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Caco Ciocler diz que reprise de 'Novo Mundo' é oportuna ao lembrar origem escravocrata do Brasil

'É uma história que fala de algumas questões que se arrastam até os dias de hoje', afirma

Caco Ciocler como Peter em 'Novo Mundo' - Raquel Cunha/Globo
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São Paulo

O ator Caco Ciocler, 48, que interpreta o idealista dr. Peter em "Novo Mundo", diz que o momento é muito oportuno para a reprise da novela de 2017 na Globo. "É uma história que fala das nossas origens, da nossa origem escravocrata, da origem da nossa elite, do nosso povo, de algumas questões que se arrastam até os dias de hoje."

Em entrevista, ele relembra cenas da trama e fala da importância que o personagem teve na sua carreira. "Foi um personagem muito gostoso de fazer, um dos mais agradáveis, instigantes e bonitos", diz.

Ciocler comenta também sobre o projeto Lista Fortes, que criou durante o isolamento social, como forma de divulgar empresas que estão contribuindo no combate à pandemia. Ele revela ainda que terminou o primeiro semestre da faculdade de biologia, e fez uma série de reparos em sua casa durante a quarentena. Leia os principais trechos a seguir:

Reprise

"Adorei o fato de 'Novo Mundo' ter sido escolhida porque ela não passou há tento tempo. Foi uma novela deliciosa de fazer. Faz todo o sentido ela voltar agora, e não só porque a próxima [Nos Tempos do Imperador] é a continuação dessa história. Faz sentido porque a gente vive um momento no Brasil em que rever a nossa própria história é muito importante. Uma história que fala das nossas origens, da nossa origem escravocrata, da origem da nossa elite, do nosso povo, de algumas questões que se arrastam até os dias de hoje. Acho super oportuno que ela volte nesse momento."


Importância do dr. Peter

"Todos os personagens são importantes. Digo isso sem nenhuma tentativa de enrolação, mas é um fato, porque os grandes sucessos e os fracassos ensinam muito. Os personagens que tiveram aceitação mediana ensinam muito, e com o dr. Peter não foi diferente. Um personagem de difícil construção, muito idealista. Foi muito importante e me ensinou muito, sempre tive sorte de trabalhar com grandes parcerias de cena. E em 'Novo Mundo' isso se repetiu. Foi um personagem muito gostoso de fazer, um dos mais agradáveis, instigantes e bonitos de fazer, mais idealista. Teve uma importância afetiva muito grande."


Cena que gostaria de rever

"Eu tenho uma memória péssima, mas a primeira cena que me vem na cabeça com essa pergunta é uma em que Amália (Vanessa Gerbelli) corta o cabelo do Peter. Eu lembro que foi uma coisa que eu achava importante, que eu pedi para a direção, para os autores...porque o Peter estava vivendo uma paixão pela primeira vez na vida. E quando a novela começou eles tinham me dito que os personagens seriam idealistas, que teriam deixado toda a sua fortuna no país de origem, que teriam perdido o seu dinheiro em nome da medicina. Ele aceitava frutas e presentes como pagamento. A caracterização dele foi sempre para um lugar meio de pouca higiene, poucas posses. Um cara não preocupado com sua vaidade, mas sempre com o outro. Achei muito bonito, que fosse muito simbólico e importante para esse personagem que quando ele se visse apaixonado pela primeira vez se preocupasse com a sua vaidade, sabe? Mas eu estava caracterizado de uma maneira que não correspondia a isso, então a solução que a gente achou foi que a Amália pedisse para ele cortar ou cortasse para ele um pouco a barba, o cabelo. Gostaria de ver essa cena de novo."

Cena difícil

"Engraçado isso. Sempre acho que as cenas mais difíceis são as que não nos dão muito material. Normalmente as pessoas falam das cenas mais importantes, que exigiram mais emoção. Nesse sentido, tem uma cena em que ele perde a Amália porque faz uma besteira. Foi difícil porque era um sofrimento de um adulto, mas que estava passando por aquilo pela primeira vez na vida. Um lugar muito bonito, puro. Poderia dizer que foi a mais difícil. Por outro lado, quanto mais complexa é a cena, mas fácil ela é. Eu acho mais difícil as cenas cotidianas, que não querem dizer nada. Engraçado que o personagem era médico, mas naquela época não existia tanto conhecimento, então para quase tudo ele receitava chá de flor de laranjeira. Eram as cenas mais difíceis de sustentar quando chamavam o dr. Peter para uma emergência e ele receitava o chá. Ele é um medico, foi chamado para a função, pro imaginário atual ele soava como um mau médico porque a solução era sempre repouso, banho e chá de flor de laranjeira. Era o que se fazia na época. Não estava errado, mas para mim eram as mais difíceis."

Momento com carinho

"Ele era um personagem muito gostoso. Personagem do bem, idealista. As cenas com mais carinho eram as que ele ajudava o Piatã (Rodrigo Simas) e com a Amália, sem dúvida. Ele tinha uma compaixão pelo Piatã. Também as cenas de amizade dele com o Libério (Felipe Silcler), que trabalhava com ele no jornal. Cenas em que o Peter incentivava os amigos afetivamente, e a luta por um Brasil mais justo, contra escravidão. Essas cenas eram muito gostosas."


Público

"Com o isolamento social, sinto que mais gente tem a possibilidade de acompanhar a novela agora. Gente que não conhecia a história, não conhecia a novela. Sinto que ela renasce para um público que não está acostumado com a novela das seis. A resposta do que tive é sempre muito feliz e positiva."

Característica do personagem

"Acho que o Peter era um personagem largado, fisicamente esquisito, que não se encaixava, um estrangeiro. Era importante isso, que ele fosse de certa maneira desajeitado porque não fazia parte daquele mundo, com aquele calor que não estava acostumado, sem conseguir deixar aquelas roupas quentes, que ele usava na Europa. Era preciso manter uma esquisitice, mas sempre fiz questão de imprimir nele uma luz, sempre achei que fosse um personagem de luz e é muito legal ver anos depois como são as cenas que mais gosto. Esse foi o aprendizado que o Peter me trouxe, a importância da luz."

Dias de isolamento

"No começo da pandemia fui absolutamente invadido por um projeto que criei, chamado Lista Fortes. Um movimento que eu consegui criar de incentivo às empresas que ajudassem, que fizessem alguma contribuição positiva e significativa no combate à pandemia ou seus efeitos. Convoquei alguns colegas, assim como, eu para disponibilizarem suas redes sociais para divulgar a ação de toda e qualquer empresa significativa. Isso depois virou a Lista Fortes Brasil que previa a doação de ao menos 1% do lucro líquido das empresas de 2019. Durante um bom tempo isso tomou um tamanho que eu jamais imaginei. E paralelamente a isso eu me ocupei com o meu primeiro semestre da faculdade de biologia. Eu tinha entrado neste curso semipresencial antes da pandemia começar, então eles mudaram algumas matérias e esse primeiro semestre inteiro foi de matérias que não precisariam ser presenciais. Cumpri o primeiro semestre da faculdade, e ocupei-me com minha própria casa depois. Sempre trabalhei muito, então fui vendo que minha casa precisava de uma série de reparos hidráulicos, elétricos, pintar parede, envernizar as madeiras, limpezas e pequenos consertos. Fiz tudo isso sozinho. Aprendi a fazer isso. Os próprios cuidados da casa me ocupam bastante no dia. Manter a casa limpa, cozinhar, fiz uma horta, uma pequena hortinha. Tenho vários projetos. Existem várias tentativas de pessoas tentando criar linguagens e possibilidades de continuar trabalhando. E eu sou chamado para alguns deles."


Projetos antes da Pandemia

"Eu estava ensaiando uma peça com o coletivo Ultralíricos, dirigido pelo Felipe Hirsch. A gente estava fazendo um espetáculo baseado numa canção do Tom Zé., que estava compondo outras três canções inéditas pro espetáculo. Era um musical chamado 'Língua Brasileira'. Falava um pouco sobre a formação da língua brasileira. E a gente interrompeu os ensaios, digamos assim, a uma semana da estreia. Já estávamos nos ensaios gerais, já no palco. Antes a gente já estava vendo que provavelmente o isolamento seria decretado, mas a gente segurou até quando conseguiu, até quando pode. A gente não sabe quando será possível voltar."

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