Televisão

Angélica rebate críticas por falar de simplicidade: 'Sentimento não tem contracheque'

Apresentadora estreia Simples Assim, 1º programa que ajudou a criar

Angélica

Angélica João Miguel Júnior/Globo

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São Paulo

Angélica, 46, está zen. A apresentadora, que estava fora do ar desde o fim do Estrelas em 2018, volta à TV neste sábado (10) com o Simples Assim (Globo). Se antes ela entrava na intimidade dos famosos para revelar o que nos aproximava deles, agora ela convida anônimos a falarem sobre temas universais —como felicidade, amor e relacionamentos familiares—, com os quais qualquer um pode se identificar.

"É um programa que tem muito a ver com o momento que a gente está vivendo, em que algumas palavrinhas entraram na moda: empatia, sororidade, representatividade...", contou ao F5. "A gente quer que as pessoas tenham uma companhia no sábado à tarde para pensarem sobre essas questões, que se identifiquem com os temas, olhem para dentro e reflitam sobre o que realmente importa."

Na atração, cuja temporada inicial tem 12 episódios, serão apresentados dados sobre comportamento humano em forma de animações (feitas pela carioca Bianca Mol). Depois, o tema do dia será colocado em prática com experimentos sociais feitos com anônimos. Esquetes de humor também vão ilustrar outros aspectos da situação em questão.

Nesse último quadro, ela vai participar como atriz e também receber convidados como Marcos Caruso, Paulo Gustavo, Fábio Porchat e Ingrid Guimarães. "É uma forma de baixar um pouco meu desejo de atuar", confessou. "Acho uma delícia. Se você parar para olhar, quase todos os programas que eu fiz dei um jeito de colocar alguma dramatização. Nesse caso, é um jeito também de trazer o convidado para o assunto, porque ele sempre tem alguma história relacionada ao tema e nós conversamos depois sobre aquela situação."

E é muito diferente de entrevistar celebridades e anônimos? "Ah, o famoso já tem mais o costume, né? Eu acho que o sucesso do Estrelas se deve muito ao fato de que muitos deles já me conheciam, então tinha uma liberdade para conversar", comparou. "Com o anônimo, a princípio ele fica um pouco intimidado. É um exercício para eu deixar aquela pessoa mais à vontade possível."

Apesar da pesquisa extensa de personagens feita pela equipe do programa, ela diz que fica impressionada como as pessoas se abrem sem qualquer constrangimento sobre assuntos muito íntimos. "Acho que elas sentem falta desse espaço para falar, para serem de verdade, as pessoas vão de peito aberto", comentou. "E a internet ajudou muito. Está todo mundo com menos medo da câmera."

PANDEMIA

A apresentadora contou que a atração começou a ser gestada entre abril e maio de 2019. No final do ano passado, começaram a gravar os primeiros quadros, mas a pandemia interrompeu os planos por um tempo. "Já tinha muita coisa gravada, uns dois programas inteiros e vários quadros do terceiro e do quarto programas", revelou.

Por isso, na tela haverá o anúncio de que as imagens na rua e com muitas pessoas foram feitas antes do começo da quarentena. As gravações seguintes foram todas realizadas em estúdio, com apenas duas ou três pessoas no palco e as demais num telão. Desde o começo, não era planejado que haveria plateia, o que foi um problema a menos.

Por outro lado, a atração acabou ganhando novos significados. "Quando a gente viu que o programa, de alguma forma, era ideal para esse momento que a gente está vivendo foi muito legal. A gente está vivendo um momento em que as pessoas estão realmente numa busca interior e de olhar para o outro com solidariedade."

Apesar disso, quando as primeiras chamadas foram ao ar, algumas pessoas protestaram. A reclamação era de que Angélica, que é uma estrela da TV desde criança e não precisa se preocupar com fazer o salário durar até o final do mês, não era a pessoa adequada para falar sobre a simplicidade da vida.

"Eu fico impressionada porque a gente está vivendo uma cultura do ódio", rebateu ela. "As pessoas falarem que não combina é que não combina nem com o programa. A gente fala justamente o oposto disso, de você não julgar, de você ajudar..."

"Por mais que eu esteja —e eu consigo identificar isso— no meu lugar de privilegiada em um país desigual como é o nosso, eu posso olhar em volta também e sair do meu lugar quentinho e confortável", continuou. "E o que eu posso dar é o meu trabalho, que é o que eu sei fazer."

"A humanidade é o que une a gente, por mais que a gente seja diferente o básico é igual para todo mundo", avaliou. "Agora com a pandemia, por exemplo, falou-se muito que está todo mundo no mesmo barco. Não é bem assim, tem gente que nem barco tem. Cada um vai lidar da sua forma. Mas o sentimento, a coisa mais profunda, é igual para todo mundo."

Ela exemplificou com o tema de um dos programas: o amor de mãe. "Eu percebi que esse sentimento é comum em vários momentos da vida, mas foi fortíssimo depois do acidente do meu filho", contou sobre Benício, que em 2019 teve traumatismo cranioencefálico após se acidentar enquanto praticava wakeboard. "Eu recebi mensagem de gente que eu não conhecia, da mulher do empresário de São Paulo à diarista de uma amiga. O sentimento da mãe não tem contracheque."

CRIADORA

Angélica contou que esteve envolvida em todo o processo de criação do Simples Assim, tanto que a atração tem muito do que ela está vivendo. "O programa não fala de mim, não é sobre a minha vida, mas veio muito de um processo meu", explicou. "As minhas questões foram a inspiração. São angústias que comecei a ter há muitos anos já."

Ela identifica um ponto de partida bem definido para esse processo. "Acho que desde o acidente do avião passei a prestar mais atenção em coisas que não prestava antes", disse referindo-se ao pouso forçado da aeronave em que ela estava com o marido Luciano Huck, 49, e com os filhos e duas babás, em 2015. Todos saíram sem ferimentos graves.

"Depois disso, eu tive síndrome do pânico e fui buscar ferramentas com a meditação transcendental e o ioga", comentou. "Isso me curou dessa hiperventilação que eu tinha na época e foi me cativando cada vez mais. E eu acho que coincidiu também com outras angústias."

Após apresentar infantis e formatos já prontos, ela pôde colocar a mão na massa desde o começo. "É novo para mim isso de assinar a criação do programa", comentou. "Sem saber, eu acho que percebi que era um momento que eu precisava realmente dessa novidade. Tem um prazer maior de fazer porque é como se você fosse manufaturado aquela atração, é quase artesanal."

A apresentadora também contou como foi ficar, pela primeira vez em muitos anos, fora do ar. "O Estrelas já tinha 15 anos e a gente decidiu que era o momento dele acabar", contou. "Então, eu tive essa encomenda da Globo de pensar num projeto que eu quisesse fazer, algo que eu nunca tinha feito. Eu tinha tempo para fazer. Nos seis primeiros meses, eu não fiz quase nada. Só mandava uma sugestão aqui ou ali."

Porém, essa pausa foi mais do que necessária para alguém que nunca parou depois que começou a apresentar programas aos 13 anos (fora os diversos trabalhos desde que foi eleita a criança mais bonita do Brasil no programa do Chacrinha, em 1979).

"Teve várias especulações sobre eu estar fora do ar, mas eu estava de boa, feliz de estar em casa curtindo uma fase que eu nunca tinha vivido até então", avaliou. "Claro que no momento eu não percebi, mas foi um tempo muito necessário. Eu não sabia nem que existia isso de ter paz."

"Eu costumo dizer que a minha quarentena começou bem antes", brincou. "E foi muito bom porque consegui estudar as coisas que eu gostava, consegui acordar a hora que eu queria, me fez bem estar com os meus filhos, com os meus amigos, ver uma série com o meu marido..."

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