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Televisão

Daniel Munduruku diz que a palavra índio nega quem eles são de verdade

Autor indígena é um dos convidados do especial da Globo 'Falas da Terra'

Kunumi MC Globo

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São Paulo

Mostrar histórias reais e as várias maneiras de ser indígena no Brasil são as propostas do "Falas da Terra", especial que a Globo exibe nesta segunda (19), Dia do Índio no país, após o Big Brother Brasil 21.

A atração faz parte do Projeto Identidade. A ideia, segundo a emissora carioca, é levar para a televisão discussões de temas importantes vinculados a datas do calendário, a exemplo do "Falas Negras", exibido em 20 de novembro de 2020, Dia da Consciência Negra, e do "Falas Femininas", em 8 de março, Dia da Mulher.

No "Falas da Terra" serão apresentados 21 depoimentos em primeira pessoa. Cacique Raoni, uma das lideranças indígenas mais conhecidas do Brasil, é um dos participantes. O objetivo, diz a Globo, é mostrar ao público as histórias não só de quem vive afastado da cidade, perto da natureza, mas também de quem vive em grandes centros urbanos, e que não deixou para trás suas crenças, costumes e tradições.

Desta forma, médicos, artistas, biólogos, escritores premiados, youtubers, entre outros profissionais indígenas também participam do projeto. No especial, o escritor Daniel Munduruku, vencedor do prêmio Jabuti, defende que o Dia do Índio seja um dia de consciência indígena e não uma data de celebração que reforce estereótipos como, na visão dele, acontece atualmente.

"A palavra “índio” é uma ficção que foi introjetada na mente dos brasileiros pelo sistema oficial de ensino. É uma palavra que não diz quem somos, mas o que as pessoas acham que somos. Costumam nos chamar de preguiçosos, selvagens, atrasados e inúteis. Todos esses adjetivos estão dentro da palavra 'índio'. Ela nega o que somos porque assim aprendemos. Para que novos significados façam parte de nosso repertório, é necessário criarmos consciência do que os povos indígenas são, de verdade", diz Munduruku.

Daniel Munduruku no especial "Falas da Terra" - Globo

"Isso só é possível se abandonarmos o uso desta palavra como identificação e assumirmos que ela é, na verdade, negação. Não celebrar o dia 19 é, portanto, um ato de resistência contra a barbárie que nossos povos vivem", continua.

Outro indígena que está no especial é Werá Jequaka Mirim, mais conhecido como Kunumi MC, e que participou da cerimônia de abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Ele defende o uso da música como resistência.

Em suas letras de rap, o cantor protesta contra o desmatamento e a destruição do meio ambiente. "Para mim, a música cura nossa vida, espiritualmente falando. Tento usá-la para conscientizar as pessoas e espero que minha música chegue a muitos lugares do mundo, para que todos possam conhecer como é a vida, a realidade de uma aldeia, para que conheçam nossa força."

"O sentimento que compartilho com minha música é de respeito. Não tem como esconder a realidade do sofrimento do indígena, e a música também ajuda a mostrar isso", acrescenta o rapper.

Convidado do "Falas da Terra", o escritor Ailton Krenak, organizador da Aliança dos Povos da Floresta, é também consultor do especial. Ele participou da escolha dos personagens e da criação do projeto. Além dele, Ziel Karapató, artista e ativista; Graciela Guarani, cineasta; Olinda Tupinambá, jornalista e documentarista; e Alberto Alvarez, cineasta e realizador fizeram parte da equipe indígena realizadora da obra.

"Falas da Terra" tem direção artística de Antonia Prado, e roteiro assinado por Malu Vergueiro.


CONHEÇA OS PERSONAGENS DE 'FALAS DA TERRA':

Raoni Mektutire Kayapó (povo Kayapó): uma das maiores e mais respeitadas lideranças indígenas do Brasil, Cacique Raoni é conhecido internacionalmente por sua atuação na luta pela preservação da floresta e dos povos amazônicos.

Djuena Tikuna (povo Tikuna): é cantora do estado do Amazonas e foi a primeira indígena a protagonizar um espetáculo musical no Teatro Amazonas. Sua luta é pela preservação da cultura e da língua indígena através da música.

Elisa Pankararu (povo Pankararu): mestre em antropologia e uma das grandes representantes da causa feminina indígena que, além de lutar pelos direitos dessas mulheres, busca o reconhecimento dos indígenas urbanos.

Davi Kopenawa Yanomami (povo Yanomami): uma das mais respeitadas lideranças indígenas do Brasil, é membro da Academia Brasileira de Ciências. Sua luta é pelo respeito, direito à terra e preservação do meio ambiente através da ciência. Usa seus conhecimentos –oriundos da cultura indígena e sabedorias ancestrais de ervas medicinais e xamanismo– a serviço do desenvolvimento científico nacional.

Emerson Uýra: é bióloga e artista. Tem reconhecida atuação na luta pela preservação ambiental por meio da arte e pelo respeito à diversidade. Uýra se apresenta como uma “árvore que anda”, em referência ao seu conhecimento científico da biologia e das propriedades medicinais das plantas. Compartilha seu conhecimento em aulas de artes e biologia, performances artísticas, maquiagens, textos e instalações.

Alessandra Korap Munduruku (povo Munduruku): líder indígena, detentora do prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos (2020), é uma voz potente contra os grandes empreendimentos e o garimpo na bacia do rio Tapajós. É ativista contra a invasão dos territórios indígenas e a favor da demarcação das terras indígenas e preservação das florestas.

Ailton Krenak (povo Krenak): líder indígena, ambientalista, filósofo, escritor, poeta. A luta de Krenak pelo respeito ao indígena e pelo direito de ser índio no Brasil é conhecida nacional e internacionalmente. Krenak luta pelo direito do índio de interagir com o mundo não indígena sem perder o vínculo com a própria cultura.

Daniel Munduruku (povo Munduruku): é escritor e vencedor do prêmio Jabuti. Há anos, luta pela divulgação da cultura indígena e defende que ela deva acontecer principalmente por meio da educação. Daniel defende que o Dia do Índio seja um dia de consciência indígena e não uma data de celebração que reforça estereótipos, como acontece atualmente.

Kunumi MC (povo Guarani Mbyá): Werá Jequaka Mirim ficou conhecido internacionalmente como Kunumi MC quando participou da cerimônia de abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Sua principal luta é pela divulgação da cultura indígena e sua maior demonstração de resistência é pelo rap. Kunumi MC protesta em suas letras contra o desmatamento e a destruição do meio ambiente.

Dayana Molina: estilista e dona de uma marca de moda, Dayana luta pela divulgação da cultura indígena e pratica sua resistência através da moda. Sua luta maior é pela ocupação de espaços e preservação do meio ambiente.

Lian Gaia: é atriz e luta, por meio da arte, por mais espaços no teatro e no audiovisual para indígenas.

Myriam Krexu (povo Guarani Mbyá): médica, Myriam é a primeira cirurgiã cardiovascular indígena do Brasil. Sua luta é para que todo indígena tenha acesso a uma educação básica de qualidade, para que consiga chegar na universidade sem tantas dificuldades.

Fernanda Kaingang (povo Kaingang): advogada e mestre em direito público, Fernanda Kaingang enxerga o direito como arma de luta dos povos indígenas.

Beto Marubo (povo Marubo): uma das principais lideranças ativistas dos povos isolados do Brasil, Beto é membro da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari e do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato. Sua luta é pelo direito ao território, à proteção física e cultural e pela autonomia dos índios isolados.

Mapulu Kamaiurá (povo Kamaiurá): é a primeira pajé do Alto Xingu e uma das principais lideranças femininas indígenas brasileiras. Sua atuação em defesa dos indígenas é diversa e, entre outras frentes, inclui a preservação da floresta; da cultura indígena; seus costumes e valores ancestrais; saúde dos índios; e espaço da mulher na sociedade indígena.

Cristian Wariu (povo Xavante): indígena mato-grossense do povo Xavante, Cristian Wariu é youtuber e influenciador digital. Entre as principais razões que o levaram a criar seu canal no YouTube está a luta para desmistificar estereótipos e mostrar o que é ser índio no século 21.

Valdelice Verón Guarani Kaiowá (povo Guarani Kaiowá): liderança Guarani-Kaiowá, filha do líder assassinado, o Cacique Marcos Verón, é uma das principais porta-vozes de seu povo. Valdelice luta pelo direito à terra e à vida do povo Guarani-Kaiowá e dos demais povos indígenas.

Bruno Kaingang (povo Kaingang): primeiro indígena com título de doutor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele é professor do Instituto Estadual de Educação Indígena Angelo Manhká Miguel, que ajuda na formação de outros professores indígenas. Sua luta é pela valorização da educação indígena, pelo direito a uma escola indígena adequada aos valores e práticas das tantas etnias existentes no país. Ele é um grande defensor da importância dos rituais.

Maial Kayapó (povo Kayapó): ativista indígena, Maial luta pela valorização e preservação dos costumes e da cultura indígena, e enxerga a pintura corporal como uma identidade dos povos indígenas.

Fêtxawewe Tapuya Guajajara (povo Guajajara): estudante de ciências sociais na UNB (Universidade de Brasília), ela é uma das grandes jovens lideranças indígenas brasileiras. Filho do pajé Santxie Tapuya, assumiu o comando da comunidade indígena Santuário dos Pajés, em Brasília, após a morte do pai, em 2014. Acredita que o ativismo jovem traz questões novas e fundamentais para o movimento indígena.

Telma Taurepang (povo Taurepang): é coordenadora-geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), que representa 9 estados e 23 organizações de mulheres indígenas. Ela defende a importância da terra e das organizações indígenas.

"Falas da Terra"

  • Quando Seg. (19), às 23h45 (após o BBB)
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