Mooca preserva tradição, mas encanta pelos bons restaurantes, passeios e moradores apaixonados
Bairro da zona leste de São Paulo completou 462 anos na sexta (17)
A Mooca acaba de celebrar 462 anos de sua fundação, completados em 17 de agosto. É fácil se apaixonar pelo clima de cidade interiorana que domina o bairro da zona leste da capital e, mais simples ainda, compreender a devoção de seus moradores, que não trocam de vizinhança por nada.
Misto de tradição e novidades, a Mooca tem hino e bandeira, além do time de futebol Juventus, com torcida fiel às cores grená e branco. Além disso, conta com inúmeras opções de gastronomia e passeios.
O casal Leandro Testoni, 27, redator, e Jaqueline Prado, 27, química, adora assistir aos jogos do Juventus, segundo time do coração de ambos –ele é corintiano, e ela, palmeirense. "Moramos perto da rua Javari [onde fica o estádio] e adoramos ver os jogos, comer cannoli e torcer juntos", relata Testoni.
"Morava no Pari [centro] e, quando nos casamos, viemos morar na Mooca. Adorei! Aqui, as pessoas são
muito amistosas. Costumo dizer que o bairro parece um retiro dentro de São Paulo. E é bem completo”, completa.
Os ingressos para assistir aos jogos do Juventus custam R$ 50 para a parte coberta do estádio e R$ 20 para a arquibancada. Além das partidas, o Clube Juventus também oferece espaços de lazer e eventos sociais, como bailes, shows e aulas de dança, entre outros.
Também fã do Juventus, Henrique dos Santos Dias, 29, vende camisetas do clube há 15 anos e hoje cuida da loja Camiseteria di Mooca, ao lado do pai, Luis Roberto Ribeiro Dias, 54. "Comecei tingindo camisetas brancas de grená e vendendo para os amigos. Levou um tempo até ter a loja”, lembra Henrique, que também comercializa a bandeira do bairro (R$ 80).
Sobre a história da Mooca, engana-se quem acredita que o bairro teve início com a imigração italiana. Segundo José Geraldo Simões Junior, professor de arquitetura e urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a Mooca era povoada por famílias indígenas, na baixada do rio Tamanduateí, na época da fundação de São Paulo, em 1554.
Tanto que a origem do nome do bairro vem da língua tupi-guarani: ‘Moo’ e ‘oca’, que significa casa de parentes, segundo Simões Junior. Somente no século 19 é que os imigrantes, em especial os italianos, começaram a povoar a região.
Por volta de 1870, a mão de obra escrava começou a ser substituída pela de estrangeiros que chegavam a São Paulo. “A intenção era levar trabalhadores para as fazendas de café no interior do estado, mas muitos ficaram e se instalaram próximos à linha ferroviária”, diz Junior.
PASSEIO NO TEMPO
Um dos programas indicados para explorar o passado na Mooca é o passeio de maria-fumaça, que tem início na Mooca, passa pelo Brás e retorna ao ponto de partida. A locomotiva pertenceu à Central do Brasil e tem dois vagões: um da década de 1950, feito de aço carbono, e outro de madeira, da década de 1920. O passeio acontece todos os fins de semana.
Rogério Coutinho, 39, publicitário, embarcou na aventura com a mulher, Daniela Zini Ghazal Coutinho, 35, administradora, e com o filho, Bernardo Ghazal Coutinho, de um ano. Morador da Mooca, Coutinho é apaixonado pelo bairro e administra a página Viva Mooca no Instagram.
"O mooquense é bairrista”, declara. "Criei a página para divulgar fotos do bairro e, hoje, recebo mensagens de moradores para divulgar eventos e outras novidades."
Entre os moradores que lutam pela preservação da Mooca está a jornalista Elizabeth Florido, 54. Ela participou ativamente da proteção ao Cotonifício Rodolfo Crespi, antiga tecelagem e malharia de 1897, cujo terreno se espalha no quadrilátero entre a rua dos Trilhos, a Taquari, a Visconde de Laguna e
a Javari.
O prédio passou muito tempo vazio, até que surgiu o interesse de uma grande rede de supermercados em alugá-lo. “Em um domingo de manhã, vi que um trator estava destelhando o prédio e ia dar início a uma demolição. Chamei a polícia e comecei um diálogo com a empresa, ao lado de outros moradores da Mooca e de arquitetos renomados, para impedir que o prédio deixasse de ser o que era”, conta Elizabeth.
"Então, o projeto foi readaptado com a ajuda do Departamento de Patrimônio Histórico, e o Cotonifício não foi destruído”, lembra ela, orgulhosa. Preservar a arquitetura tradicional da Mooca, assim como seu passado industrial, é uma preocupação dos moradores –especialmente com a chegada de novos empreendimentos imobiliários. "É fundamental manter as casas históricas. Se não fizer isso, tudo acaba
e vira um outro bairro", diz Elizabeth.
O professor de língua portuguesa Pasquale Cipro Neto, 63, morou na Mooca durante a infância e a juventude. É torcedor do Juventus e se preocupa com o futuro do bairro. "Com tantas construções, talvez
esteja começando a perder o ar de cidade interiorana”, comenta.
Uma casa especial da Mooca é o Casarão do Vinil, inaugurado em 2014, que tem um charme peculiar. O lugar abriga mais de 70 mil discos de vinil à venda, de todos os gêneros musicais. O dono da loja, Manoel Jorge Diniz Dias, 63, conta que passou 15 anos comprando os ‘bolachões’ para revender. Os discos ali variam de R$ 10 a R$ 120, e há uma vitrola para testar a qualidade deles. “Devo abrir outra loja na mesma rua.”
Rodrigo Nogueira, 35, é mecânico e colecionador de discos compactos. “Venho ao Casarão três vezes por semana. Gosto de música brasileira”, diz.
AONDE IR
Clube Atlético Juventus
Na rua Javari, 117, Mooca, tel. (11) 2271-2000. Para conferir a programação acesse site do Clube Juventus
Camiseteria di Mooca
Na rua Visconde de Laguna, 152, Mooca, tel. (11) 2362-5905. De seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 9h às 18h; dom. (somente em dias de jogos do Juventus), das 9h às 13h
Casarão do Vinil
Na rua dos Trilhos, 1.212, Mooca, tel. (11) 2645-2808. Todos os dias, das 9h às 18h
Passeio na Maria-Fumaça
- No primeiro final de semana do mês, o trem sai da estação situada no Museu da Imigração na rua Visconde de Parnaíba, 1.316, Mooca, tel. (11) 2692-1866
- Nos demais finais de semana, sai da Estação Associação Brasileira de Preservação Ferroviária na rua Visconde de Parnaíba, 1.253, Mooca, tel. (11) 2695-1151
- Os passeios acontecem apenas aos finais de semana, de hora em hora, das 11h às 16h
Valores
- Passeio em carro da década de 1950: R$ 20 (estudantes e idosos pagam R$ 15)
- Passeio em carro de madeira da década de 1920: R$ 25 para todos
- Crianças de até 6 anos não pagam
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