Viva Bem

Jovens e idosos atuam como voluntários para ajudar o próximo e elevar a própria autoestima

Desejo de ajudar pode desenvolver até novas habilidades

Marisa Rodrigues, ela é a idealizadora do projeto Cachecóis Fraternos, que confecciona peças e distribui em asilos da capital Rubens Cavallari/Folhapress

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Dedicar parte do nosso tempo a um serviço voluntário pode ser a chave para uma vida mais plena e com propósito. Não há uma regra para ser voluntário. O interessado define a atividade conforme sua disponibilidade de tempo e suas aptidões. Mas o desejo de ajudar o próximo às vezes é tão grande que é possível desenvolver novas habilidades para dar conta de um trabalho voluntário.

A comerciante Marisa Rodrigues dos Santos, 27, da Vila Mariana (zona sul de São Paulo), buscou por muito tempo uma atividade como voluntária, mas tinha dificuldade de conciliar seus horários com visitas frequentes a uma instituição. Isso, no entanto, não foi um impedimento para Marisa —pelo contrário.
Ela decidiu tomar a iniciativa e criou o projeto Cachecóis Fraternos, que entrega acessórios de inverno feitos por voluntárias para idosos em asilos da capital paulista. Visto que ela não sabia tricotar, o desafio não foi nada simples.

“Observei minha mãe tricotando e vi que eu poderia administrar o meu tempo fazendo essa atividade. A ideia era doar a quantidade de cachecóis que eu conseguisse fazer. Chegando próximo ao inverno de 2018, eu vi a possibilidade. Convidei amigas para conseguir atender um asilo. Muitas voluntárias toparam, e a rede começou a crescer”, conta.

Assim, o que era um projeto pessoal ganhou novas proporções, e hoje ela conta com mais de 70 voluntários, desde pessoas que confeccionam as peças até aquelas que doam lã e outros materiais.
“Na primeira entrega eu vi como era importante o cachecol ser novo e cheiroso, porque os idosos também adoram um presente sob medida”, brinca.

“Também notei a importância de não apenas entregar os cachecóis, mas aproveitar a companhia. Permanecer com eles no dia da entrega para também jogar conversa fora”, completa Marisa.
A idealizadora do projeto Cachecóis Voluntários se emociona ao lembrar de um caso específico, quando presenteou um senhor japonês de idade avançada e problemas na visão.

“Após tocar a lã e ver os tons mesclados de azul, ele começou a chorar e disse que aquele era o ‘azul do mar’. Foi um momento muito emocionante para mim, como pessoa e como voluntária.”

Superintendente da ONG Parceiros Voluntários —que atua para engajar pessoas e instituições —, José Alfredo Nahas afirma que aquele que se dedica a trabalhos voluntários acaba experimentando um processo de transformação na própria vida . Ele destaca, sobretudo, o valor da troca entre jovens e idosos.

“A principal fala de quem trabalha com idosos diz respeito ao aprendizado. Eles relatam ganhos em experiência, paciência e tolerância, além de um maior entendimento sobre a vida”, afirma. “Já o idoso [voluntário] conta que se sente melhor consigo mesmo e que acaba servindo de exemplo para sua família”, completa Nahas. 

De acordo com um estudo realizado pela ONG em parceria com a consultoria MGN, um dos motivos que leva uma pessoa acima dos 60 anos a atuar como voluntário é a busca por uma melhor autoestima. “Os mais velhos querem se sentir necessários”, conclui.

62 ANOS DE EXPERIÊNCIA COMO VOLUNTÁRIA

Aos 84 anos de idade, a paisagista Maria Luiza d’Orey Espírito Santo, moradora do Jardim Paulista (zona oeste da capital), conta que começou a fazer trabalhos voluntários em diversas frentes com 22 anos. 

Também conhecida como Dona Xinha, ela diz que tinha 59 anos quando entrou para a Liga Solidária, onde chegou a ser presidente. Longe das responsabilidades do cargo, ela hoje atua como conselheira da organização, que beneficia cerca de 13 mil crianças, adolescentes, adultos e idosos com projetos na área de educação.

“Ser voluntário é uma atitude. É perceber as diferenças e as injustiças e perceber que há pessoas sem oportunidades. O mundo é injusto. Percebi isso muito cedo e me dedico a amar o outro”, diz ela. “Amar é fazer o que o outro precisa. Neste mundo, o voluntariado é essencial. A gente melhora todos os dias como voluntário”.

Por conta da idade avançada, a paisagista lamenta que não consiga mais se dedicar ao voluntariado como antigamente, mas afirma que procura ajudar o próximo da forma como pode. “Ligar para as pessoas que estão sozinhas, por exemplo, é uma ação que eu posso fazer quietinha da minha casa. Isso me dá razão para existir. Fazer o outro feliz é algo que nos torna feliz.”

Maria Luiza drey Espirito Santo, paisagista e voluntaria, 84 anos, posa para foto em seu apartamento, no Jardins - Rivaldo Gomes/Folhapress
Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem