Viva Bem

Saiba o que é sororidade e por que celebridades como Marília Mendonça lutam por essa causa

Mais conscientes do poder que têm juntas, mulheres deixam rivalidade

A analista Giovanna Gundim, 22, com camiseta “Garotas só querem direitos fundamentais” - Rivaldo Gomes/Folhapress
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São Paulo
Agora

No caminho de volta para casa, a pé, a produtora audiovisual Isabela Lima, 27, entrou em uma rua que lhe provocou insegurança: só havia homens no lugar. De repente, surgiu uma outra mulher ao lado dela e falou: “Moça, vem comigo!”.

Juntas, elas seguiram lado a lado por todo o caminho. “Fomos em silêncio, nada de forçar amizade. Respeitando nossa individualidade, mas garantindo uma à outra que caminhar junto é mais seguro”, diz Isabela.

Esse tipo de solidariedade e apoio mútuo entre mulheres é uma das facetas da sororidade, palavra nova, mas que tem sido muito usada e aplicada no último ano. O que ela significa? É a união feminina em busca de objetivos comuns, tendo como base a solidariedade e a empatia.

O conceito não aborda só questões de segurança. A proposta é combater também a rivalidade e o julgamento entre as mulheres. Como explica a pesquisadora Déborah De Mari, criadora do projeto Força Meninas, centrado na educação de crianças, a ideia de competição entre as mulheres começa já na infância e, por isso, deve ser combatida pelos pais e educadores.

“Infelizmente, essa rivalidade feminina está culturalmente inserida na nossa sociedade. Desde muito cedo, a menina aprende que tem que se comparar com outras meninas. Quando elas chegam ao quarto ou ao quinto ano [do Ensino Fundamental], a competição já está muito acirrada”, afirma.

​Déborah faz questão de ressaltar que sororidade não é gostar ou ser amiga de todas as mulheres. Mas respeitar e ter empatia, ou seja, conseguir se colocar na situação daquela mulher, sem julgá-la.

“É importante ensinar a apreciar e a exercitar esse respeito pelas diferenças, reforçando que cada pessoa é única”, diz Déborah. Ela também indica que as meninas sejam incentivadas a trabalhar em equipe, compartilhando conhecimentos.

A psicóloga e psicopedagoga Rayanne Campos acrescenta que competições entre elas não devem ser estimuladas. “O essencial é que todas nós possamos treinar um olhar mais carinhoso e atento para com as outras mulheres.”

É essa nova forma de ver que a analista de marketing Giovanna Gundim, 22 anos, tem buscado praticar desde que começou a pesquisar mais sobre a sororidade. Nas suas reflexões, ela percebeu como já fez julgamentos errados sobre outras mulheres. Um dos casos aconteceu depois que ela terminou um relacionamento não muito sério com um menino da escola.

“Uma semana depois, ele já estava com outra menina, e eu fiquei com muita raiva dela. O curioso é que com ele mesmo eu não fiquei brava. Hoje, pensando no que aconteceu, vejo que a menina não tinha nenhuma responsabilidade. Quem tinha compromisso comigo era ele.”

Tempos depois, ela viveu situação diferente. Uma mulher, ex-namorada do seu atual namorado, mandou uma mensagem pedindo desculpas pelos julgamentos que tinha feito sobre ela. “Foi um momento muito legal, em que eu tive certeza de que precisamos ser mais solidárias umas com as outras.”

No mundo das celebridades e da cultura, a sororidade também já se manifesta. A cantora Marília Mendonça lançou recentemente, em parceria com a dupla Maiara e Maraisa, a música “A Culpa É Dele”, que fala sobre o assunto. A letra relata como duas mulheres, que ficaram com um mesmo homem em uma festa, mantiveram a amizade.

O refrão diz: “Se quem tava comigo era ele, a culpa é dele. Quem fez essa bagunça na nossa amizade é ele. Eu não vou deixar de ser sua amiga por causa de um qualquer que não respeita uma mulher”.

Para Marília, a canção reforça a importância da união feminina. “Eu falo desse assunto [sororidade] com frequência, porque a mulher, pelo simples fato de ser mulher, enfrentou e enfrenta muitos obstáculos e ainda tem de lidar com essa rivalidade.”

Para Maiara, a competição feminina precisa ser superada. “Não há motivo para essa rivalidade”, afirma.
Na internet, muitos movimentos com o intuito de estimular a união feminina vêm surgindo e ganhando força. Um deles é o Vamos Juntas?, criado pela jornalista Babi Souza. O projeto nasceu focado na segurança, mas se expandiu para outras áreas, ressaltando que unidas as mulheres têm mais voz e poder.

A iniciativa destaca que, mesmo entre mulheres que não se conhecem, há uma identificação em questões que só são conhecidas e sentidas pelo público feminino. Exemplo disso é um dos lemas do movimento: “Só as mulheres entendem o alívio de olhar para trás e ver que a pessoa que está caminhando atrás de você é outra mulher”.


FIQUE POR DENTRO

O que é sororidade?
O termo vem da palavra latim “soror”, que significa irmã. A ideia é que as mulheres atuem de forma mais empática e solidária umas com as outras. E que elas possam se unir, porque juntas são mais fortes. Não significa gostar e ser amiga de todas as mulheres, mas respeitar e ajudar sempre que necessário, mesmo que se trate de uma desconhecida

É importante:

Oferecer ajuda ao ver uma mulher em situação de risco ou necessidade
Não ver a outra como inimiga ou concorrente pelo simples fato de ela ser mulher
Evitar julgar outras mulheres
Não culpar a nova mulher com que o ex-marido ou ex-namorado está pela traição dele ou por ele ter deixado de gostar de você
Incentivar outras mulheres e projetos femininos

Conheça alguns projetos
- Vamos juntas?

Começou com a ideia de incentivar as mulheres a andarem juntas em locais perigosos (ruas escuras, estações vazias) para se sentirem mais protegidas e seguras. Com o tempo, a iniciativa ampliou sua atuação e estimula a união feminina em busca de direitos iguais e mais segurança
http://www.movimentovamosjuntas.com.br/

- Mete a Colher
Aplicativo conecta mulheres que precisam de ajuda para sair de relacionamentos abusivos a outras que estão dispostas a oferecer auxílio psicológico, jurídico ou inserção no mercado de trabalho. Todas as mensagens são privadas e só mulheres podem se conectar. Disponível nos celulares com sistema Android
https://www.meteacolher.org/

- Empodere Duas Mulheres
Criado em 2015 como uma plataforma de união, empoderamento e acolhimento de mulheres. A ideia é desencorajar comportamentos autodestrutivos. A proposta acaba de virar livro “Empodere-se: 100 Desafios Feministas para Reconhecer a Própria Força e Viver Melhor” (Benvirá, 2018)
https://www.facebook.com/empodereduasmulheres/

- Garotas no poder
Página no Facebook em que mulheres trocam informações e indicações sobre vagas de trabalho
https://www.facebook.com/paginagarotasnopoder

- Rede Mulher Empreendedora (RME)
Plataforma de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil 
http://redemulherempreendedora.com.br/
 

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