Karen Jonz diz ser 'muito pior' fora da TV e que queria ter dito 'Fora, Bolsonaro'
Skatista comentarista da Globo quer usar visibilidade para emplacar projetos
Sucesso total nas transmissões de skate da SporTV nas Olimpíadas, a skatista e tetracampeã mundial Karen Jonz, 37, diz ser “muito pior” fora da TV do que dentro dela. Apesar de ter viralizado na internet por seus comentários engraçados e espontâneos, ela conta que se segurou muito em sua participação ao vivo e que, antes, ficou até com medo de "travar". Quem gostou do estilo de Karen terá a chance de vê-la novamente em ação nessas Olimpíadas, comentando a modalidade park, com início previsto para dia 3 de agosto.
“Sou muito pior do que isso, estava segurando muito na transmissão, pois falo muito palavrão, uns absurdos que só quem me conhece sabe. Como estou na Globo, eu não iria mandar um ‘Fora, Bolsonaro’, mas gostaria de ter mandado”, revela a skatista natural de Santos, no litoral paulista.
“Foi a primeira vez que comentei um evento. Nem sabia se eu iria conseguir. Foi melhor do que todo mundo esperava. Me surpreendi com essa fama. Estava com medo de ficar com vergonha e travar e não falar. E foi o contrário”, afirma.
Na cobertura da prova de skate street que consagrou Rayssa Leal, a Fadinha, 13, com a prata, Karen mostrou toda sua espontaneidade ao soltar um “xerecou” para no momento em que uma competidora australiana quase bateu as partes íntimas no corrimão após errar a manobra. “Olha, é ruim para os homens cair desse jeito, mas tenho que informar que para as mulheres também é”, emendou.
O comentário, inclusive, rendeu uma pequena bronca da direção da SporTV, como ela mesmo informou em suas redes sociais. Porém, não foi um puxão de orelha grande.
Em outro momento, soltou um “viado” no meio da transmissão. Resultado da empolgação com uma das manobras espetaculares da adolescente brasileira. A skatista também reparou que o narrador Sérgio Arenillas “falava diferente” quando estava filmando e quando não estava no ar. Na sequência, fez questão de ressaltar que ambos os jeitos “eram muito bons”.
“Fiz esse comentário do Sérgio, mas eu não consigo ser diferente quando estão me filmando, não sou personagem. Comento como se eu estivesse conversando. Não tenho formação, sou uma pessoa assistindo e falando o que vem à cabeça, mas com respeito sempre”, avalia.
As intervenções fora do comum continuaram. Sem filtro, ela se mostrou espantada pelo fato de as notas saírem antes para quem transmite do que para os próprios atletas. “Shhhh”, foi o que deu para ouvir após ela revelar essa informação, brincando que seria um segredo dos bastidores da transmissão.
Após a queda de uma outra skatista, Karen não se conteve. “Que trouxa, ela ficou parecendo um peixe morto de propósito para matar todos do coração. Não façam isso”, disparou.
Mas Karen ainda faria mais. Enquanto um dos integrantes da transmissão anunciava, na competição masculina, que um competidor era pai e que “pouco se falava em paternidade” nos Jogos, Karen deu uma retrucada. “Provavelmente eles deixam o filho com a mãe e vão andar [de skate].”
“Ninguém me instruiu a não falar alguma coisa, mas depois, conversando nos bastidores, vi que o pessoal tenta se manter mais neutro, não misturar com política, por exemplo. Eram coisas que iam aparecendo e eu ia comentando. Penso desse jeito, não foi roteirizado nem planejado”, afirma.
Karen é casada com o cantor Lucas Silveira, da banda Fresno, com quem já lançou músicas e covers. Com ele tem uma filha, Sky, de quatro anos. “O Lucas é vidrado em Olimpíadas. Ele ficou com olho colado enquanto eu estava na TV, a gente se falava durante inclusive”, relembra.
Karen Jonz se prepara para suas próximas aparições, nos dias 3 e 4 de agosto, em mais etapas do skate. Ela diz torcer para que mais gente vá para a frente da TV para acompanhar ela e a modalidade. Dessa forma, na visão dela, a cultura do esporte pode se tornar mais presente na vida do brasileiro.
E a exposição tem feito bem a ela. Karen conta que teve um aumento de cerca de 90 mil seguidores no Instagram e de 100 mil no Twitter. Agora, a ideia é usar essa visibilidade para emplacar projetos.
“Na internet eu compartilho bastante coisa sobre pautas que acredito e deixo meus posicionamentos bem claros. Gostaria que a exposição me ajudasse a captar recursos para fazer um documentário sobre skate feminino. Também dou aulas para mulheres adultas e queria apoio financeiro para expandir”, avalia.
Outro desejo dela é conseguir mais patrocínios para as mulheres no skate. “Eu mesmo não tenho nenhum patrocínio. Ainda estou na ativa. Espero que daqui para frente o skate se desenvolva e as atletas mães, as menos favorecidas, as pobres e negras que têm nível alto sejam mais enxergadas”, finaliza a comentarista, que já sonha em ser chamada para comentar as Olimpíadas da França em 2024.
DECISÃO DE NÃO IR ÀS OLIMPÍADAS
Especialista na modalidade vertical, que é quando o profissional anda numa pista em forma de “U” e faz manobras radicais no ar, Karen Jonz diz que até tentou mudar de estilo para competir nos Jogos de Tóquio. Nas Olimpíadas, a modalidade utilizada é o street, que usa de artifícios encontrados na rua como balcões e corrimãos.
Porém, segundo ela, não estava sendo saudável essa tentativa de mudança. “Não ir foi uma das decisões mais difíceis que tomei. Quando decidi mudar de estilo estava em período pós-parto com filha pequena, teria que deixar ela em casa e ir. Estava sem grana para pagar o investimento, pois não tenho patrocínio”, começa.
“Venho cuidando da minha saúde mental, tomava antidepressivo antes da Sky nascer. Entrei em processo de cuidar de mim e da cabeça. Mudei hábitos e faço tratamentos fitoterápicos. Antes eu estava no meu limite. Fui tetracampeã mundial e só queria me superar. Não estava bem de saúde mental”, revela.
Quando veio a pandemia isso tudo só confirmou o que Karen pensava. Na visão dela, ter ido ao Japão para andar numa modalidade na qual não é especialista e ainda com um vírus rolando no ar não seria a melhor escolha. Foi então que aconteceu o convite do Grupo Globo para ela virar comentarista.
Mas Karen diz que não parou de andar de skate. Nos últimos dois anos ela ficou na rotina de começar os treinos e dar uma pausa neles. Quando os casos de coronavírus aumentavam no país ela sempre decidia parar para retomar só quando o cenário mudasse.
Agora, ela conta que tem voltado a andar com prazer e sem a pressão de outros tempos. Novas competições, por enquanto, não passam pela cabeça dela. “Passei anos andando de skate para competir e isso coloca pressão de treinos e a diversão fica de lado. Quero apenas me divertir por enquanto”, define.
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