a instalar os apps de mídia social em seu celular, entre os quais o Facebook Messenger, e diz que se sentiu imediatamente sobrecarregada.)

Tracy Morgan, supervisora de programação do Bob Snodgrass Recreation Complex, em High River, na província canadense de Alberta, se inscreveu no curso em junho do ano passado, quando estava em lockdown em casa, com o marido e os dois filhos do casal.

"Não havia motivo para que eu não estivesse feliz", diz. "Meu casamento é maravilhoso. Tenho dois filhos. Meu emprego é bom, minha casa é confortável. Mas eu não conseguia encontrar a felicidade."

Desde que fez o curso, Morgan, 52, assumiu o compromisso de fazer três coisas a cada dia: praticar ioga por uma hora, caminhar um pouco ao ar livre, não importa quanto frio estivesse fazendo em Alberta, e anotar de três a cinco itens em seu diário de gratidão antes de dormir.

"Quando você começa a anotar essas coisas no final do dia, só pensa nelas naquele momento, mas quando a atividade se torna rotina, você começa a pensar nelas ao longo do dia", diz.

E alguns estudos demonstram que encontrar motivos para gratidão pode fazer com que a sensação de bem-estar mais amplo da pessoa aumente. Ewa Szypula, que leciona estudos franceses na Universidade de Nottingham, no Reino Unido, diz que estava interessada em técnicas de melhoria pessoal desde que começou a estudar para seu doutorado, alguns anos atrás.

"Mais ou menos no segundo ou terceiro ano do processo, você começa a se sentir esgotado, e precisa de estratégias para enfrentar as dificuldades", diz.

Um pequeno estudo mencionado no curso de Santos que a impressionou envolvia pesquisas com 632 americanos, para prever o quanto eles seriam felizes se gastassem US$ 5 (R$ 27) com eles mesmos ou se recebessem US$ 5, mas fossem instruídos a gastar esse dinheiro para o bem de outra pessoa.

No estudo, as pessoas previam que se sentiriam mais felizes caso fossem autorizadas a ficar com o dinheiro. Mas para a maioria dos participantes, a constatação posterior foi de que, na verdade, tinham ficado mais satisfeitos ao gastar dinheiro em benefício de outra pessoa.

Szypula teve a oportunidade de combinar o conhecimento que adquiriu no curso a uma experiência prática que conduziu no aniversário de sua irmã. Em lugar de ficar com um vestido caro que havia comprado, ela decidiu dá-lo de presente à irmã. "E, meses mais tarde, continuo a sentir felicidade por ter feito", diz.

Nem todas as pessoas que fizeram o curso se sentiram transformadas. Matt Nadel, 21, aluno de quarto ano em Yale, esteve entre os 1.200 estudantes que assistiram ao curso no campus em 2018. Ele diz que os rigores de Yale tornaram necessário um grande ajuste, quando ele começou na universidade no final de 2017.

"Eu estava estressado e não sabia exatamente de que maneira lidar com isso", diz. Nadel declarou que se sentiu decepcionado por o curso ser uma espécie de retomada do tipo óbvio de bom conselho que uma pessoa pode ouvir de sua avó: durma o bastante, tome muita água, faça o melhor que puder.

"Sei que dormir faz bem. Sei que minhas notas farão pouca diferença para minha felicidade a longo prazo, e que eu não seria uma pessoa melhor ou mais feliz por ter boas notas", diz. "Mas o curso afetou minha vida de maneira tangível, e a longo prazo? A resposta a essa pergunta é não."

Embora o curso não tenha mudado sua vida, Nadel diz que agora expressa mais a sua gratidão, quando a sente. "O que é ótimo", diz. "Mas isso é tudo [que tirei do curso]."

Kezie Nwachukwu, 22, também fez o curso em Yale. Ele tampouco considerou as aulas como revolucionárias, mas conseguiu extrair do que aprendeu algumas lições de valor duradouro. Nwachukwu, que se descreve como cristão, disse que a coisa mais importante que aprendeu foi sobre a importância da fé e da comunidade para a felicidade.

"Acho que eu estava enfrentando dificuldades para conciliar minha religião, e para interrogá-la intelectualmente", diz. "E também para reconhecer que realmente me agrada passar meu tempo em uma comunidade desse tipo, que acredito tenha feito de mim o que sou."

O curso mudou sua vida? Não. Mas certamente ajudou a torná-la mais afirmativa, diz. "O curso me ajudou a me sentir mais seguro e confortável com relação às minhas convicções religiosas preexistentes", afirma Nwachukwu.

Outra lição que perdurou, no caso dele, foi o valor da visualização negativa. Isso envolve pensar em alguma coisa boa em sua vida (como o apartamento lindo e razoavelmente barato em que a pessoa mora) e em seguida imaginar a pior possibilidade concebível (ver-se subitamente sem moradia e sem rede de proteção).

Se a gratidão não é algo que ocorre naturalmente, a visualização negativa pode ajudar uma pessoa a chegar a ela. "Isso é algo que realmente tento manter em meus pensamentos, especialmente quando minha mente se enreda ao pensar sobre futuros obstáculos", diz Nwachukwu.

"Tenho o dever de ser muito grato por tudo aquilo que tenho. Porque os seres humanos não são construídos de maneira a reparar nesse tipo de coisa."

Tradução de Paulo Migliacci

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