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Acordar às 2h30, como Mark Wahlberg, pode te tornar mais produtivo, mas há um custo

Mark Wahlberg
Mark Wahlberg - Reuters
 
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Descrição de chapéu BBC News Brasil
Bryan Lufkin

O ator americano Mark Wahlberg, duas vezes indicado ao Oscar, revelou recentemente que acorda às 2h30 todos os dias, iniciando uma rotina que inclui 90 minutos de treino, golfe, oração e recuperação em uma câmara criogênica. Às 19h30, ele já está na cama.

Mas Wahlberg não é a única celebridade que gosta de madrugar. O CEO da Apple, Tim Cook, se levanta às 3h45. Já o da Disney, Bob Iger, começa a se exercitar às 4h25, o que acabou por inspirar jogadores da NBA (a liga de basquete americana) a fazer o mesmo.

Nos perfis de líderes corporativos, muitas vezes há uma semelhança de discurso: se você quer ser bem-sucedido, levante-se cedo.

Isso quer dizer que todos nós devemos nos tornar hipermadrugadores? Ficaríamos mais produtivos? Pode ser que sim —mas há um custo. E possivelmente um desejo oculto de impressionar as pessoas com o quão "produtivos" somos ao acordar antes das galinhas.

À primeira vista, despertar-se às 2h30 pode indicar um dia extremamente longo —e sem tempo para dormir. Mas mesmo Wahlberg dorme respeitáveis sete horas por noite. 

Isso é importante para a produtividade: a falta de sono traz enormes prejuízos à saúde e à capacidade cognitiva.

Esse assunto foi investigado por dois pesquisadores americanos, Christopher Barnes e Gretchen Spreitzer, da Universidade de Washington e da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, respectivamente.

Spreitzer considera que, no caso de Wahlberg, o ator simplemente alterou —talvez de forma extrema— o horário em que acorda. E que, por isso, ficou mais "produtivo".

"Há algumas vantagens: você cria disciplina quando tem muito mais tempo para si mesmo —cumprir suas tarefas antes que a família toda se levante, antes que seus amigos queiram se encontrar com você", diz ela.

Mas ir para a cama tão cedo pode "sacrificar sua rede social e a capacidade de desenvolver fortes relacionamentos sociais", também importantes para uma boa saúde mental.

"Se você está indo para a cama às 19h30, está perdendo um monte de conversas agradáveis com a família ou atividades sociais com os amigos", acrescenta Spreitzer.

Mas você poderia ser geneticamente pré-disposto a madrugar?​

ACORDANDO COM AS GALINHAS

Nosso sono é guiado por padrões circadianos —ou seja, relógios internos de 24 horas que acionam o estado de alerta e a sonolência em intervalos regulares. Muitos tendem a acordar e a querer ir para a cama todos os dias à mesma hora —é por isso que o "jet lag" pode ser um choque para os nossos corpos quando viajamos a países de fusos horários diferentes.

Com base nesses padrões circadianos, os pesquisadores agrupam pessoas em dois grandes grupos: cotovias (madrugadores) e corujas (notívagos).

Barnes diz que há alguma variação natural em toda a população, mas que muitos de nós tendemos a ser cotovias quando crianças, nos tornamos corujas quando adolescentes e, à medida que envelhecemos, voltamos a madrugar.

Mas ele calcula que o número de pessoas que podem ser "supercotovias", ou seja, que naturalmente acordam às 2h30, como Mark Wahlberg, é extremamente pequeno.

"Psicológica e comportamentalmente, é melhor você combinar sua agenda com seu próprio ritmo circadiano natural", diz Barnes.

E algumas pessoas com rotinas extremas, como Wahlberg —que depois contam a todos sobre isso—, podem ser motivadas por uma razão diferente.

TENTANDO IMPRESSIONAR OS OUTROS

Mas por que tantas pessoas gostam de se gabar sobre o horário em que acordam? Pode ser simplesmente pela ilusão de que estão sendo produtivas. Além disso, muitas sociedades costumam discriminar quem acorda tarde.

Um estudo em 2014 analisou 120 adultos que trabalhavam e descobriu que aqueles que começavam a trabalhar mais tarde recebiam piores avaliações de desempenho de seus supervisores, que os consideravam menos responsáveis.

Além disso, chefes que eram "corujas" tinham menos probabilidade de avaliá-los negativamente do que os supervisores que eram "cotovias".

"Esse preconceito é real. Você é visto de maneira mais favorável (no trabalho) se começar o dia cedo", diz Barnes.

Em última análise, se quiser, você precisa ouvir o seu corpo, entender o que ele está dizendo e saber quando descansar. E, embora começar o seu dia mais cedo possa, de fato, torná-lo mais produtivo, pergunte-se por que você está fazendo isso: será que realmente preciso ser mais produtivo? Estou fazendo isso por mim ou pelos outros?

Seja qual for o motivo, sua saúde deve vir em primeiro lugar. "Quando você está com pouca energia e não se sente 100%, coisas ruins vão acontecer", conclui Barnes.

BBC News Brasil
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